Na nossa
vida há momentos e situações, factos e personagens, vivências e experiências
que só mais tarde conseguimos atingir-lhes o alcance, seja pela complexidade
dos mesmos, seja porque, estando muito próximos do vivido, faltou algum
discernimento e correta a avaliação de tudo e de todos…
Daí o
título desta partilha/reflexão. Não vou referir qualquer caso em particular nem
sequer alguma pessoa em concreto, mas antes gostaria de deixar pequenos flashs
e interrogações… despretensiosos e sem tentativas de dar lições seja a quem
for.
– A vida
nos ensina a relativizar tantas das coisas a que podemos dar ou ter dado muita
importância em certos momentos, mas que, não sendo essenciais, nos ensinam a
crescer pelo desprendimento e a aferição à nossa maturidade humana, psicológica
e espiritual…
– Em
quantas situações podemos achar que a razão estava do nosso lado, mas, passado
algum tempo, já podemos perceber que nem tudo é tão fundamental como víamos
nessa ocasião. Talvez valha a pena colocar-nos de outra perspetiva para mudar a
visão que temos disso em que insistíamos de forma tão persistente…
– Por
vezes há factos que só compreendemos o seu alcance passada alguma distância da
sua vivência. Episódios nem sempre atendidos nem entendidos ganham outra
leitura quando outros afins ou complementares nos fazem captar o verdadeiro
alcance das coisas, das pessoas e mesmos das histórias por entre estórias…
– Mas o
mais complexo é aquilo que envolve pessoas com quem nos cruzamos na vida. Se
bem que os aspetos anteriores incluam pessoas, será quando nos detemos sobre as
personagens da nossa vida que nos damos conta de quão difícil é entender tantas
das pessoas que Deus põe no nosso caminho. Sim, que não acredito em acasos nem
tão pouco em meras coincidências: as pessoas com quem nos cruzamos e que passam
a fazer parte da nossa vida são dádivas de Deus, umas como ajuda, outras como
tropeço, muitas como sinais e tantas outras até como provações…senão mesmo como
provocações. Ninguém se cruza connosco por mera flutuação de humores ou por outras
voláteis razões…
Como
poderemos interpretar que haja pessoas que deixam marca na nossa vida e outras
simplesmente voaram nas memórias? Como poderemos compreender que se verifique
sintonia por mais tempo com algumas pessoas e noutros casos nada ficou de
importante? Que fatores contribuem para que umas pessoas compreendam o mistério
da amizade – sincera, desinteressada e verdadeira – e que outras quase escapem
da nossa vivência mais ou menos de forma fugaz, breve e sem história?
O que
mais deixa más recordações são essas personagens que não são capazes de
entender a nossa linguagem – seja ela qual for – nem acertam nos critérios que
movem a nossa vida. Em quantas circunstâncias se nota que as palavras podem ser
as mesmas, mas os conteúdos são muito díspares. Em tantas circunstâncias nos
damos conta de que há pessoas que não estão preparadas – sem disso terem culpa
alguma – para compartilharem as nossas tarefas, com alguma facilidade podem
extrapolar a confiança que nelas depositávamos ou que podem usar-nos sem disso
nos darmos conta. Em tantos momentos fica o amargo de parecer ter sido enganado
naquilo que nos parecia um pouco mais do que umas tais conversas de
circunstância…
– Quantas
vezes me tenho enganado por ignorância. Quantas vezes me posso ter enganado em
razão de não ser suficientemente prudente. Quantas vezes terei sido mais
simplório do que razoavelmente capaz de acautelar a confiança depositada em
tantas pessoas.
Porque
acredito que o engano não se combate com táticas de desconfiança. Porque que
Deus colocou no meu caminho muitas pessoas dignas de crédito e de
credibilidade, quero continuar poder partilhar tantas questões que fazem
crescer na amizade, merecendo ‘antes dar do que receber’, como diz a oração de
S. Francisco.
António Sílvio Couto
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