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quinta-feira, 1 de fevereiro de 2018

Novos ‘ismos’ da Europa


Na Europa estamos a viver novos ‘ismos’: modismo, comodismo, consumismo, facilitismo, imediatismo e mediatismo. Esta afirmação foi por João de Deus Pinheiro numa intervenção que proferiu mas jornadas de atualização do clero das dioceses do sul, que decorreram, em Albufeira, de 29 de janeiro a 1 de fevereiro.

João de Deus Pinheiro falava na conferência: ‘Os desafios que a Europa e o projeto europeu nos colocam’. As jornadas das dioceses de Algarve, Beja, Évora e Setúbal tiveram por tema: «Desafios para uma Igreja ‘semper renovanda’: secularização, diálogo e discernimento».

Mais de uma centena de padres e diáconos refletiram sobre o tema da secularização, do diálogo com o mundo e a evangelização da cultura…numa Igreja em mudança e em saída.

Depois dos quatro ‘ismos’ – tão refletidos por ocasião da revolução de abril de 1974: comunismo, fascismo, capitalismo e socialismo – na Europa, sobretudo a ‘geração do bem-estar’, na interpretação de João de Deus Pinheiro, tem de refletir sobre a globalização, reganhando os valores; sobre o envelhecimento da população, com repercussão nos custos da saúde e o fluxo migratórios; sobre as alterações climáticas, tendo em conta as novas formas de energia; sobre um novo paradigma das relações internacionais, sabendo que precisamos duma Igreja forte na defesa dos nossos valores cristãos.

Vejamos, então, o significado dos seis ‘ismos’ enunciados por João de Deus Pinheiro, nesta Europa onde ‘ o balão’ do sucesso europeu está a desencher, questionando as gerações mais-novas as conquistas conseguidas pelos seus pais:

* Modismo – o fator ‘moda’ cria um viver ao sabor das coisas da moda e os vários filões que a exploram. Estar fora de moda é quase uma exclusão, marginalização ou perda de visibilidade social nos círculos mais próximos ou mais alargados!

* Comodismo – depois dos sacrifícios pedidos à geração do após-segunda guerra mundial, que resultou na construção da União Europeia, agora pensa-se que tudo é irreversível e dá-se uma razoável acomodação, onde o esforço parece uma heresia para os mais novos… Algo parece estar em risco grave!

* Consumismo – uma espécie de nova religião, onde as essenciais necessidades quase se reduzem à satisfação das coisas materiais…As novas catedrais do consumo estão pejadas de fiéis, numa substituição da religiosidade popular que tinham os espaços dos templos como pontos de encontro e de vivências mais individuais do que coletivas…

* Facilitismo – a maioria dos europeus – e dos cidadãos da cultura ocidental – vive, para além dalgum facilitismo ético/moral, ainda mais num certo ambiente em que palavras como sacrifício, dificuldade, exigência, disciplina e afins estão banidas do pensamento e da práxis normal. Com alguma aversão àquilo que custa se faz corresponder para si e para os outros o que possa condicionar a liberdade pessoal!

* Imediatismo – se quisermos usar uma imagem para ilustrar esta faceta, poderemos servir-nos da máquina de venda de bebidas/comidas, onde se coloca uma moeda e logo sai o produto…com trocos e tudo. Por vezes a difusão dum certo espírito ‘new age’ cultiva-se através duma cultura de que as pessoas valem enquanto servem, imediatamente, os nossos desejos, pretensões e (quase) ideais!

* Mediatismo – o que não aparece na comunicação social não existe nem tem expressão pública…porque não-publicada. O culto dos media – onde as redes sociais têm expressão crescente e cativante – faz-nos viver nalguma superficialidade intelectual, sob uma cultura da imagem, tanto a do próprio como aquela a que temos acesso neste mediatismo! 

= Talvez estes seis ‘ismos’ não tenham a mesma importância nem idêntico significado na nossa vida, mas são vertentes que nos devem fazer refletir nesta Europa…nem sempre claramente dos cidadãos!

Precisamos de reencontrar as raízes desta Europa, que tem vivido em paz – à exceção do conflito nos Balcãs – nos últimos setenta anos…embora pareça mais uma paz podre do que uma paz feita de convicções e compromissos entre todos. Com efeito, nem tudo está adquirido para a atual e a próxima geração. Por isso, queira Deus que saibamos aproveitar quem nos avisa e assim nos previne.   

 

António Sílvio Couto


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