«A cultura
digital, além de ter relativizado o conceito de verdade, parece que varreu os
próprios conceitos de ‘tempo’ e de ‘espaço’…A cultura da internet usa
exatamente os nossos termos, mas com significados diferentes…A internet é uma cultura
antes de ser um instrumento de informação e coloca grandes problemas mesmo do
ponto de vista ético» (*)
Vivemos, de facto, numa nova cultura. Depois da designada
era de Gutenberg (século XV) ou da era de Marconi (século XX), estamos a viver
numa era diferente: a era digital… depois da invenção da imprensa e da
telegrafia sem fios, estamos a dar mais um passo na evolução da Humanidade.
No entanto, esta era nova do digital representa,
simboliza e traz conquistas, desafios, riscos, perigos e algo mais do que uma
mera adaptação do uso destes recursos ainda na sua idade primitiva.
Tecnologicamente estamos a viver aquilo que alguns
entendidos consideram a ‘terceira revolução industrial’, criando novas formas
de comunicar, de dar suporte às informações e mesmo às produções
diversificadas. A rápida interconexão entre as pessoas parece que se faz se nos
darmos conta que estamos a usufruir de algo sobre o qual não temos total
controlo. Em 2010 havia 1,8 mil milhões de utilizadores da internet. Em 2016 a
cifra era colocada em 3,9 mil milhões de utilizadores…
Tal como noutras épocas também nesta ‘era digital’
precisamos de ser mais do que meros utilizadores para sermos consciente e
responsavelmente participantes desta nova cultura, por forma a não nos vermos
ultrapassados pela tecnologia, podendo virmos a ser escravos da ‘nossa’ possível
evolução…
= Vejamos algumas das caraterizações desta ‘era
digital’: «a era digital é caraterizada pela tecnologia que aumenta a
velocidade e a amplitude da rotatividade de conhecimento dentro da economia e
da sociedade», diz um autor americano.
Atendendo a que estamos dentro do processo da era
digital talvez possa ser oportuno perceber prevenções provenientes de quem vê,
interpreta e refere esta nova cultura à luz dos valores do Evangelho. Em 2011,
o Papa Bento XVI intitulou a mensagem para o 45.º dia mundial das comunicações
sociais: ‘verdade, anúncio e autenticidade de vida na era do digital’. Citamos:
«Vai-se
tornando cada vez mais comum a convicção de que, tal como a revolução
industrial produziu uma mudança profunda na sociedade através das novidades inseridas
no ciclo de produção e na vida dos trabalhadores, também hoje a profunda transformação
operada no campo das comunicações guia o fluxo de grandes mudanças culturais e
sociais. As novas tecnologias estão a mudar não só o modo de comunicar, mas a
própria comunicação em si mesma, podendo-se afirmar que estamos perante uma
ampla transformação cultural. Com este modo de difundir informações e conhecimentos,
está a nascer uma nova maneira de aprender e pensar, com oportunidades inéditas
de estabelecer relações e de construir comunhão.
(...) A distinção clara entre o produtor e o consumidor da informação aparece relativizada, pretendendo a
comunicação ser não só uma troca de dados, mas também e cada vez mais uma partilha. Esta dinâmica contribuiu para uma renovada avaliação da comunicação, considerada primariamente como diálogo, intercâmbio, solidariedade e criação de relações positivas».
Esta nova cultura originada e feita na era digital coloca, segundo Bento XVI, várias questões: «Quem é o meu “próximo” neste novo mundo? Existe o perigo de estar menos presente a quantos encontramos na nossa vida diária? Existe o risco de estarmos mais distraídos, porque a nossa atenção é fragmentada e absorvida por um mundo “diferente” daquele onde vivemos? Temos tempo para refletir criticamente sobre as nossas opções e alimentar relações humanas que sejam verdadeiramente profundas e duradouras?».
(...) A distinção clara entre o produtor e o consumidor da informação aparece relativizada, pretendendo a
comunicação ser não só uma troca de dados, mas também e cada vez mais uma partilha. Esta dinâmica contribuiu para uma renovada avaliação da comunicação, considerada primariamente como diálogo, intercâmbio, solidariedade e criação de relações positivas».
Esta nova cultura originada e feita na era digital coloca, segundo Bento XVI, várias questões: «Quem é o meu “próximo” neste novo mundo? Existe o perigo de estar menos presente a quantos encontramos na nossa vida diária? Existe o risco de estarmos mais distraídos, porque a nossa atenção é fragmentada e absorvida por um mundo “diferente” daquele onde vivemos? Temos tempo para refletir criticamente sobre as nossas opções e alimentar relações humanas que sejam verdadeiramente profundas e duradouras?».
Mal vai a nossa perceção do tempo em que vivemos, se
ainda não sintonizamos com as potencialidades e os riscos desta era nova
digital… O assunto é complexo e merece maior reflexão!
(*)
Das intervenções de D. Rino Fisichella, nas jornadas de atualização do clero das
dioceses ao sul do Tejo, que fez nos dias 28 e 29 de janeiro, em Albufeira.
António Sílvio Couto
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