A
sugestão é como que uma tentativa de fazer regressar, aliciando, os milhares de
portugueses que foram saindo do nosso país por ocasião da (rotulada) crise.
Muitos deles/as eram possuidores de boas formações universitárias, mas não
conseguiam, aqui, emprego compatível com as suas aspirações nem aos investimentos
feitos em formação. Outros/as aspiravam receber reconhecimentos e vencimentos
mais compatíveis com o seu (pretenso) estatuto…social, profissional ou
ascensional. Uma boa parte foi tentar ganhar depressa o que iria auferir em mais
tempo por cá…
Diga-se
o que se quiser mas um número significativo dos emigrantes saídos por ocasião
da crise posterior a 2008 comportou-se como uma espécie de mercenário: aqui
deram-lhes as armas e lá fora conquistaram as vitórias…quase sempre de mãos
voltadas para dentro, isto é, de forma egoísta, ardilosa e interesseira!
= Será
justo que agora pretendam dar-lhes benesses contributivas, sem ofenderem os que
por cá aguentaram a crise e a conjuntura de aperto e de contenção? Não
estaremos a prolongaram uma certa exploração dos oportunistas e aventureiros,
que agora podem voltar como heróis sem honra nem mérito?
Os que
correspondam ao desafio não estarão a revelarem-se mais uma vez como
beneficiários de todas as regalias e nunca contribuintes, pelo seu trabalho na
dureza e pela participação ativa, mas antes saltimbancos em feira de vaidades e
como malabaristas de torna-viagem? Quem conheça, minimamente, a mentalidade
duma boa parte dos emigrantes saberá que são explorados na saída, esmifrados no
local de receção e usados como descartáveis na hora de
regressarem…desenraizados, apátridas e sem eira nem beira que os aceite, acolha
ou mesmo tolere, à exceção do seu dinheiro!
Infelizmente
este percurso não se modificou só porque já não moram no ‘bidonville’ ou que não
recolham o sustento e o agasalho na ‘poubelle’ das grandes cidades…seja qual
for o país. Os tempos são outros, mas a ostracização não se modificou tanto
assim…ao menos culturalmente. Vi-o, por vezes, lá fora!
= A
mentalidade que propôs aos emigrantes voltarem com IRS reduzido é a mesma que
fez alguns dos seus fundadores fugirem para o exílio e voltarem como heróis
cobardes. A cultura subjacente a esta proposta nunca teve de sujeitar-se às
agruras no estrangeiro, pois aqui tinham quem lhes pagasse as propinas e as
contestações, normalmente a coberto da noite, de meninos-rabinos-pinta-paredes.
Será que algum dos pensantes desta proposta viveu com os emigrados no duro ou
antes deambularam pelos halls de hotéis de categoria superior?
Parece
não haver dúvida que, uma boa parte dos nossos políticos profissionais, ouviu
cantar (ou pensa) numa certa capoeira, mas não conseguem distinguir entre o som
dum galo ou dum garnisé, dando mesmo a impressão de que para eles desde que
ponha ovo – o produto com retorno económico imediato – poderá ser galinha ou
outra ave…Só que o produto de retribuição nem sempre é o mesmo, antes poderá
confundir certos pensadores de má memória e/ou de menos boa conduta…
= Embora
um tanto tenuemente vimos surgir alguma contestação ao projeto iluminado de
reduzir o IRS em metade para os emigrantes que queiram regressar. Antes de tudo
será sempre fundamental saber as motivações que levaram milhares de pessoas a
saírem. Não será certamente com acenos destes que muitos voltarão, até porque –
já o referimos várias vezes, por conhecimento de causa – a possibilidade de
alargar horizontes e de experimentar outras realidades culturais vale muito
mais que todos os incentivos para a descida de impostos. Quem assim pensou e
propôs talvez tenha considerado que os emigrantes ainda são assim tão cretinos
como a sugestão manifestada…
Pensem
melhor as coisas e não ofendam a inteligência dos que podem ter saído na linha
dos navegantes das descobertas, a quem os ‘velhos do Restelo’ não intimidam,
antes incorrem em ridículo, ontem como hoje!
António
Sílvio Couto
Sem comentários:
Enviar um comentário