O
mercado de bens de grande consumo caiu cerca de 3% do seu volume, sendo que o
setor da alimentação em casa é um dos mais afetados no último ano, com as
compras em supermercado a terem uma queda bastante significativa…
Se o (apelidado)
tempo de crise levou a que as pessoas deixassem tanto de comer fora, mais
recentemente, sete em cada dez pessoas acreditavam que, se o poder de compra
aumentar, comer fora poderá voltar a ser uma opção, notando-se, assim, que
houve hábitos que não ficaram desse tempo de austeridade…
Não está
em causa cercear qualquer direito das pessoas e das famílias, de modo mais
abrangente, mas bastou um pequeno sinal de alívio – dizem que financeiro, mas
não se sabe se é mesmo económico! – para que fossem retomadas práticas – no
todo ou em parte – de per si reveladoras de que uma franja razoável da
população não vive nem cultiva a poupança, antes prefere viver como se não haja
amanhã…
=
Questões a colocar: comer fora é bom ou menos mal para a família? Comer fora
fica mais barato ou mais caro à bolsa dos portugueses? As casas são lares de vida
familiar ou espaços de circunstância para o resto da vida social? Haverá algum
projeto ideológico para fazer com que a família não se reúna, em casa, à hora
da refeição? Não estaremos a ser vítimas e réus de projetos arquitetónicos de
casas pequenas e sem espaços de convívio suficientes? A cultura dalguma vida
social não estará enferma de certos valores não-cristãos? Estarão os cristãos
em geral e os católicos em particular preparados para refletirem sobre a
importância/sacralidade da família e da casa em especial?
Não
basta lamuriar-se sobre o estado da família. De facto, o leite derramado –
sobre o qual dizem que não vale a pena chorar – é digno de ser atendido, pois
do seu desperdício poderá ser colhido algo mais do que tristezas e resignações.
Com efeito, fomos deixando correr como irremediável a situação da família,
criando condições para que esse santuário da vida e da comunhão seja infetado
de muitas bactérias e de bastantes vírus capazes de enganar os mais pretensos
avisados…
=
Voltamos a uma estória com laivos de incidência moralista por entre tiques de algum
humor e a possibilidade de ser oportuna. É, de novo, a visão de três coisas que
têm sido suficientemente vulgarizadas e dadas como ‘naturais’ na nossa cultura
e na vida da maior parte das famílias.
Quais
são três objetos/situações – quais parábolas hodiernas – a que nos habituamos e
quase não dispensamos no nosso dia-a-dia? As fraldas descartáveis, o micro-ondas
e a aspirina. Explicando:
* As
fraldas descartáveis são uma espécie de símbolo do’ usa-e-deita-fora’, pois só
têm utilidade uma vez… Mais do que um objeto, nas fraldas descartáveis vemos
tantas outras situações de vulnerabilidade e de efémero com que nos debatemos
cada dia…desde que nada atrapalhe a rapidez e velocidade do tempo!
* O
micro-ondas é uma espécie de modelo-do-sem-tempo, do fazer rápido e da falta de
amadurecimento das coisas…mesmo da alimentação. Já não há paciência para
cozinhar, com condimentos que dão sabor e que testemunham a dedicação aos
outros. Comprar pré-cozinhado ou já feito como que resolve a pressa, mas nem
sempre dá conteúdo e sabor àquilo com que, dizemos, nos alimentamos. Com que
facilidade se transformam a mesa de família e mesmo a cozinha em espaços frios
e sem calor humano ou de presença humana e humanizante… Nem a ida ao
restaurante – sobretudo se se tem meios económicos ou financeiros – poderá
suprir a necessidade de partilha em família e como família… Mal vai uma família
se fizer da mesa de refeição um mero espaço de mostrar-se ou de frieza das
relações…Isso mais ou mais cedo acabará!
* A
aspirina e os seus parceiros analgésicos de luta contra a dor como que nos dão
a aferição ao modo como enquadramos a dor e o sofrimento na nossa vida e como
isso mesmo é visto e vivido pelos outros e com os outros. A maleta dos
analgésicos é hoje quase um adereço como outros o foram no passado – espelho,
pente/escova, lenço de assoar ou qualquer outro – em ordem a combater a mais
pequena maleita, desde que isso não nos faça ficar achacado e limitado na vida
pessoal e social…
Podemos
andar com pressa – dizem que é stress! – mas não podemos confundir os factos
com a história e esta escreve-se com pessoas, através de gestos e com amor, feito
de presença, com ternura e em amizade!
António Sílvio Couto
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