Partilha de perspectivas... tanto quanto atualizadas.



terça-feira, 30 de janeiro de 2018

Enganei-me e fui enganado…


Na nossa vida há momentos e situações, factos e personagens, vivências e experiências que só mais tarde conseguimos atingir-lhes o alcance, seja pela complexidade dos mesmos, seja porque, estando muito próximos do vivido, faltou algum discernimento e correta a avaliação de tudo e de todos…

Daí o título desta partilha/reflexão. Não vou referir qualquer caso em particular nem sequer alguma pessoa em concreto, mas antes gostaria de deixar pequenos flashs e interrogações… despretensiosos e sem tentativas de dar lições seja a quem for.  

– A vida nos ensina a relativizar tantas das coisas a que podemos dar ou ter dado muita importância em certos momentos, mas que, não sendo essenciais, nos ensinam a crescer pelo desprendimento e a aferição à nossa maturidade humana, psicológica e espiritual… 

– Em quantas situações podemos achar que a razão estava do nosso lado, mas, passado algum tempo, já podemos perceber que nem tudo é tão fundamental como víamos nessa ocasião. Talvez valha a pena colocar-nos de outra perspetiva para mudar a visão que temos disso em que insistíamos de forma tão persistente…  

– Por vezes há factos que só compreendemos o seu alcance passada alguma distância da sua vivência. Episódios nem sempre atendidos nem entendidos ganham outra leitura quando outros afins ou complementares nos fazem captar o verdadeiro alcance das coisas, das pessoas e mesmos das histórias por entre estórias…  

– Mas o mais complexo é aquilo que envolve pessoas com quem nos cruzamos na vida. Se bem que os aspetos anteriores incluam pessoas, será quando nos detemos sobre as personagens da nossa vida que nos damos conta de quão difícil é entender tantas das pessoas que Deus põe no nosso caminho. Sim, que não acredito em acasos nem tão pouco em meras coincidências: as pessoas com quem nos cruzamos e que passam a fazer parte da nossa vida são dádivas de Deus, umas como ajuda, outras como tropeço, muitas como sinais e tantas outras até como provações…senão mesmo como provocações. Ninguém se cruza connosco por mera flutuação de humores ou por outras voláteis razões…

Como poderemos interpretar que haja pessoas que deixam marca na nossa vida e outras simplesmente voaram nas memórias? Como poderemos compreender que se verifique sintonia por mais tempo com algumas pessoas e noutros casos nada ficou de importante? Que fatores contribuem para que umas pessoas compreendam o mistério da amizade – sincera, desinteressada e verdadeira – e que outras quase escapem da nossa vivência mais ou menos de forma fugaz, breve e sem história?

O que mais deixa más recordações são essas personagens que não são capazes de entender a nossa linguagem – seja ela qual for – nem acertam nos critérios que movem a nossa vida. Em quantas circunstâncias se nota que as palavras podem ser as mesmas, mas os conteúdos são muito díspares. Em tantas circunstâncias nos damos conta de que há pessoas que não estão preparadas – sem disso terem culpa alguma – para compartilharem as nossas tarefas, com alguma facilidade podem extrapolar a confiança que nelas depositávamos ou que podem usar-nos sem disso nos darmos conta. Em tantos momentos fica o amargo de parecer ter sido enganado naquilo que nos parecia um pouco mais do que umas tais conversas de circunstância…  

– Quantas vezes me tenho enganado por ignorância. Quantas vezes me posso ter enganado em razão de não ser suficientemente prudente. Quantas vezes terei sido mais simplório do que razoavelmente capaz de acautelar a confiança depositada em tantas pessoas.

Porque acredito que o engano não se combate com táticas de desconfiança. Porque que Deus colocou no meu caminho muitas pessoas dignas de crédito e de credibilidade, quero continuar poder partilhar tantas questões que fazem crescer na amizade, merecendo ‘antes dar do que receber’, como diz a oração de S. Francisco.         

 

António Sílvio Couto  



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