Nos tempos mais recentes fomos percecionando
situações que vem podem ser catalogadas nesta expressão: ‘vai, estás perdoado’!
Com isto queremos significar que os sujeitos – por vezes enfaixados de
predicados, a seus olhos – em causa podem seguir o seu caminho, que bem
depressa sairão do horizonte em que têm andado a flutuar…
Ainda sem irmos aos casos, poderemos considerar que
algumas figuras (mais ou menos conhecidas, vistas ou divulgadas) se acham
quase-insubstituíveis e encenam a sua partida como se fosse um fim dramático,
caindo um tanto no ridículo e numa escusada vulgaridade. Dá a impressão que,
por muito que tenham conseguido, não foram suficientemente agradecidos e/ou
agraciados. Nota-se, afinal, algum infantilismo e imaturidade de quem, tendo
feito o que lhe era devido, usa as armas do imprescindível, mesmo que bizarro e
nefasto a si mesmo e aos demais.
Vejamos alguns episódios:
* Um tal chefe de governo que se anunciou a si
próprio como candidato putativo, sem se tenha percebido logo para que cargo europeu
em concreto ou convidado quem o tinha indigitado… Fica mal pôr-se em bicos de
pés, sobretudo, se os ditos são de barro e sem alicerces…razoáveis.
A quem almejava tais pretensões dizemos: vai, estás
perdoado… pelas ilusões que vendeste e pelas patranhas em que nos fizeste
entrar… Pode-se enganar muito tempo, mas não o tempo todo e, sobretudo, aos
papalvos todos!
* Por vezes há trabalhos – humanos, sociais,
pastorais e culturais – que conseguem destoar da vulgaridade, tanto pelo que
foi operado como pelo espaço onde foi implementado. Isso, normalmente, é
conseguido pelo empenho, o compromisso e o laboral de pessoas, que vivem no
tempo certo e na ocasião oportuna. Saber interpretar as condições favoráveis é
algo que nem todos conseguem realizar.
Quando tal acontece é bom e salutar saber –
dizemo-lo no contexto dos valores do Evangelho – como desenvolver os dons, as
qualidades e os carismas de cada um em favor de todos. Será, no entanto,
questionável que se pretenda deixar essa tarefa, dando a entender que se quer
sair, mas que ainda há uma réstia de vontade de se prolongar, embora a pedido… Talvez
este jogo não seja honesto nem tenha as regras cifradas no verdadeiro.
Agora que em tantas das dioceses há mudanças de
agentes da pastoral, será que tudo será tão claro quando visto ou leal quanto
dito? A qualidade de quem parte pode entender-se pelos frutos de continuidade
em quem fica e quem recebe deverá saber acolher quem substitui!
* Nas deambulações das coisas da vida vemos tantos
episódios que chamuscam a integridade da maior parte dos intervenientes, umas
vezes por incúria dos sujeitos, outras vezes por incapacidade dos predicados e
noutros casos por ignorância dos complementos. Com que facilidade alguns se pretendem
fazer passar por competentes, quando não passam de oportunistas, enganando os mais
incautos e sobrepondo-se a quem lhes pode fazer frente ou sombra. Com infeliz
naturalidade vemos que o facto de serem de ‘certas famílias’ ou por pertencerem
a cliques reinantes – políticas, ideológicas ou de género – conseguem postos de
poder, que mais não passam de correias de interesses múltiplas vezes subtis.
* Na sabedoria popular encontramos adágios que nos
comunicam muito daquilo que é experiência feita. Assim neste capítulo ‘do sair
e do entrar’, seja daquilo que for, diz-nos essa escola de vida: ‘atrás de mim
virá quem bom de mim fará’ ou ainda ‘a qualidade do mestre revela-se naqueles
que vem depois dele’, podendo serem (até) melhores do que ele…Se as sementes
eram de qualidade, os frutos ver-se-ão!
Deste modo certos apegos aos lugares ou considerando
que tudo acaba se eu partir, para além de não ser verdadeiro, pode servir para
perceberemos a quem servimos: se a nós mesmos, se aos outros ou se Deus nos
outros, que Ele coloca no nosso caminho…em cada etapa da história.
António Sílvio Couto
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