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quinta-feira, 4 de julho de 2019

Crescem os sem-religião na ‘grande Lisboa’


Os dados estão aí: 55,2% daqueles que se afirmam ‘sem religião’ vivem na área metropolitana de Lisboa (AML), que abrange dezoito municípios numa população de cerca de três milhões de pessoas.

Embora uma boa parte ainda se considere católica – 54,9 % ao menos de tradição – muitos daqueles que se afirmam sem-religião são procedentes de famílias com alguma identidade católica.

Estes dados foram apurados através de um estudo intitulado – ‘identidades religiosas e dinâmica social na área metropolitana de Lisboa’ – e que foi apresentado por estes dias, em resultado da auscultação a mais de mil e cem inquiridos ao longo do ano passado.

Deste estudo podemos respigar:

* budistas e muçulmanos têm idêntica franja social, cerca de quinto por cento para cada uma das expressões religiosas;

* apesar de crescente o grupo ‘sem-religião’ não é homogéneo na sua composição;

* os setores evangélicos têm vindo a crescer, nalguns casos à custa da deserção dos católicos… noutros casos os evangélicos enquadrados em contextos urbanos, com uma nova linguagem no âmbito musical, vão crescendo no setor jovem da sociedade;

* naquilo que toca à militância, os muçulmanos são dos que menos consideram mudar à semelhança daquilo que acontece com as testemunhas de Jeová, com uma percentagem de 20% dos seus membros situada na área geográfica da AML. 

= Se este estudo lança algumas pistas sobre a complexidade da vivência religiosa no nosso país, não poderemos enjeitar os dados que nos devem fazer refletir. De facto, a dimensão religiosa da pessoa humana é cada vez menos tida em conta, mesmo que questões de índole espiritual sejam transversais à análise dos problemas deste tempo. Mais do que o vínculo a uma Igreja vemos crescer o interesse, que pode ser volúvel, para com alguma espiritualidade, em muitos casos mais com sabor sincrético do que comprometido e claro. Isso mesmo era apontado, naquele estudo, para com uma certa vaga de simpatia pelo budismo, na medida em que este valoriza a experiência da interioridade à mistura com uma outra capacidade de atrair principalmente indivíduos urbanos e escolarizados.  

= Quem estiver atento às manifestações ‘religiosas’ dos nossos dias pode ir penetrando numa apetência de um número significativo de pessoas por temas mais ou menos exotéricos, sejam cristãos ou não. Às vezes é mais fácil mobilizar pessoas para uma ‘peregrinação’ a uma manifestação religiosa – temos em mente a ‘senhora da bondade’ e outras mais sigilosas – suspeita do que em conseguir que possam participar, regularmente, na missa paroquial de domingo. Por vezes nota-se, em certos movimentos de incidência ‘espiritual’, alguma capacidade (tempo e gastos económicos) de receção para fenómenos a roçar quase o bizarro e, por outro lado, não há tempo para uma qualquer reunião mensal que seja de formação mais serena, sensata e progressiva. 

= Apesar de tudo creio que os dados revelados pelo estudo citado exigem de nós, como cristãos, uma reformulação de muitos conceitos e mais dos comportamentos. Com efeito, se continuarmos a refugiar-nos em certos tiques tradicionalistas não conseguiremos ver que estamos a perder o comboio – ou seja lá o transporte que acharmos melhor! – da refontalização dos valores cristãos aos princípios do Evangelho, que nos fazem reconhecer os erros, nos levam a corrigi-los e a mudar de proposta, pois o que seguimos até agora falhou…

Bem razão tinham os filósofos gregos que consideravam o ‘homem, um animal religioso’. Nem as doutrinas marxistas ateias conseguira coartar esse princípio sagrado. Teremos, no entanto, de saber qual o modo de concretizar esse anseio. Ora, os cristãos, não podem demitir-se da tarefa que lhes está confiada. Inspiremo-nos na forma como foi feita a primeira evangelização e tudo mudará…    

 

António Sílvio Couto

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