Ao
ouvirmos e ao vermos as reações ‘oficiais’ e/ou oficiosas ao mais recente
relatório sobre os fogos de outubro do ano passado parece que estamos perante
um largo setor (político) que ainda não se apercebeu da sua responsabilidade
naquela como na anterior tragédia de junho… Com efeito, não basta enrolar as
palavras sem dizer nada de substantivo, antes quedando-se pelos adjetivos
incoerentes, ignorantes e abusivos…Varrer para debaixo do tapete o que possa
incomodar é, antes de tudo, uma espécie de negligência e de má conduta…ética
(dita republicana), social e cultural.
Que
importa dizer que se aceita as propostas do relatório para o pseudo-futuro, se
não se assumem as culpas do passado? Será isto revelador dalguma esperteza de
quem manda ou manifesta a cobertura dalguma comunicação social ao serviço do
poder estabelecido, tolerado e desculpado?
Como se
pode entender – com razoabilidade e um mínimo de sensatez – que se pretenda
fazer-de-conta que nada se passou, quando morreram vítimas de incúria centenas
de pessoas em fogos não devidamente combatidos e, ao que dizem os técnicos, sem
meios adequados? Foi a cristalização de quatro anos de política florestal – do
governo anterior – que conquistou tão altas façanhas de terror? Não haverá quem
não pense sobre o que diz antes de dizer sem pensar ou devia saber dizer? Para
quem ‘limpou’ das fotos os adversários, noutros regimes totalitários não são,
afinal, esses que agora suportam a governação? A história não se repete, mas
saber um pouco da sua filosofia faria bem a quem quer fazer crer na recriação
abusiva dos factos e dos episódios… Se quem governa não tem culpa, porque
aceita, então, pagar indemnizações tão chorudas a quem se apresentou como
vítima e a seus familiares?
= Muitos
dos nossos ‘políticos’ – a colocação entre aspas quer tão-somente significar
que esta designação é, por vezes, abusivamente dada a figuras que não têm o
interesse comum, mas antes quase só o seu! – podem ser figurados pela
simbologia dos morcegos…sem que quase nenhum tenha as caraterísticas do ‘batman’…
defensor dos outros em aflição sob a forma de filantropia.
‘Morcego’
vem das palavras ‘mur’ (rato) e ‘cego’, isto é, rato-cego… Por isso, incluir
certas figuras e figurões na classe dos morcegos será como que vê-los como
ratos cegos, que, para além de voarem de noite, se alimentam à socapa, empestando
os ambientes e dando-lhes um ar lúgubre e malcheiroso…
= Ao
observarmos a nossa vida coletiva – nas suas mais diversificadas expressões –
dá a impressão que uma razoável maioria se comporta como os morcegos: veem por
andarem no escuro e o seu olhar é de tal forma turvo que, colocando os óculos
do interesse ideológico, religioso ou setorial, pouco mais conseguem enxergar
do que aquilo onde se reveem em contentamento. De facto, falta inteligência
para conseguir, ao menos de forma intelectual, compreender as coisas, as
pessoas e os acontecimentos… Mas falta ainda discernimento capaz de saber
medir, avaliar e ponderar o que é mais conveniente para todos e não só para os
que lhe são próximos, correligionários e adeptos.
Não será
com dirigentes-morcego que seremos capazes de descobrir novos líderes para os
tempos futuros, pois se se vão adulando uns aos outros para terem lugar no
pedestal, como encontraremos novas visões com alcance para além do perímetro do
próprio corpo ou só com o alcance do seu quintal mal-amanhado? É urgente
fomentar escolas de liderança onde seja premiado o mérito e não a mera
confiança naqueles que dizem sim ao chefe…seja um autarca, um governante, um
dirigente desportivo ou até um responsável dalguma estrutura eclesial… Dar
responsabilidade, seja a quem for, implica riscos e não serão os meninos/as de
corte que poderão gerar renovação, antes tentarão gerir a continuidade pela
contenção… do ‘status quo’!
Os
morcegos voam, mas nem sempre atingem grandes distâncias. Dizem que se se
envencilharem nos cabelos será difícil de os tirar… Há por aí muitas cabeças
onde os morcegos estão a fazer criação. Até quando?
António Sílvio Couto
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