Os dados estão aí: 55,2% daqueles que se afirmam
‘sem religião’ vivem na área metropolitana de Lisboa (AML), que abrange dezoito
municípios numa população de cerca de três milhões de pessoas.
Embora uma boa parte ainda se considere católica –
54,9 % ao menos de tradição – muitos daqueles que se afirmam sem-religião são
procedentes de famílias com alguma identidade católica.
Estes dados foram apurados através de um estudo
intitulado – ‘identidades religiosas e dinâmica social na área metropolitana de
Lisboa’ – e que foi apresentado por estes dias, em resultado da auscultação a
mais de mil e cem inquiridos ao longo do ano passado.
Deste estudo podemos respigar:
* budistas e muçulmanos têm idêntica franja social,
cerca de quinto por cento para cada uma das expressões religiosas;
* apesar de crescente o grupo ‘sem-religião’ não é
homogéneo na sua composição;
* os setores evangélicos têm vindo a crescer,
nalguns casos à custa da deserção dos católicos… noutros casos os evangélicos
enquadrados em contextos urbanos, com uma nova linguagem no âmbito musical, vão
crescendo no setor jovem da sociedade;
* naquilo que toca à militância, os muçulmanos são
dos que menos consideram mudar à semelhança daquilo que acontece com as
testemunhas de Jeová, com uma percentagem de 20% dos seus membros situada na
área geográfica da AML.
= Se este estudo lança algumas pistas sobre a
complexidade da vivência religiosa no nosso país, não poderemos enjeitar os
dados que nos devem fazer refletir. De facto, a dimensão religiosa da pessoa
humana é cada vez menos tida em conta, mesmo que questões de índole espiritual
sejam transversais à análise dos problemas deste tempo. Mais do que o vínculo a
uma Igreja vemos crescer o interesse, que pode ser volúvel, para com alguma
espiritualidade, em muitos casos mais com sabor sincrético do que comprometido
e claro. Isso mesmo era apontado, naquele estudo, para com uma certa vaga de
simpatia pelo budismo, na medida em que este valoriza a experiência da
interioridade à mistura com uma outra capacidade de atrair principalmente
indivíduos urbanos e escolarizados.
= Quem estiver atento às manifestações ‘religiosas’
dos nossos dias pode ir penetrando numa apetência de um número significativo de
pessoas por temas mais ou menos exotéricos, sejam cristãos ou não. Às vezes é
mais fácil mobilizar pessoas para uma ‘peregrinação’ a uma manifestação
religiosa – temos em mente a ‘senhora da bondade’ e outras mais sigilosas –
suspeita do que em conseguir que possam participar, regularmente, na missa
paroquial de domingo. Por vezes nota-se, em certos movimentos de incidência
‘espiritual’, alguma capacidade (tempo e gastos económicos) de receção para
fenómenos a roçar quase o bizarro e, por outro lado, não há tempo para uma qualquer
reunião mensal que seja de formação mais serena, sensata e progressiva.
= Apesar de tudo creio que os dados revelados pelo
estudo citado exigem de nós, como cristãos, uma reformulação de muitos
conceitos e mais dos comportamentos. Com efeito, se continuarmos a refugiar-nos
em certos tiques tradicionalistas não conseguiremos ver que estamos a perder o
comboio – ou seja lá o transporte que acharmos melhor! – da refontalização dos
valores cristãos aos princípios do Evangelho, que nos fazem reconhecer os
erros, nos levam a corrigi-los e a mudar de proposta, pois o que seguimos até
agora falhou…
Bem razão tinham os filósofos gregos que
consideravam o ‘homem, um animal religioso’. Nem as doutrinas marxistas ateias
conseguira coartar esse princípio sagrado. Teremos, no entanto, de saber qual o
modo de concretizar esse anseio. Ora, os cristãos, não podem demitir-se da
tarefa que lhes está confiada. Inspiremo-nos na forma como foi feita a primeira
evangelização e tudo mudará…
António Sílvio Couto
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