As
imagens eram quase ridículas: o PR e o PM andavam a fazer-de-conta que limpavam
terrenos em volta das casas… as roupas/indumentária não condizia com o terreno
que pisavam e esqueceram-se de colocar no guião que era para tirar a gravata e
nem calçado não condizia com o terreno que pisavam… pareciam dois ‘patos
bravos’ (com os respetivos acompanhantes) a tentar chafurdar em águas
fora-de-pé…
Dos
desafiados a entrarem na dança só uns poucos, que nem tinham a categoria de
tantos…embora o cenário tenha sido aprimorado para as televisões, excluindo os
que não eram da mesma cor ou sem simpatia pela façanha. Com efeito, onde
estiveram os deputados da maioria da geringonça? Não quiseram fazer parte do
espetáculo ou não concordaram com mais este número quase-circense? Para além
dalguns ténues e parcos ministros, por onde andaram os secretários de estado:
isso é tarefa menos válida para as suas funções?
Este ato
foi, de facto e de verdade, uma ação de propaganda para algum citadino menos
ruralizado engolir, mesmo que sob reserva. Por artes do quê tinham de ser
mostrados (tantos) militares nesta ação? Foi para limpar as trapalhadas de
Tancos e afins? Se isto era uma ação cívica, porque tiveram esses tais
militares e outros intervenientes, dois dias de folga após o tempo de
encenação? A quem pretendem enganar? Com tanta manipulação torna-se quase
natural – se ainda tivermos tempo de reflexão – que se gere uma certa repulsa e
veemente condenação pelo uso de bens do erário público em favor dos interesses
privados/ideológicos/partidários…
= Não
deixa de ser sintomático que nos derradeiros fogos – já no mês de fevereiro –
tenha sido notícia um concelho, que menos de duas semanas antes tinha sido
apresentado como modelo do combate a incêndios. O autarca é da cor do governo e
tem pretensões a ser alguém no espetro nacional, mas esta incongruência ainda
lhe deixará espaço às suas pretensões? As imagens mostravam fogo em redor da
autoestrada, enquanto a chuva que caía não conseguia suster o incêndio. O que
falhou: as palavras ou os atos? Aquele espetáculo no Alto Minho revela muito
daquilo a que temos vindo a assistir no nosso país: palavras um tanto
sedutoras, mas contraditas na prática…boas intenções propagandeadas até à
exaustão, mas desmentidas quando são avaliados a sério os acontecimentos!
= E, de
repente, o país começou a olhar para a floresta, a limpar os terrenos em volta
das casas e, sobretudo, a dar consciência a uma imensa maioria de que o tema
dos incêndios é mais sério do que se julga, trazendo para a praça pública o que
antes não passava duma ruralidade mal-assumida! Isso será um tema essencial
para a política de todos e não só dos que labutam no campo, dos que têm
fortunas em árvores, mas que não passam dum património esquecido e envelhecido…
Como se
costuma dizer na linguagem popular: mais vale uma mão inchada do que uma enxada
na mão! Efetivamente muitos dos nossos responsáveis viveram, por ocasião do tal
dia de limpeza das florestas, um tanto a preceito este trocadilho, na medida em
que foram mais figurantes duma representação cénica do que participantes numa
ação coletiva de bem-fazer…
Este
episódio da limpeza das matas pode ser tomado como algo simbólico duma certa
forma de fazer política à portuguesa: monta-se o espetáculo e depois tenta-se
ver como resulta. Se não houver vozes discordantes, tal resultou em favor de
quem se fez assim usar. Se se verificar alguma discordância encolhe-se o cantar
de vitória, esperando outro tempo e talvez outra oportunidade – aproveitando as
distrações com outros factos mais populares – para lançar novo recurso de
propaganda e de intoxicação dos mais incautos ou crédulos…do sucesso em curso!
= Dá a
impressão que precisamos de gente mais séria e leal na arte de estar ao serviço
dos outros. Precisamos duma comunicação social mais exigente e crítica das
manhas do poder. Precisamos de pessoas que pensem pela sua cabeça e não se
deixem levar na onda do mais fácil e aparentemente convincente. Precisamos de
não ter medo de incentivar que apareçam jovens mais atuantes segundo critérios
duma ética do interesse dos outros em preferência aos seus egoísmos e
facilidades…
António Sílvio Couto
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