Sempre
foi uma tentação, mas nos tempos mais recentes parece que está mais aferrado o
problema: uma leitura demasiado mundana das questões que ocorrem na Igreja
católica, atingindo duma forma especial o Papa Francisco naquilo que ele diz,
faz e profetiza…em linguagem cristã/católica.
Há
questões que alguns pretendem ler, interpretar e, por vezes, discernir numa
perspetiva de tonalidades extremas: a preto ou a branco, sem incluir a imensa
paleta de cores…não a cingindo à tutela do arco-íris, símbolo duma outra movimentação
social, cívica e cultural transnacional…
Nesta
época de grande crise, a Igreja católica está submetida a uma espécie de inquisição
popular – dinamizada por uma rede de meios de comunicação social e secundada
por outras forças mais subtis de índole amoral – em que os seus membros e
ministros, fiéis e simpatizantes, regulares ou seculares como que têm de provar
a não-falta – quando na justiça é o contrário – que lhes possam imputar há mais
ou menos tempo… Ao contrário daquilo que diz a Bíblia Sagrada para muitos dos
acusadores – sabe-se lá com que fundamento ou com que interesse – a culpa
ultrapassa miríades de gerações que antecederam quem agora é julgado…mesmo sem
possibilidade de defesa.
Um tanto
de forma ténue têm começado alguns prelados, em Portugal, a virem a terreiro
defender as posições do Papa Francisco, considerando uns que há uma campanha
orquestrada contra ele, dentro e fora do espaço eclesial e outros solicitando
que se reze pelo Sumo Pontífice, pois as atrocidades que lhe são apresentadas
pelo encobrimento de outros purpurados são mais do que coincidências, antes
revestindo a capa de atingirem o pastor e as ovelhas serem dispersas…
Naquilo
que é o conceito de Igreja e a forma de nela participar e intervir podemos
considerar que muitos dos nossos ‘praticantes’ são mais conduzidos pelo que se
diz (ou pode dizer) de mal daqueles que têm o cuidado pastoral para com eles do
que de terem consideração e estima por quem lhes dá o máximo que tem e, mesmo que
não seja bem entendido, ainda continuam a dedicar-se a eles…sem gratidão nem
reconhecimento. Talvez estejamos mais numa visão dos padres/bispos/papa ‘funcionários’
das coisas sagradas e enquanto delas possam necessitar do que em sermos
entendidos como irmãos com eles e pastores para eles. Que ninguém se iluda, não
estamos a salvo de qualquer atoarda de maledicência ou de difamação, pois, para
que tal possa acontecer, bastará que não se faça o que os ‘paroquianos’ desejem
na sua visão de democracia e estaremos sob a alçada da malquerença e mesmo da
acusação sem nexo ou mesmo sem rosto…
* Como
poderemos criar condições para que aqueles/as para quem celebramos as coisas
sagradas nos entendam como mistério em Cristo na Igreja?
* Como
poderemos dizer o que somos sem nos afirmarmos em excesso nem num plano de superioridade
mais ou menos tolerado, mas não-aceite?
* Como
poderemos ser cristãos com eles e ministros para eles, à boa maneira com que S.
Agostinho se defina e viveu?
* Como
poderemos viver ensinando e ensinar vivendo, tendo em conta a discrepância de
conceitos e de critérios mais mundanos do que cristãos em muitos dos espaços de
celebração da fé?
Notas
- Esta
dorida partilha/reflexão escrevo-a horas antes de ter início o nono simpósio do
clero de Portugal, que se realiza de 3 a 6 de setembro, em Fátima, subordinado
ao tema: o padre – ministro e testemunha
da alegria do Evangelho. É habitual participar um décimo dos padres do
nosso país, nalguns casos manifestando que os ‘repetentes’ são quase sempre os
mesmos, isto é, os que costumam ir voltam, os que nem sempre vão, primam pela
ausência…
- Num
tempo em que se torna fundamental manifestar humildade, espírito de comunhão e
capacidade de concertação de linguagens, de métodos e de aprendizagens talvez este
tempo de simpósio possa (ou devesse poder) ser um tempo de refontalização e de
testemunho para com os outros fiéis…
- Deste
simpósio português deveria sair um voto e um sinal de compromisso para com o
Papa Francisco nesta hora de tão dura provação à frente da condução da Igreja
católica.
António Sílvio Couto
Sem comentários:
Enviar um comentário