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quarta-feira, 17 de julho de 2019

União Europeia – muda de rumo ou só de protagonistas?


Numa parcela da Humanidade que alberga mais de quinhentos milhões de cidadãos, num espaço territorial com uma diversidade cultural, histórica e linguística, numa configuração sociopolítica cada vez mais diversificada, a União Europeia está a viver uma nova etapa no rumo de mais de sessenta anos…de paz, de alguma prosperidade económica e de razoável segurança social, de trabalho e quase militar.

Atendendo às raízes constitutivas da agora designada ‘União Europeia’ – já foi chamada Comunidade Europeia do carvão e do aço e de Comunidade Económica Europeia – aglutina 28 estados-membros.

Se tivermos em conta entre os pais-fundadores deste projeto encontramos alguns abertamente cristãos: Konrad Adenhauer, Jean Monnet, Robert Schumann, Altiero Spinell, etc.  

Por entre as várias vicissitudes ideológicas que a Europa viveu nos tempos após-segunda guerra mundial, foram atravessadas pela falência de várias ideologias – queda do muro de Berlim, em 1989; implosão da maior parte dos partidos marxistas, trotskistas e até socialistas; focos de tensão étnico-racial; emergência de tendências populistas de direita com alguma esquerda encapotada – fomos assistindo a fenómenos de empobrecimento de participação dos mais novos nas decisões coletivas à mistura com uma razoável a-moralização perpetrada por lóbis transnacionais de pendor anticristão…

Nem o ‘mea culpa’ de alguns políticos ainda no ativo – na segunda geração de dirigentes – consegue atenuar o desagrado geral de quem sente que a União Europeia é um projeto inacabado, que não está fechado e tão pouco são irreversíveis as possíveis conquistas, entretanto, usufruídas. Muitos dos mais novos – situemo-nos na franja dos que têm menos de vinte e cinco anos – não tiveram de fazer grande esforço para integrar este grande espaço onde a democracia tem sido mais ou menos apanágio dos povos e dos governos. 

= Mesmo que podendo ser questionada, a UE continua a ser um motor essencial para a vida de milhões de pessoas naquilo que têm na (pretensa) qualidade de vida e nas aspirações para com o futuro próximo. Quando tantos como que prognosticavam a falência deste projeto sociopolítico, tantos outros lutam e almejam não satisfazerem os desejos derrotistas duma faixa significativa de pessimistas, vencidos e saudosistas do quanto pior melhor…tanto à direita como à esquerda.

Nunca como antes a Europa viveu em clima de paz como na vigência da UE. Nunca como antes foi possível articular povos, outrora, desavindos ao norte como ao sul e mesmo no centro do conjunto dos países que compõem a UE. Nunca como antes países pequenos tiveram voz como os países considerados médios e os grandes, criando, por vezes, condições para que saíssem das suas fileiras altos responsáveis das várias instâncias que compõem a UE. Nunca como antes as ideologias se foram articulando mais em função dos interesses comuns – dos cidadãos e dos países – do que das fações transversais, nos diversos momentos de decisão da UE.   

= Este grande espaço do Planeta Terra, que é a UE, funciona, acima de tudo, como um grande e profícuo areópago cultural, onde se misturam tantos e tão díspares países e nações, línguas e dialetos, sucessos e revezes, dúvidas e expetativas, promessas e conquistas, conservadores e utópicos, materialistas e teístas, incréus e vanguardistas, mentores da (pretensa) raça pura e criadores de mestiçagens, abertos aos emigrantes e retrógrados na sua aceitação… A UE é isto e muito mais, mas poderá ser ainda melhor se soubermos mais confluir para aquilo que nos une do que para aquilo que nos possa separar, agora como no futuro próximo.

Não podemos ignorar nem camuflar a base de tudo isto: a profunda e altíssima cultura cristã, que fez germinar o projeto e que quase sempre o tem salvaguardado, quando sobre ela pairam nuvens mais ou menos tenebrosas, seja pelas ideias, seja pela prática dos valores impressos nas mentalidades dos cidadãos, dos governantes e até dos emigrantes…

A UE tem futuro se todos nos comprometermos neste auspicioso caminho que já nos trouxe tantos benefícios. Urge, no entanto, rever os indícios de quem só quer o que lhe é favorável – sobretudo certos populistas de esquerda e de direita – mas reclama daquilo para o qual nunca fez nada por ser melhor e mais participativo. Não será com espetáculos ‘arco iris’ que mobilizaremos os mais novos. A UE tem futuro!         

 

António Sílvio Couto


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