Por estes dias vimos, cá pelas terras lusas, certos recursos ‘políticos’
dignos de outras paragens: partindo de suposições nas causas, houve quem
criasse cenários de ‘crise’ política, em ordem a fazer valer outras motivações
que estariam fora do alcance do público em geral.
De uma reunião à maneira de trabalho de grupos de adolescentes – tais foram
as imagens veiculadas, dumas tantas deputadas (eles não figuravam) de
quadrantes diversificados – surgiu um toque-a-rebate dos partidos, pois havia
quem entrasse nas contas do governo e fosse baralhar o ‘bom’ desempenho
orçamental… O que vimos foi um toldar generalizado sobre as consequências de
vir a ser aprovada a pretensão de um setor profissional, os professores. Os números
de gastos não tinham efeito imediato, mas o alarido foi assaz complexo e um
pouco mal explicado.
A espada de Dâmocles da instabilidade pendeu sobre o país, agora que tudo
parecia quase uma ‘arca-de-Noé’ em harmonia entre contrários. As interpretações
foram, no mínimo, ideológicas entre os favorecidos nas reversões, desde 2015, e
os ainda não contemplados, embora do lado da mesma fatia dos votantes e/ou
correligionários.
Quando era posta a ter de decidir pela primeira vez, a governança entrou em
curto-circuito de elevada rotação. Para quem contestou, há quatro anos atrás,
que o responsável do partido tinha ganho por ‘poucochinho’, agora parece que
andará no fio da vitória pírrica, pois poderá ganhar sem descolar dos
opositores… A hipótese de engendrar uma certa chantagem tinha tentáculos para
se mover – qual centopeia de interesses não disfarçados – e bastou um pequeno
sinal para que o processo fosse desencadeado.
Ora os servidores oficiais – uma certa comunicação social próxima no
espetro partidário e por outras encomendas desembrulhadas – encheram os espaços
de comentário, de influência e mesmo de manipulação. Como de costume quem possa
opinar de forma discordante dessa oficial já não tem tempo de antena e nem
sequer pode exprimir o seu pensamento, perante os democratas de pensamento
único, unificado e uniformizado… O recurso à chantagem apareceu sem peias nem
rodeios.
Cada vez mais se pode perceber que o ‘delito de opinião’ é a nova forma de
censura em tantos dos espaços noticiosos, nas redes (ditas) sociais e mesmo nas
interpretações mais ou menos noticiosas. Quando se considerava que a chantagem
podia ser uma vertente de vitória poderemos ser confrontados com novas formas
de sindicalismo – mais de noventa por cento do mais recente já está fora dos
espartilhos das centrais sindicais – e a contestação escapa aos circuitos conhecidos.
Concomitantemente vemos que há setores com excesso de ‘representantes’
sindicais, nalguns casos, tirados os dirigentes, não há mais ninguém. Noutras
circunstâncias vemos que certos bem-falantes já não exercem a profissão, que
dizem representar, há dezenas de anos. Muitos outros – mesmo entre os mais
recentes – porque se tornaram mais visíveis, veem escarafunchada a vida
privada, numa tentativa de desacreditar aquilo que pretendam reivindicar…
Contrariamente àquilo que disseram alguns comentadeiros: não vale tudo a
quem governa e tão pouco durará a mentira que tentam impingir aos eleitores e
cidadãos. Quem usa de chantagem para tentar vencer, não merece a mínima
consideração nem respeito. Quem usa a posição de privilégio nas informações de
que dispõe, não merece qualquer confiança agora nem no futuro. Quem não
respeita os opositores, não merece que seja tido como pessoa de bem, antes pode
(e deve) ser tido como um energúmeno de mau caráter, má formação cívica e, no
mínimo, de deficiente conduta democrática…
A chantagem costuma ser a arma dos ditadores, no terceiro-mundo como noutro
lugar qualquer!
António Sílvio Couto
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