Ao querido Papa Francisco, que tanto tem feito, nestes quase seis anos de
pontificado, para que a Igreja se possa tornar mais e melhor
sinal da presença de Cristo no mundo, ouso escreve um sofrido desabafo, que é muito mais
do que um mero suspiro desencantado!
No seguimento daquilo que Bento XVI vinha fazendo, o
santo Padre tem enfrentado variados obstáculos quanto ao escândalo dos ‘abusos
sexuais’ de alguns membros do clero…em muitas partes do mundo.
A catadupa de casos fez do Vaticano uma nova espécie
de ‘muro das lamentações’, sobretudo das vítimas individuais ou associadas ao
longo da universalidade da Igreja.
O mais recente momento da ‘cimeira’ sobre o assunto,
realizada por estes dias, trouxe, novamente, à ribalta acusações, impropérios
e suspeitas quase desmesuradas.
Santo Padre, por breves, momentos senti que todos os
padres – os prevaricadores e os não-acusados – estavam sob a inexorável espada
de Dâmocles sobre as suas cabeças, na medida em que cada um é um potencial
acusado… e ninguém – ao que parece – é insuspeito.
Ora, isto é assaz perigoso, pois se pode confundir
réu e vítima, tornando-se esta um potencial criador de acusados, senão no
conteúdo ao menos na forma…
Santo Padre, há muitos padres que sofrem e rezam para que esta
vaga de pecado dentro e fora da Igreja seja vencida pela força do testemunho.
Com efeito, muitos padres procuram viver a sua
entrega a Deus, na Igreja;
muitos – senão a maioria – fazem esforço de
fidelidade em serem presença divina neste mundo erotizado;
tantos e tantos viveram a sua juventude e idade
adulta numa atitude de missão – não de meros castrados, mas de celibatários pelo Reino de Deus – nem sempre
compreendida por todos os que procuraram servir;
por isso, é uma provação e purificação para uma
multidão silenciosa de padres verem postos em causa os anos de formação, de
encanto e de serviço, pela simples razão de que uns poucos praticaram
crimes lesivos de tantas crianças, adolescentes e jovens.
Santo Padre, lemos, escutamos e aceitamos os ’21 pontos de
reflexão’ propostos aos participantes no encontro sobre ‘proteção de menores’;
acolhemos como força de definição os 8 pontos da
linha de ação para a Igreja católica, que nos foram apresentados após aquela
cimeira.
No entanto, deixamos, com humildade e confiança uma
sugestão, tirada dos textos bíblicos: como diz São Paulo – trazemos em vasos de
barro o tesouro do nosso ministério (2 Cor 4,7) – e sabemos que esta
constatação nos faz acreditar que o dom do sacerdócio ministerial é mesmo
dádiva divina, aceitando, discernindo e vigiando para que o mal não nos
seduza…nunca!
Por outro lado, recordamos essa passagem tão
simbólica do pastor que vai à procura da ovelha que anda dispersa… Só que hoje
não é uma, mas noventa e nove, as que se transviaram…
E muitos deles poderão ser padres, ofendidos,
maltratados e escorraçados por intransigências de muitos dos seus responsáveis.
Santo Padre, os que não pecaram – nisto que tem ocupado tanto o
foco da Igreja, embora sejam sempre pecadores – precisam de ser acarinhados,
para que não se tornem vítimas de discriminação como o foram os ‘abusos’, que tanto reclamam da Igreja católica.
Que a Verdade nos liberte e nos guie, na fidelidade
a Deus nesta Igreja que amo e sirvo.
António Sílvio Couto
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