Partilha de perspectivas... tanto quanto atualizadas.



quarta-feira, 10 de julho de 2019

Vício do jogo gasta 8,5 milhões por dia


Segundo dados da entidade promotora dos jogos de apostas, os portugueses gastaram três mil milhões de euros em jogos, em 2018, o que se traduz em 8,5 milhões de euros por dia.

As vendas totais dos ‘jogos santa casa’ conferem que houve 1.880 milhões de euros em prémios, ou seja, que os portugueses gastaram 36 milhões de euros por semana.

O jogo mais popular é o da raspadinha com 51% das preferências, seguindo-se as propostas de apostas mútuas (euromilhões, m1lhão, totoloto e totobola), se bem que o ‘placard’ tenha vindo a crescer… Se acrescentarmos a estes jogos as lotarias (nacional, clássica e popular) somos como que induzidos a considerar que vivemos sobretudo à condição do jogo, tanto de fortuna como de azar…dentro ou fora dos locais de jogo autorizado. Surgem já no horizonte as apostas nas corridas de cavalos… Ambição a quanto obrigas! 

= Como sempre este clima social em que vivemos deve levar a questionar-nos: qual a origem desta fome de dinheiro? Quais as consequências atuais e futuras na economia familiar e social? O que leva tanta gente a preferir viver da ‘fortuna-e-azar’ do que do trabalho?

Sabendo que o jogo é um vício, que se entranha na vida das pessoas, torna-se essencial não ficarmos pela mera constatação dos números envolvidos ou pelos resultados (mais ou menos) rapidamente obtidos, mas antes irmos ao fundo da questão e encontrarmos as razões mais fundas deste fenómeno que tem vindo a crescer e a popularizar-se no nosso país.     

É um facto que, só no dicionário, é que ‘sorte’ aparece antes de ‘trabalho’, bem como o dinheiro se ganha sem esforço. Efetivamente foi-se criando a mentalidade de que quem mais preguiça é quem mais sucesso apresenta, deixando à mistura com isto uma sensação de que o dinheiro que não custa a ganhar também não custa a gastar. É bom de ver, nas casas de venda de jogos, que muitos dos reformados investem centenas de euros por semana – há dias alguém me referiu que determinada pessoa gastava, só num local, quarenta euros semanais na raspadinha – na ânsia de ganhar mais e, quando isso acontece, logo é investido, isto é jogado, para aproveitar a onda da sorte…

Quantas e quantas pessoas estragaram a sua vida e da sua família com o vício do jogo. Quantas empresas entraram em falência em razão do fascínio do jogo. Quantas fortunas foram esbanjadas com o recurso à ilusão do jogo. De quantas e tantas formas se foram engendrando artimanhas para fazer cair quem quer ser rico pela opção do jogo rápido, imediato e que, afinal, sai caro…fazendo perder tudo, até o que há de mais sublime que é a dignidade humana. 

= Qual a doutrina da Igreja católica sobre este tema do jogo?

Diz o Catecismo da Igreja católica: «Os jogos de azar (jogo de cartas, etc.) e as apostas não são, em si mesmos, contrários à justiça. Mas tornam-se moralmente inaceitáveis, quando privam a pessoa do que lhe é necessário para as suas necessidades e as de outrem. A paixão do jogo pode tornar-se uma grave servidão. Apostar injustamente ou fazer batota nos jogos constitui matéria grave, a menos que o prejuízo causado seja tão leve que quem o sofre não possa razoavelmente considerá-lo significativo» (n.º 2413).

Certamente que, para muitas pessoas, esta doutrina soa a orquestra desafinada, pois os valores materialistas se sobrepõem aos conceitos humanos de respeito por si mesmo e pelos outros. A crescente materialização da vida, aliada ao viver sem Deus – ou como se Ele não existisse – vai semeando frutos de mal-estar, tanto nas pessoas, como nas famílias e na sociedade em geral…

Talvez seja urgente incluir na educação dos mais novos – na idade e/ou na mentalidade – que não será pelo dinheiro fácil que a vida recompensa quem se quer valorizar humana, profissional, social e culturalmente. Não se pode continuar a querer vender a imagem de que o sucesso é tarefa sem esforço, pois aquilo que se conquista tem mais sabor e melhor significado. É preciso combater o regime de futilidades em que tantas vezes se labora, na medida em que se for acreditando que a melhor fortuna não está nos bens materiais, mas nas armas pessoais de valorização, que se adquirem pelas ferramentas recebidas no esforço e conquistadas no apetrechamento de pensar pela própria cabeça, com critérios mais espirituais do que materiais…      

 

António Sílvio Couto

Sem comentários:

Enviar um comentário