Na
Europa estamos a viver novos ‘ismos’: modismo, comodismo, consumismo,
facilitismo, imediatismo e mediatismo. Esta afirmação foi por João de Deus
Pinheiro numa intervenção que proferiu mas jornadas de atualização do clero das
dioceses do sul, que decorreram, em Albufeira, de 29 de janeiro a 1 de
fevereiro.
João de
Deus Pinheiro falava na conferência: ‘Os desafios que a Europa e o projeto
europeu nos colocam’. As jornadas das dioceses de Algarve, Beja, Évora e
Setúbal tiveram por tema: «Desafios para uma Igreja ‘semper renovanda’:
secularização, diálogo e discernimento».
Mais de
uma centena de padres e diáconos refletiram sobre o tema da secularização, do
diálogo com o mundo e a evangelização da cultura…numa Igreja em mudança e em saída.
Depois
dos quatro ‘ismos’ – tão refletidos por ocasião da revolução de abril de 1974:
comunismo, fascismo, capitalismo e socialismo – na Europa, sobretudo a ‘geração
do bem-estar’, na interpretação de João de Deus Pinheiro, tem de refletir sobre
a globalização, reganhando os valores; sobre o envelhecimento da população, com
repercussão nos custos da saúde e o fluxo migratórios; sobre as alterações
climáticas, tendo em conta as novas formas de energia; sobre um novo paradigma
das relações internacionais, sabendo que precisamos duma Igreja forte na defesa
dos nossos valores cristãos.
Vejamos,
então, o significado dos seis ‘ismos’ enunciados por João de Deus Pinheiro,
nesta Europa onde ‘ o balão’ do sucesso europeu está a desencher, questionando
as gerações mais-novas as conquistas conseguidas pelos seus pais:
* Modismo – o fator ‘moda’ cria um viver
ao sabor das coisas da moda e os vários filões que a exploram. Estar fora de
moda é quase uma exclusão, marginalização ou perda de visibilidade social nos
círculos mais próximos ou mais alargados!
* Comodismo – depois dos sacrifícios pedidos
à geração do após-segunda guerra mundial, que resultou na construção da União
Europeia, agora pensa-se que tudo é irreversível e dá-se uma razoável
acomodação, onde o esforço parece uma heresia para os mais novos… Algo parece
estar em risco grave!
* Consumismo – uma espécie de nova religião,
onde as essenciais necessidades quase se reduzem à satisfação das coisas
materiais…As novas catedrais do consumo estão pejadas de fiéis, numa
substituição da religiosidade popular que tinham os espaços dos templos como
pontos de encontro e de vivências mais individuais do que coletivas…
* Facilitismo – a maioria dos europeus – e dos
cidadãos da cultura ocidental – vive, para além dalgum facilitismo ético/moral,
ainda mais num certo ambiente em que palavras como sacrifício, dificuldade,
exigência, disciplina e afins estão banidas do pensamento e da práxis normal.
Com alguma aversão àquilo que custa se faz corresponder para si e para os outros
o que possa condicionar a liberdade pessoal!
* Imediatismo – se quisermos usar uma imagem
para ilustrar esta faceta, poderemos servir-nos da máquina de venda de
bebidas/comidas, onde se coloca uma moeda e logo sai o produto…com trocos e
tudo. Por vezes a difusão dum certo espírito ‘new age’ cultiva-se através duma
cultura de que as pessoas valem enquanto servem, imediatamente, os nossos
desejos, pretensões e (quase) ideais!
* Mediatismo – o que não aparece na
comunicação social não existe nem tem expressão pública…porque não-publicada. O
culto dos media – onde as redes sociais têm expressão crescente e cativante –
faz-nos viver nalguma superficialidade intelectual, sob uma cultura da imagem,
tanto a do próprio como aquela a que temos acesso neste mediatismo!
= Talvez
estes seis ‘ismos’ não tenham a mesma importância nem idêntico significado na
nossa vida, mas são vertentes que nos devem fazer refletir nesta Europa…nem
sempre claramente dos cidadãos!
Precisamos
de reencontrar as raízes desta Europa, que tem vivido em paz – à exceção do
conflito nos Balcãs – nos últimos setenta anos…embora pareça mais uma paz podre
do que uma paz feita de convicções e compromissos entre todos. Com efeito, nem
tudo está adquirido para a atual e a próxima geração. Por isso, queira Deus que
saibamos aproveitar quem nos avisa e assim nos previne.
António Sílvio Couto
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