Tem vindo a crescer, duma forma concertada e um tanto silenciosa, mas
suficientemente crescente para que não se veja, a designação de
‘extrema-direita’, aplicada ao mundo das ideias (políticas ou culturais),
aduzindo-lhe ainda o epíteto de ‘populismo’ e um sem-número de adjetivos
qualificativos na forma exagerada.
Mas o que é que pode caraterizar alguém para ser considerado de
‘extrema-direita’? Haverá uma definição/descritiva ou antes uma discrição
definitória? Depois da falência dos regimes comunistas – com a queda do ‘muro
de Berlim’, em 1989 – houve tempo para uma redefinição dos termos ou antes
foram colocados outros por contraste e de forma acrítica? Não será que a
apelidada ‘extrema-direita’ se pode compreender melhor se atendemos aos
‘ideais’ da considerada ‘extrema-esquerda’? Não será que, na maior parte dos
casos, os extremos se tocam pelo contraste e fazem-se explicar pelo inverso das
posições? Quando alguém se arroga contra a ‘extrema-direita’ não estará,
porventura, a encobrir outros fatores que motivam ser de ‘extrema-esquerda’?
Não haverá demasiada conciliação em apelidar de ‘extrema-direita’ quem não se
assume em ser de ‘extrema-esquerda’? As pretensas armas de um lado e do outro
não são demasiado iguais para que se possa usar algo de arremesso contra quem
não faz parte da ‘nomenclatura’ social reinante?
= Ora, ao consultarmos a wikipédia sobre o assunto podemos encontrar as
linhas-gerais disso a que apelidam de ‘extrema-direita’: «A extrema-direita (também
conhecida como ultra-direita ou direita radical) refere-se, dentro do conceito
da existência de uma esquerda e direita, no espectro ideológico. A política de
extrema direita envolve frequentemente um foco na tradição, real ou imaginada,
em oposição às políticas e costumes que são considerados como reflexo do
modernismo. Muitas ideologias de extrema-direita têm desprezo ou um desdém pelo
igualitarismo, mesmo que nem sempre expressem apoio explícito à hierarquia
social, elementos de conservadorismo social e oposição à maioria das formas de
liberalismo e socialismo. Alguns grupos apoiam uma forte ou completa
estratificação social e a supremacia de certos indivíduos ou grupos
considerados naturalmente superiores».
= Tentemos descortinar linhas-mestras sobre a possível ‘extrema-direita’:
aceitação, difusão e vivência na linha da ideologia de género; defesa de uma
sobreposição das iniciativas estatais aos princípios de iniciativa privada,
tanto na economia, como na educação, na saúde e mesmo na visão cultural;
colagem de comportamentos morais (vistos como moralizantes com sabor a religião)
para com certos critérios éticos, sobretudo se a pessoa for valendo cada vez
menos…na linha da produção; exaltação de tudo e o resto que possa parecer
ecologista com a marca do holismo da ‘nova era’; escarafunchar (agora, antes e
depois) aquilo que possa tornar mais vulnerável quem se oponha aos intentos de
salvaguarda de conceitos e de vivências como país, nação ou cultura com valores
que possam ainda cheirar a cristão…
Dá a impressão de que, quem falar de temas como a família (no sentido
judaico-cristão), a pátria, a concórdia entre pessoas e povos ou possa ter uma
opinião que destoe da maioria em regime de pensamento ‘progressista’, é
candidato a ser rotulado de ‘extrema-direita’ ou apelidado de populista, com as
consequências que advêm de estar sob a mira de certos polícias sociais de
‘moralidade’ a seu gosto…
= De entre os difusores da mentalidade, que se apregoa de superior para
submeter os demais pelo silêncio, o medo ou o constrangimento social,
encontramos a comunicação social, que bem e depressa rotula uns tantos de
‘extrema-direita’, se não se enquadrarem na grelha com que veem, leem ou julgam
a ‘sua’ sociedade’. Nalguns casos bastará que falhe um dos parâmetros com que
apreciam os acontecimentos para fazerem dum simples episódio uma espécie de
‘facto’ de ‘extrema-direita’… Não isso que foi feito no Brasil, nas recentes
eleições presidenciais? Não foi também essa a técnica para classificar algumas
forças em Espanha? Não é esse o trejeito subtil, capcioso e incisivo com que
agrupam os candidatos ao Parlamento Europeu?
O que me confunde é que se tentem limpar façanhas de certa
‘extrema-esquerda’ – na Europa e fora dela – em exercício ou no passado. Não há
direito a ser faccioso nem a impor uma verdade tão mentirosa…
António Sílvio Couto
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