Desde há
algum tempo que a Venezuela tem sido notícia pelas dificuldades socio-materiais
porque vem passando boa parte da população: prateleiras vazias, pessoas
esfomeadas, falta de medicamentos, fuga de milhões para o estrangeiro,
manifestações e confrontos nas ruas…governo e oposição apoiados (dentro e
fora), lutas e situações de desespero…
Em duas
décadas o país passou de ‘terra de promissão’ – quantos emigrantes foram para
lá em busca de vida melhor – para espaço de convulsão, onde os lucros do
petróleo não chegam para suportar uma espécie de classe dominadora, saída do
novo regime com traços marxistas e com laivos de ‘nomenclatura’ já vista
noutras paragens e situações.
Se
noutros países o processo comunista demorou anos a ser visto e desmascarado, na
Venezuela, algo correu muito depressa, pois os apertos dos bens essenciais
rompeu com o verniz de sucesso que fascinava tantos outros, mesmo sem terem
idêntica orientação ideológica.
= A
coletivização dos meios de produção costuma ser uma das primeiras orientações
do processo comunista de caminhada para o poder e de exercer este. Muitas vezes
o que antes dava lucro com alguma rapidez se torna em fonte de prejuízo. Aquilo
que era produtor de riqueza, no regime comunista, vai-se tornando causa de
problemas e de recuo nos lucros…para o Estado-patrão.
Talvez a
filosofia dialético-marxista tenha influenciado o pensamento de muitos dos
mentores da política no após-segunda guerra mundial, disseminando-se por várias
partes do mundo…especialmente nas culturas de pobreza e de miséria. No entanto,
com a queda do muro de Berlim, em 1989, ficou mais a manifesto que certas
operações do processo comunista estavam eivadas de dados errados e, por
conseguinte, com resultados desastrosos. Só quem não foi capaz de fazer o ‘reset’
da sua educação não percebeu que se continuassem a insistir na fórmula, os
proveitos seriam ainda piores. Isso mesmo aconteceu já no Brasil com década e
meia de regime dito socialista, agora na Venezuela e – como sempre – em Cuba,
na Coreia do Norte e um pouco, à sua maneira, em Angola ou Moçambique…
= O
sistema de ditadura e em muitos casos de culto da personalidade torna a leitura
de escolhas do processo comunista como uma fórmula de identificar causas e
consequências. Se bem que, nalguns casos, se fale do ‘coletivo’ como forma de
expressão dum pensamento/práxis de todos, nota-se a presença de uma figura que
catapulta as massas e faz com que sigam as suas orientações ‘religiosamente’.
Adstrito
a todo este processo comunista é habitual vermos uma forte aposta na
militarização do regime, levando, nalguns casos, a que o resto da população
passe até fome, mas os guardas pretorianos têm um tratamento especial. Com
efeito, tê-los do seu lado é uma espécie de garantia de prolongamento no poder…
= Há
questões de teor mais ou menos amplo que gostaríamos de colocar, sabendo que os
visados talvez não leiam estas inquietações.
. Será
que ainda não se percebeu que a pessoa humana é muito mais do que consolação da
matéria ou promoção do bem-estar efémero?
. Será
que as regalias (ditas) materiais suplantam a condição de queremos ser mais do
que animais rastejantes e satisfeitos com coisas materiais?
. Será
que os servidores do processo comunista não enxergam – ou não querem ver – que
a democracia não é só a da sua cor?
. Será
que quem conduz ou deve conduzir os povos não aprendeu a conviver com a
diferença e só faz da sua opinião a bitola do seu comportamento?
Mal vai
um povo, uma nação ou uma cultura se os intervenientes não reconhecerem as
perspetivas dos outros, pois estes merecem o mesmo respeito que nós reputamos
para nós mesmos. Atendendo aos frutos do processo comunista talvez falte o
contraditório para que sejamos todos cidadãos com igualdade de direitos e de
deveres…em qualquer parte do planeta Terra!
António Sílvio Couto
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