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quinta-feira, 9 de maio de 2019

Chantagem – arma, recurso ou vitória?


Por estes dias vimos, cá pelas terras lusas, certos recursos ‘políticos’ dignos de outras paragens: partindo de suposições nas causas, houve quem criasse cenários de ‘crise’ política, em ordem a fazer valer outras motivações que estariam fora do alcance do público em geral.

De uma reunião à maneira de trabalho de grupos de adolescentes – tais foram as imagens veiculadas, dumas tantas deputadas (eles não figuravam) de quadrantes diversificados – surgiu um toque-a-rebate dos partidos, pois havia quem entrasse nas contas do governo e fosse baralhar o ‘bom’ desempenho orçamental… O que vimos foi um toldar generalizado sobre as consequências de vir a ser aprovada a pretensão de um setor profissional, os professores. Os números de gastos não tinham efeito imediato, mas o alarido foi assaz complexo e um pouco mal explicado.

A espada de Dâmocles da instabilidade pendeu sobre o país, agora que tudo parecia quase uma ‘arca-de-Noé’ em harmonia entre contrários. As interpretações foram, no mínimo, ideológicas entre os favorecidos nas reversões, desde 2015, e os ainda não contemplados, embora do lado da mesma fatia dos votantes e/ou correligionários.

Quando era posta a ter de decidir pela primeira vez, a governança entrou em curto-circuito de elevada rotação. Para quem contestou, há quatro anos atrás, que o responsável do partido tinha ganho por ‘poucochinho’, agora parece que andará no fio da vitória pírrica, pois poderá ganhar sem descolar dos opositores… A hipótese de engendrar uma certa chantagem tinha tentáculos para se mover – qual centopeia de interesses não disfarçados – e bastou um pequeno sinal para que o processo fosse desencadeado.

Ora os servidores oficiais – uma certa comunicação social próxima no espetro partidário e por outras encomendas desembrulhadas – encheram os espaços de comentário, de influência e mesmo de manipulação. Como de costume quem possa opinar de forma discordante dessa oficial já não tem tempo de antena e nem sequer pode exprimir o seu pensamento, perante os democratas de pensamento único, unificado e uniformizado… O recurso à chantagem apareceu sem peias nem rodeios.

Cada vez mais se pode perceber que o ‘delito de opinião’ é a nova forma de censura em tantos dos espaços noticiosos, nas redes (ditas) sociais e mesmo nas interpretações mais ou menos noticiosas. Quando se considerava que a chantagem podia ser uma vertente de vitória poderemos ser confrontados com novas formas de sindicalismo – mais de noventa por cento do mais recente já está fora dos espartilhos das centrais sindicais – e a contestação escapa aos circuitos conhecidos. Concomitantemente vemos que há setores com excesso de ‘representantes’ sindicais, nalguns casos, tirados os dirigentes, não há mais ninguém. Noutras circunstâncias vemos que certos bem-falantes já não exercem a profissão, que dizem representar, há dezenas de anos. Muitos outros – mesmo entre os mais recentes – porque se tornaram mais visíveis, veem escarafunchada a vida privada, numa tentativa de desacreditar aquilo que pretendam reivindicar…

Contrariamente àquilo que disseram alguns comentadeiros: não vale tudo a quem governa e tão pouco durará a mentira que tentam impingir aos eleitores e cidadãos. Quem usa de chantagem para tentar vencer, não merece a mínima consideração nem respeito. Quem usa a posição de privilégio nas informações de que dispõe, não merece qualquer confiança agora nem no futuro. Quem não respeita os opositores, não merece que seja tido como pessoa de bem, antes pode (e deve) ser tido como um energúmeno de mau caráter, má formação cívica e, no mínimo, de deficiente conduta democrática…

A chantagem costuma ser a arma dos ditadores, no terceiro-mundo como noutro lugar qualquer!    

 

António Sílvio Couto

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