Agora que caminhamos para as eleições legislativas
vão surgindo sondagens…para todos os gostos e sensibilidades, tenham os
atingidos a intenção de se deixarem guiar por elas.
Vejamos dados das fichas dos seus autores.
– Uma, feita de 24 de agosto a 5 de setembro,
inquiriu 801 entrevistados… Fundada nos trabalhos do ISCTE, mas para o ‘grupo
impresa’. Dá forte vitória a quem governa. Serão estes oitocentos
significativos e assim tão representativos? Que valem estes e não outros
não-inquiridos?
– Outra (‘eurosondagem’) já auscultou 1.022
entrevistados, entre os dias 7 a 12 de setembro… Sendo novamente favorável às
forças de mando. Mas serão pouco mais de mil inquiridos – mesmo que distribuídos
mais ou menos por regiões e sexos – os mais credíveis para que outros sigam (ou
possam seguir) a tendência (dita) aleatória? Diga-se mais parece alienatória, com
origem no termo ‘alienado’ e/ou sem nexo…
– Ainda outra – ‘intercampus’ – com 801 entrevistas
telefónicas, recolhidas entre 2 e 11 de setembro, continua a acentuar a vitória
de um leque de forças mais ou menos ligado à solução governativa anterior…Será
que as oito centenas são uma cifra que dá para aquilatar todos os milhões de
votantes? Não será isto mais uma manipulação barata?
= Ao querer abordar este tema das sondagens quis ler
com atenção as fichas técnicas e sobretudo o leque das pretensas pessoas
auscultadas. Com efeito, não podemos dizer que os resultados vão num certo
sentido, se os dados introduzidos forem viciados ou razoavelmente manipulados. Nesta
fase da condução do processo eleitoral as sondagens são o melhor exemplo de
‘falsa notícia’, pois se faz depender um hipotético resultado de uma condução
falaciosa dos objetivos.
Cuide-se quem pretenda que possa haver objetividade
e independência em quem analisa os dados das sondagens. Nalguns casos é tão
evidente o quadro ideológico que nem o mais desatento ficará admirado de que se
faça uma leitura favorável a quem manda, não poupando nos adjetivos, esses que
sabem que devem reger-se por substantivos…os tais jornalistas – ou serão mais
jornaleiros pagos para conduzir e não para informar? – tão useiros e vezeiros
noutras ocasiões… Porque será que mais tarde – após os atos eleitorais – aparecem
nos gabinetes de imprensa ou nas áreas de comunicação (disfarçados de
assessores), quando são atingidos os lugares almejados?
Com que destreza se têm exaltado qualidades a quem
pouco mais fez do que usar os outros para atingir os seus objetivos. Com que
habilidade se vendem produtos eleitorais como se fossem doses de saldo, quando
se apresenta uma coisa e se rateia outra. Com que subtileza se não deixa
perceber as falsidades, embora camufladas por artimanhas de segunda categoria.
Efetivamente os dados apresentados nas fichas das sondagens
sofrem da mesma complexidade dos articulados dos ‘seguros e afins’, pois a
letras pequeninas dizem, mas não é possível lê-las, tal a fastidiosidade diante
das condições e das consequências…Por isso, mais vale atirar para o ar com
dados que poucos vão aferir e, assim, se dá a impressão que a vitória está
garantida por antecipação.
Este artifício tem resultado nalguns casos e,
posteriormente, desmentido pelos votos em tantos outros, criando, deste modo, o
suave descrédito de muitas das sondagens…
= Seja qual for o resultado das eleições do próximo dia
6 de outubro, será um momento a respeitar por quem perder e, sobretudo, por
quem ganhar, pois, é na vitória que se vê o estofo de quem se superioriza, na
medida em que, em breve, lá para 2021 – por ocasião das eleições autárquicas –
estaremos a viver uma crise idêntica à de 2011 e os sorrisos da noite de
vitória deste ano converter-se-ão em lágrimas muito duras e amargas… O pântano
vai voltar e o atoleiro será mais grave do que as reversões por agora aplaudidas.
As sondagens não ganham eleições – embora as possa
condicionar – e o foguetório de hoje pode ser as agruras do amanhã. A verdade
nunca nos engana, enquanto a ilusão traz amargos sempre que por ela nos
deixamos conduzir…Mais ilusões, não, obrigado!
António Sílvio Couto
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