A guerra está lançada: pela lei e pela ordem vemos uns
tantos anti-fumadores mais assanhados envoltos em combater as pontas de
cigarros lançadas ao chão, tendo sido aprovado mesmo multas – de vinte e cinco
a duzentos e cinquenta euros – para com os infratores apanhados em
transgressão.
Desde logo será benéfico apresentar os termos usados
e sinónimos para designar os restos de cigarro (e afins) após serem fumados:
pirisca, prisca, purisca, beata… Na maior parte dos casos é difícil encontrar a
definição (mais ou menos descritiva) destes termos, sobretudo o de ‘beata’,
atribuído para designar o resto de cigarro não fumado…podendo ter alguma
conotação menos apreciada sobre o fumegar de algo que esteve a arder ou ainda o
que sobeja de não-consumido… Daquilo que tentei perceber poderá não ser coisa
muito boa e tão pouco digna de ser referida!
Vejamos, então, aspetos que podem contribuir para
que esta campanha contra os restos de cigarro possa ser mais do que um
arregimentar de certos tiques de fundamentalismo um tanto ressabiado por uma
parte da população para com outra.
*
Educar para o civismo – efetivamente deitar as pontas dos cigarros
para o chão ou para qualquer outro lugar passa, antes de mais, por um processo
de educação, na medida em que não temos direito de sujeitar os outros a
receberem o lixo que produzimos. Isto bebe-se desde criança e passará muito
mais por ensinar do que por punir. Mal vai uma sociedade que se rege pela
repressão, mas se for preciso também terá de ser desencadeada sem medo nem
preconceitos.
*
Consciência ecológica – de facto temos de saber que vivemos numa casa-comum
que é o espaço da natureza e em sociedade que tem regras. Todos estamos já a
colher os desmandos de uns tantos sobre o resto. Segundo dados conhecidos a
repercussão dos restos de cigarros na água do mar pode ir até vinte anos e têm
sido retiradas toneladas desses restos, quais dejetos humanos não solúveis.
*
Promoção da saúde pública – depois da implementação da proibição de fumar
em recintos fechados, temos de continuar a salvaguardar a saúde de todos
perante o vício de alguns. Dizem que temos quase um terço da população como
fumadores em Portugal e, de entre estes, nota-se um recrudescimento na faixa
mais nova e mesmo das mulheres. Algo vai mal perante os avisos feitos. Algo
precisa de ser melhor atendido, até para além do preço (nalguns casos
exorbitante) do tabaco, sem esquecer a falácia do ‘cigarro eletrónico’ que
parece ser tanto ou mais prejudicial do que o convencional.
Algumas das iniciativas tomadas depois desta
efervescência anti-cigarro não passam de ações de fachada e quase pitorescas,
pois andar a recolher pontas de cigarros mais parece que pretendem incorrer em
risco de apanhar (ou ser apanhado) alguma doença do que em resolver o problema
de fundo de uma boa parte dos fumadores: o respeito pelos outros e a devida
proporcionalidade em serem cidadãos que não-ofendem quem não deseja – nem
precisa – fumar. Por onde andará a liberdade alheia, se lhe impusermos a nossa?
Para onde caminha uma sociedade onde uma minoria se acha no direito de
sacrificar os outros com os seus prazeres e vícios? Até onde deve ir a
tolerância para com os fumadores, se estes não tiverem compreensão para com os
que o não são nem querem ser?
Precisamos de reaprender a convivência em sociedade,
criando espaços livres de fumo e das regalias pessoais que lhe estão adstritas.
Num tempo que se pretende norteado pela convivialidade, urge fomentar, cada vez
mais e melhor, lugares que não sejam conspurcados com certas má-criações,
venham elas dos fumadores ou dos não-fumadores. Não aconteça sermos muito
defensores da natureza e dos animais, mas não cuidamos do lixo que produzimos…
dizem os números que é 1,3 quilos por dia, em Portugal.
Será a começar nas pequenas coisas que havemos de
dar passos mais largos na defesa, conservação e embelezamento desta casa-comum
que é o Planeta. Se cada um de nós limpasse até um metro em frente à sua porta,
tudo estaria mais limpo e asseado!
António Sílvio Couto
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