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segunda-feira, 3 de setembro de 2018

Tentáculos mundanos…sobre a Igreja


Sempre foi uma tentação, mas nos tempos mais recentes parece que está mais aferrado o problema: uma leitura demasiado mundana das questões que ocorrem na Igreja católica, atingindo duma forma especial o Papa Francisco naquilo que ele diz, faz e profetiza…em linguagem cristã/católica.

Há questões que alguns pretendem ler, interpretar e, por vezes, discernir numa perspetiva de tonalidades extremas: a preto ou a branco, sem incluir a imensa paleta de cores…não a cingindo à tutela do arco-íris, símbolo duma outra movimentação social, cívica e cultural transnacional…

Nesta época de grande crise, a Igreja católica está submetida a uma espécie de inquisição popular – dinamizada por uma rede de meios de comunicação social e secundada por outras forças mais subtis de índole amoral – em que os seus membros e ministros, fiéis e simpatizantes, regulares ou seculares como que têm de provar a não-falta – quando na justiça é o contrário – que lhes possam imputar há mais ou menos tempo… Ao contrário daquilo que diz a Bíblia Sagrada para muitos dos acusadores – sabe-se lá com que fundamento ou com que interesse – a culpa ultrapassa miríades de gerações que antecederam quem agora é julgado…mesmo sem possibilidade de defesa.

Um tanto de forma ténue têm começado alguns prelados, em Portugal, a virem a terreiro defender as posições do Papa Francisco, considerando uns que há uma campanha orquestrada contra ele, dentro e fora do espaço eclesial e outros solicitando que se reze pelo Sumo Pontífice, pois as atrocidades que lhe são apresentadas pelo encobrimento de outros purpurados são mais do que coincidências, antes revestindo a capa de atingirem o pastor e as ovelhas serem dispersas…

Naquilo que é o conceito de Igreja e a forma de nela participar e intervir podemos considerar que muitos dos nossos ‘praticantes’ são mais conduzidos pelo que se diz (ou pode dizer) de mal daqueles que têm o cuidado pastoral para com eles do que de terem consideração e estima por quem lhes dá o máximo que tem e, mesmo que não seja bem entendido, ainda continuam a dedicar-se a eles…sem gratidão nem reconhecimento. Talvez estejamos mais numa visão dos padres/bispos/papa ‘funcionários’ das coisas sagradas e enquanto delas possam necessitar do que em sermos entendidos como irmãos com eles e pastores para eles. Que ninguém se iluda, não estamos a salvo de qualquer atoarda de maledicência ou de difamação, pois, para que tal possa acontecer, bastará que não se faça o que os ‘paroquianos’ desejem na sua visão de democracia e estaremos sob a alçada da malquerença e mesmo da acusação sem nexo ou mesmo sem rosto…

* Como poderemos criar condições para que aqueles/as para quem celebramos as coisas sagradas nos entendam como mistério em Cristo na Igreja?

* Como poderemos dizer o que somos sem nos afirmarmos em excesso nem num plano de superioridade mais ou menos tolerado, mas não-aceite?

* Como poderemos ser cristãos com eles e ministros para eles, à boa maneira com que S. Agostinho se defina e viveu?

* Como poderemos viver ensinando e ensinar vivendo, tendo em conta a discrepância de conceitos e de critérios mais mundanos do que cristãos em muitos dos espaços de celebração da fé? 

Notas

- Esta dorida partilha/reflexão escrevo-a horas antes de ter início o nono simpósio do clero de Portugal, que se realiza de 3 a 6 de setembro, em Fátima, subordinado ao tema: o padre – ministro e testemunha da alegria do Evangelho. É habitual participar um décimo dos padres do nosso país, nalguns casos manifestando que os ‘repetentes’ são quase sempre os mesmos, isto é, os que costumam ir voltam, os que nem sempre vão, primam pela ausência…

- Num tempo em que se torna fundamental manifestar humildade, espírito de comunhão e capacidade de concertação de linguagens, de métodos e de aprendizagens talvez este tempo de simpósio possa (ou devesse poder) ser um tempo de refontalização e de testemunho para com os outros fiéis…

- Deste simpósio português deveria sair um voto e um sinal de compromisso para com o Papa Francisco nesta hora de tão dura provação à frente da condução da Igreja católica.

 

António Sílvio Couto


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