Já foi
tempo em que o festival da canção – de apuramento para escolher um
representante para a eurovisão – era um acontecimento relevante no panorama dos
espetáculos no nosso país… Com os resultados miseráveis de mais de cinquenta anos
lá fora, foi caindo o interesse cá dentro. Com a vitória inesperada, no
contexto europeu, o ano passado do nosso concorrente, quiseram dar novo impulso
a este festival, tanto na criação, como na visibilidade do dito…sem que isso
tenha gerado grande entusiasmo…para além do círculo por onde se movem esses
interesses e vivências musicais.
Por
várias razões não vi nada das pré-seleções para aquilo que foi feito no domingo
passado, apurando as catorze canções, de onde foi selecionada a nossa
representante para o festival da eurovisão e realizar, em Lisboa, em meados de
maio. O meu interesse foi muito pouco ou quase nulo, embora tenha assistido à
declaração de vitória de quem se impôs ao resto da concorrência… Foi como não
ter visto o desenrolar do ‘jogo’ e tenha colhido o resultado final, sem ter
sabido como decorreu a ‘batalha’… tentando adivinhar os ‘meandros’ das
conclusões derradeiras!
As
palavras colocadas entre aspas – jogo, batalha e meandros – formam como que uma
explicação para o uso do termo ‘fatela’ com que se titula este texto, sob a
tónica da interrogação. Com efeito, na linguagem mais ou menos juvenil, fatela
tem a ver com algo que não tem qualidade nem requinte ou bom gosto…andando a
roçar o pimba, rasca, foleiro ou pindérico… Se acrescentarmos a este termo fatela
as três palavras que referimos – jogo, batalha ou meandros – estaremos como que
a fazer uma avaliação ao dito festival, onde parecia que se vivia um jogo do
qual as regras estavam relativamente inquinadas – veja-se as tricas com uma das
canções, acusando-a de plágio – numa batalha nem sempre lisa e sincera por
todos os competidores, fazendo com que os diversos meandros se possam tornar suficientemente
obscuros para a maioria do povo…
= Porque
será que as canções levadas aos festivais, mesmo as vencedoras, não fizeram
grande sucesso entre o público consumidor de música, sobretudo daquele género,
dito um tanto ligeira? Porque será que os maiores vendedores de música popular
ou outra nem sempre concorreram ao dito festival da canção? Será coincidência
ou foi um percurso assumido esse de os cantores/as mais populares fugirem da
prestação de provas no festival da canção? Não haverá algo de ideológico –
sabemos como a música é veículo de difusão – em muitos dos concursos de
festival?
Apesar de
ser uma cançãozinha de embalar – com o título ‘jardim’ – a vencedora deste ano
terá estaleca para vingar nas lutas que tem de enfrentar? Será que a máquina
posta à disposição do vencedor do euro-festival do ano passado vai estar
disponível para este ano? Até que ponto seremos levados a sério pelo mundo do
cançonetismo – tal como já aconteceu no futebol e noutros campos – por forma a
não parecer que a vitória de 2017 foi mais do que uma confluência de bons
desempenhos, mas sem continuação?
= Há
momentos da nossa história coletiva recente que nos fizeram quase acreditar que
algo de bom se evidencia, quando tem a intervenção de portugueses. Não há
dúvida, quando temos condições, estamos entre os melhores, tanto da Europa,
como para com o resto do mundo. Temos vindo a aprender com muitos dos nossos
falhanços, pois o sucesso precisa de programação, de trabalho, de execução, de
avaliação e, sobretudo, de dedicação. Quando estes itens são percorridos vemos
que ombreamos com os que ganham admiração pelo mundo além…
Nesta
fase de competição de todos contra todos, podemos considerar que ‘amadorismo’
não pode ser contraposto a profissionalismo, mas o dito amadorismo pode e deve
consubstanciar a capacidade de dedicação, de vivência em amar aquilo que se faz
com convicção e de referência à suplantação das nossas limitações pela entrega
às causas e, sobretudo, pela união de esforços em vencer…Assim se pode explicar
que tantos/as portuguesas estejam entre os mais galardoados nas áreas
científicas, tecnológicas, desportivas, de performance em campos que julgávamos
inatingíveis…
Temos de
nos nivelar pelos mais capazes, deixando de nos bastarmos com medalhas de
consolação e, tantas vezes sem nexo, com essa doença coletiva nacional da
resignação. Se nos unirmos havemos de vencer!...
António Sílvio Couto
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