Se
dividirmos o país em hipotéticas ‘regiões’ veremos a distribuição de setores
profissionais mais significativos em cada uma delas do seguinte modo: norte –
411 mil na indústria; centro – 246 mil na administração pública; área
metropolitana de Lisboa – 432 mil no comércio; Alentejo – noventa mil na
administração pública; Algarve – 83 mil no comércio; Madeira e Açores – 38 mil
e 45 mil, respetivamente, ainda na administração pública.
O vetor
‘comércio’ inclui comércio retalhista e grossista, transportes, alojamento,
alimentação e comunicação. Por seu turno, a ‘administração pública’ envolve as
áreas da defesa, da educação, da saúde e do trabalho social. A administração
pública com mais de quatrocentos mil ocupados, enquanto o comércio (com a
multiplicidade de empregos) com mais de meio milhão de ocupados são as
atividades mais representativas das profissões no nosso país.
Segundo
um estudo publicado recentemente, pode-se aferir ainda que a zona onde cada um
vive – que cada vez mais é diferente daquela onde se nasceu – condiciona a área
profissional em que trabalha. Assim, residir ao norte do Douro talvez leve a
que se trabalhe na indústria, enquanto quem estiver no Alentejo se incline para
a agricultura ou no Algarve para o comércio, alojamento ou restauração… Sempre
haverá possíveis e razoáveis exceções.
Ao
nível europeu a maior fatia de ocupação cifra-se na administração pública, com
um terço dos empregados, seguem-se as atividades relacionadas com o ‘comércio’
(segundo a discrição supra usada) com mais de um quarto das pessoas, enquanto
dezasseis por cento se ocupam nas áreas financeira e de seguros, imobiliário,
serviços administrativos e de apoio. A agricultura, as florestas e as pescas
reduzem-se a serem ocupações quase residuais com menos de cinco por cento dos
empregados europeus… Estes mesmos setores profissionais quase atingem dez por
cento em Portugal. Por seu turno, na indústria, ao nível europeu, trabalham
pouco mais de quinze por cento dos cidadãos.
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Diante desta panóplia de situações e, tendo, em conta as contingências do nosso
tempo, não será fácil de aferir se ainda há alguém que diga qual é a sua
profissão, tantas foram as atividades em que já teve de se readaptar a novas e
complexas vivências.
Antes
de exercer qualquer profissão é preciso ter claro qual é o significado humano
do trabalho, pois trabalhar sem sentido de vida poderá parecer uma ofensa à
própria dignidade da pessoa humana, seja qual for o modo de o concretizar.
Recordemos
o que diz o Catecismo da Igreja católica sobre o valor do trabalho humano: «No trabalho, a pessoa exerce e realiza uma parte das capacidades inscritas
em sua natureza. O valor primordial do trabalho está ligado ao próprio homem,
que é seu autor e destinatário. O trabalho é para o homem, e não o homem para o
trabalho. Cada um deve poder tirar do trabalho os meios de subsistência, para
si e para os seus, e a possibilidade de servir a comunidade humana» (n.º 2428).
Que
desgraçado seria quem tivesse de trabalhar só para comer. Que infeliz seria
quem sentisse que trabalhar é um castigo e não uma forma de realização da própria
pessoa. Que tragédia seria que o trabalho de cada dia não fosse visto, sentido
e vivido como uma forma de continuar a obra cocriadora com Deus, mas um projeto
onde Ele não entra nem conta.
Ora o
exercício de uma profissão não passa de alguém ser trabalhador e de colaborar
com Deus. Por isso, não há profissões mais ou menos dignas, todas fazem parte
do serviço humano de uns aos outros e nem a ‘paga’ do trabalho – chamemos-lhe ‘salário’
– poderá ser considerada uma instância de desdignificação de ninguém e muito
menos dos que ganham menos pelo trabalho executado, por vezes, com mais esforço
e sentido de entrega altruísta.
Considero
uma perfeita aberração esse estribilho marxista de ‘salário igual a trabalho
igual’, pois temos de ter em conta a amplitude de repercussões do pagamento de
um determinado trabalho, atendendo ao âmbito familiar, de recursos e de
compromissos na esfera, sobretudo, da família. A justiça, neste campo concreto
do trabalho remunerado, não pode ser cega nem míope para com os direitos e
deveres dos cidadãos.
António Sílvio Couto
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