Meia-volta
é costume ouvir-se a expressão: a culpa
não pode morrer solteira. Que alcance tem esta frase? Quer dizer algo de
positivo ou revela alguma desconfiança e, por isso, de negativo? Será que a
culpa não é mais solteira do que assumida? Quem deixa a culpa solteira, será
por vergonha, inépcia ou cobardia?
O
contrário de deixar a culpa solteira é – subentende-se – assumir as suas
culpas, sejam elas visíveis e atuais, sejam remotas, presumidas ou reais. Com
efeito, muitas pessoas vão tentando aligeirar as suas responsabilidades não
assumindo as suas culpas nem colhendo os frutos daquilo em que se meteram e que
depois não correu como era desejável.
Mas pior
do que a ‘culpa solteira’ ou a ‘culpa casada’ (isto é, assumida) é a ‘culpa divorciada’,
pois esta vai tentando adiar o que é claro para muitos, mas só os próprios é
que não o veem nem o reconhecem… Vejamos, então, alguns casos de ‘culpa
divorciada’ ou seja quando as desculpas são mais agravantes do que a assunção
dos erros.
* Quando
o governo canta vitória nos incêndios mais recentes, só porque não morreu
ninguém – bem bastará o peso da culpa nas mortes do ano passado e foram mais de
cem – mas que deixou um rasto de destruição devido a incúria, má organização e
deficiente combate às chamas…com bastantes casas queimadas e vidas destroçadas…
Esta culpa ainda não foi assumida por quem de direito e até se fez (já)
campanha eleitoral com palavras de mau gosto e deficiente enquadramento…
* Quando
uns tantos ‘democratas’ de trazer por casa exigem que convidados para a web
summit sejam excluídos pela simples razão de que não são da sua coloração e nem
perfilam a sua ideologia, ficamos a saber que a culpa dos outros é a de não
pensarem como eles, embora certas ideias sejam menos bem respeitáveis… Ora nunca
vimos que os agora protestantes tenham alguma vez assumidos os seus erros e
crimes…noutros países antes e atualmente, se bem que à sombra dos seus ideais
internacionalistas… A culpa está, nitidamente, divorciada da vida de tantos/as
democratas disfarçados/as de ditadores de partido único!
* Quando
vimos as reações de certas ‘juventudes’ partidárias sob a possibilidade da
reintrodução do serviço militar obrigatório, logo sentimos que há por aí muita
gente que não quer reconhecer a falta de um plano de educação dos mais novos,
preferindo-os de rédea solta e sem restrições às suas voragens de sucesso
económico… Falta a alguns dos políticos recentes a ‘escola da tropa’, onde se
adquiria disciplina, companheirismo, espírito de sacrifício, abnegação e amor à
pátria… Também neste aspeto alguns dos dirigentes têm de assumir as suas
culpas, não para haja guerra, mas para que tenhamos uma juventude com
valores…muito além da preguiça, da subsidiodependência ou confusão moral…
*
Perante certas notícias e investigações – mais no estrangeiro do que por cá –
sobre atos imorais dalguns eclesiásticos, vemos crescer a vergonha de que não
se tenha cuidado de fazer uma triagem mais séria e exigente de muitos dos que
aspiravam ao sacerdócio ministerial. Por parte do Papa – já desde Bento XVI e
agora com mais energia Francisco – temos visto serem traçadas orientações
muitos implacáveis para com os prevaricadores. Não poderemos baixar,
minimamente, a guarda só porque decresceu a procura, mas teremos de assumir as
culpas, os erros e os maus discernimentos mesmo nos tempos mais recentes…Os
nossos irmãos na fé merecem e precisam de quem os sirva com o máximo de pureza
e de oblação, reconhecendo cada qual os seus pecados, deles pedindo perdão a
Deus e à Igreja.
* Quando
já se jogam os campeonatos do futebol, temos de ter a coragem de exigir dos
vários intervenientes as culpas dos insucessos, mesmo que camuflados de
críticas a quem os possa colocar em cheque, isto é, sob fogo de não-pacto com
conluios e manipulações. Está na hora de que os que jogam a falar sejam
culpados do ambiente de guerrilha em que colocam quem joga, quem dirige ou quem
arbitra… Seria muito útil que se soubesse com verdade qual é o sharing de
audiências dos programas onde se vê e escuta a pior má-língua… Estes
incendiários televisivos precisam de ser castigados com a não-audiência das
suas alarvidades!
Muitos
mais casos haverá de culpa divorciada, que precisamos de conhecer, dando a
todos um período de correção, não deixando que os autores e fautores não sejam
castigados devidamente…
António Sílvio Couto
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