Se
pararmos um pouco para fazermos uma autoavaliação ou uma análise ao
comportamento alheio, podemos, com alguma facilidade, ser denunciados por uma
caraterística cada vez mais acentuada: uma boa dose de narcisismo, que deixou
de o ser na vertente meramente pessoal para se tornar uma ‘doença’
generalizada. Com efeito, o melhor diagnóstico deste narcisismo é
consubstanciado na popular ‘selfie’, onde cada um se revê, se admira e como que
autocontempla…
Tentemos
explicitar, então, alguns conceitos, expliquemos certos recursos e analisemos
as consequências numa descoberta mais aprofundada das causas.
Narcisismo
é o amor de um indivíduo por si próprio ou pela sua própria imagem, tendo uma
referência ao mito de Narciso, o qual, segundo a mitologia grega, era um jovem
de grande beleza, que nunca se tinha visto a um espelho nem conhecia o seu
rosto, ao ver refletida a sua imagem num rio, apaixonou-se por si mesmo,
morreu afogado pela atração por si mesmo.
Em conceitos de psicanálise, narcisismo define um indivíduo que admira exageradamente a sua própria imagem e nutre uma paixão excessiva por si mesmo...
Segundo alguns autores – mesmo na área da antropologia católica – a tendência narcisista da nossa cultura, faz-nos entrar num processo de auto-sedução em que o desejo ocupa o lugar de dono e as relações inter-pessoais se desvanecem: vemo-nos num espelho, mas sem ter uma resposta, à semelhança de Narciso da mitologia...
Uma das referências mais atualizadas deste ambiente narcisista da nossa cultura é a moda ‘selfie’, a qual, numa análise mais psicológica, manifesta o desejo de se auto-fotografar sempre, onde e com quer que seja...desde que o ‘eu’ esteja presente e em destaque... os outros, mesmo que possam ser socialmente mais importantes, não passam do caixilho onde o ‘eu’ aparece e brilha...
Também o uso e abuso dos auscultadores com músicas em altos decibéis, sem esquecer essa outra tendência em exaltar o corpo à condição de verdadeiro objeto de culto...
Repare-se como o Narciso, que anda por aí, lida com dificuldade com as rugas e com os cabelos brancos, manifestando o medo de envelhecer e a obsessão com a saúde e tantos outros cuidados com a estética, a beleza e o uso da cosmética... podendo tornar-se quase ridículo o exagero nesta reciclagem pessoal, inter-pessoal, grupal, social e cultural.
A condição de narcisista não exclui totalmente o outro, mas deseja vê-lo constituído à sua medida e seu gosto. As relações deixam de ser inter-pessoais para passarem a ser inter-individuais. Nota-se alguma aversão à solidão, mas esta não é combatida pela abertura aos outros, mas estes são, antes, colocados e explorados pela conveniência de cada momento... entrando-se, deste modo, numa independência fictícia, embora com garras de isolamento e medo.
De facto, o narcisismo causa tristeza... Reparemos nos rostos tristes e pesados de tantos/as com quem nos cruzamos. A tendência para o fechamento de um número significativo daqueles/as com quem nos encontramos no dia-a-dia não é atenuado com as maquilhagens com que tentam disfarçar-se, antes se percebe que por detrás de muitos rostos há apreensão, tédio e confusão. O excesso de tempo que passamos ao ‘nosso’ espelho faz com que não vejamos os outros, mas continuemos centrados em nós mesmos e nos nossos interesses nem sempre os mais altruístas e sinceros. Não será que nos falta tempo, oportunidade e condições para sorrirmos a nós mesmos e para com os outros?
Em conceitos de psicanálise, narcisismo define um indivíduo que admira exageradamente a sua própria imagem e nutre uma paixão excessiva por si mesmo...
Segundo alguns autores – mesmo na área da antropologia católica – a tendência narcisista da nossa cultura, faz-nos entrar num processo de auto-sedução em que o desejo ocupa o lugar de dono e as relações inter-pessoais se desvanecem: vemo-nos num espelho, mas sem ter uma resposta, à semelhança de Narciso da mitologia...
Uma das referências mais atualizadas deste ambiente narcisista da nossa cultura é a moda ‘selfie’, a qual, numa análise mais psicológica, manifesta o desejo de se auto-fotografar sempre, onde e com quer que seja...desde que o ‘eu’ esteja presente e em destaque... os outros, mesmo que possam ser socialmente mais importantes, não passam do caixilho onde o ‘eu’ aparece e brilha...
Também o uso e abuso dos auscultadores com músicas em altos decibéis, sem esquecer essa outra tendência em exaltar o corpo à condição de verdadeiro objeto de culto...
Repare-se como o Narciso, que anda por aí, lida com dificuldade com as rugas e com os cabelos brancos, manifestando o medo de envelhecer e a obsessão com a saúde e tantos outros cuidados com a estética, a beleza e o uso da cosmética... podendo tornar-se quase ridículo o exagero nesta reciclagem pessoal, inter-pessoal, grupal, social e cultural.
A condição de narcisista não exclui totalmente o outro, mas deseja vê-lo constituído à sua medida e seu gosto. As relações deixam de ser inter-pessoais para passarem a ser inter-individuais. Nota-se alguma aversão à solidão, mas esta não é combatida pela abertura aos outros, mas estes são, antes, colocados e explorados pela conveniência de cada momento... entrando-se, deste modo, numa independência fictícia, embora com garras de isolamento e medo.
De facto, o narcisismo causa tristeza... Reparemos nos rostos tristes e pesados de tantos/as com quem nos cruzamos. A tendência para o fechamento de um número significativo daqueles/as com quem nos encontramos no dia-a-dia não é atenuado com as maquilhagens com que tentam disfarçar-se, antes se percebe que por detrás de muitos rostos há apreensão, tédio e confusão. O excesso de tempo que passamos ao ‘nosso’ espelho faz com que não vejamos os outros, mas continuemos centrados em nós mesmos e nos nossos interesses nem sempre os mais altruístas e sinceros. Não será que nos falta tempo, oportunidade e condições para sorrirmos a nós mesmos e para com os outros?
Se
atendermos ao ambiente geral em que vivemos, nos movemos e existimos, parece
que o narcisismo tomou conta dos critérios, dos valores e dos comportamentos de
uma boa parte dos nossos coevos. Com efeito, viemos mais centrados em nós
mesmos – apelidar isso de egoísmo é pouco – contando sobretudo com os nossos
interesses e suas afetações. Movemo-nos diante da ‘selfie’ com tal destreza que
já não há fotógrafo que consiga apanhar-nos distraídos e em pose natural.
Existimos como que narcotizados pelos anseios de nos fazermos notar, tanto por
boas como por menos boas razões.
Educar
para o altruísmo é, hoje, tarefa de grande e essencial necessidade, até para
salvaguardarmos o que há de humano em nós e à nossa volta…
António Sílvio Couto
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