Greta
Thunberg é uma cidadã sueca de dezasseis anos que anda nas bocas do mundo:
levantou a voz para denunciar o caminho – em seu entendimento – para onde vai o
curso do Planeta Terra, tentando corrigir os atalhos por onde vão as alterações
climáticas.
Tal como
noutras situações assim neste caso se têm gerado vozes de aplauso – nalgumas
circunstâncias num teor quase fundamentalista – e outras de menos bom apreço
pela ousadia em curso.
A sua
mais recente intervenção pública – nas Nações Unidas, em Nova Iorque, no dia 23
deste mês – trouxe à liça várias questões, alçou certos problemas e criou
algumas preocupações/suspeitas.
Uma das
primeiras reações foi deixada pelo controverso presidente norte-americano.
Donald Trump questionou se aquela oradora manifestava um ar de pessoa
(adolescente) feliz e equilibrada. Outros deixaram suspeitas sobre o ar
crispado e duro do rosto da interveniente. Outros ainda não se contiveram sobre
as motivações mais profundas desta ‘bandeira’ anti tanta coisa em que se foi
tornando Greta.
O seu
percurso ecologista – se assim se pode designar o âmbito da sua intervenção –
é, no entanto, breve. Começou com uma composição sobre o ambiente, publicada no
seu país natal. Logo mentores da luta contra a crise climática a contataram e
fizeram dela uma bandeira, onde se podem contar a primeira greve escolar pelo
clima, tomadas de posição à porta do parlamento sueco, no congresso dos EUA,
intervenções em diversas cimeiras, entre as quais a recente do clima.
Uma das
frases mais citadas da sua comunicação na ONU foi: ‘roubaram os meus sonhos e a
minha infância com as vossas palavras vazias’ – disse ela, dirigindo aos
responsáveis mundiais presentes na sala ou aos dispersos pelo mundo inteiro.
A maior
parte dos comentários ao que Greta disse não está no conteúdo, mas na forma
agressiva, tensa e ríspida como proferiu as denúncias. Como pode uma
adolescente andar de terra-em-terra, quando devia estar na escola? A quem
aproveita tal protagonismo? Os pais – ele ator e ela cantora de ópera – serão
cúmplices ou beneficiários desta exposição da filha? As exigências que faz de
não se deslocar de avião a quem servem de propaganda? A mobilização geral para
protestos pela salvaguardar do Planeta será, assim, tão natural como dizem ou
será manipulada por forças (ditas) ecologistas, eivadas de complexos de
esquerda radical?
= Há, de
facto, mudanças muito rápidas na configuração do nosso Planeta: eventos climatéricos
extremos, ciclones, cheias, secas, desertificação, migrações, fomes, conflitos
e guerras…são hoje consequências das alterações climáticas. Diante dos
fenómenos já verificados, começam a ouvir-se vozes de muito mau agoiro: até
2050 estima-se que cerca de duzentos milhões de pessoas sejam migrantes ou
deslocados devido às razões climáticas.
Não
adianta muito continuarmos a resmungar contra a mudança do tempo, pois muitos
são efeitos da pretensa qualidade de vida, dos melhores salários, dos ganhos no
poder de compra e até mesmo nos confortos adquiridos sem olhar a meios. Será
que estaríamos disponíveis para prescindir de alguns desses benefícios, só pela
bondade para com a natureza? Não andaremos a contestar aquilo que levou tanto
tempo a conquistar, sabe lá a que preço e com que meios?
As
bizarrias – ou assim soaram nas notícias – de certos académicos fazem rir, mas
mudam alguma coisa de substancial? Querem trocar a carne de vaca por pílulas de
B12? Que há de sério em tais propostas, quando estas são discutidas sob o
efeito do ar condicionado? Não será este mais maléfico do que as ousadias ‘ecologistas’
atiradas para o público sem enquadramento nem correta explicação?
Tudo se
tornaria mais claro se a Greta for atribuído o ‘prémio nobel da paz’. Este
quase sempre perpassa pelas franjas esquerdistas de algumas tendências internacionais.
Isso permitiria retirar a máscara com que esta militante pro-ecológica, tão bem
aproveitada por certos populismos canhotos, que usam e abusam das matérias
fraturantes para se dizerem progressistas e lutadores.
Mal irá
a dança se continuarmos a ser intoxicados por forças que se dizem democratas,
mas que não respeitam quem pensa, atua e vive de forma diferente da deles/as…
António Sílvio Couto
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