Ao final
da manhã do dia 20 de fevereiro, foi rececionada a ‘chama da solidariedade’ em
frente à câmara municipal da Moita, vinda do município do Barreiro.
Estavam
presentes algumas das instituições de solidariedade – misericórdia e IPSS – com
maior o menor expressão, mas que subiu ao palco foram os autarcas – câmara e
juntas de freguesia – como se fossem eles os autores, promotores e executantes
da dita solidariedade… O resto eram uns figurantes duma cena onde os do palco talvez
não devessem ocupar tal espaço… Eles estão lá por visibilidade política,
enquanto muitos outros/as fazem-no por opção de vida, por imperativo moral e
mesmo por vocação/missão cristã de anúncio de Cristo, presente nos mais pobres,
desvalidos, necessitados e marginalizados…
Não
acredito, minimamente, na solidariedade que não seja decorrente da vivência de
Mt 25,31-46, isto é, quando Jesus se identifica com os mais frágeis da
sociedade…’O que fizestes a um dos meus irmãos mais pequeninos a Mim o
fizestes’!
Explicando
certos conceitos e contestando práticas:
* A
‘chama da solidariedade’ é uma iniciativa da CNIS (confederação nacional das
instituições de solidariedade) lançada, em 2007, para desafiar ao bem-comum e
ao compromisso social.
No distrito
de Setúbal, através da união distrital, a ‘chama da solidariedade’ foi recebida
em setembro de 2017 e percorrerá o território dos treze concelhos até junho
deste ano.
* Os
destinatários desta (pretensa) ‘chama da solidariedade’ podem e devem ser as instituições
e as pessoas que praticam a solidariedade…Não podemos esquecer que muitas das
associações surgiram exatamente para suprir o mau funcionamento das repartições
oficiais. Não se pode dizer coisas como estas em público e depois atuar como
tentáculos do poder nas proporções de cada município, freguesia, bairro ou
vizinhança!
* Sobre
os intervenientes consideramos que não vale tudo para aparecer na foto de
boa/mediana atuação. De facto, sendo uma ação da sociedade não-política – há
quem pretenda chamar-lhe ‘sociedade civil’ – a solidariedade não a vemos,
claramente, que tenha de ser uma função desempenhada pelas autarquias, pois
elas são, na sua maioria, veiculadoras dos processos de governo – seja qual for
a coloração – e, porque ligadas a formações partidárias, sem vínculo
não-independente. Como poderão ser enquadradas para estarem presentes em certos
atos como da receção, coordenação e difusão da ‘chama da solidariedade’? Além
de escusadas parece que são inoportunas!
= Fique
claro: as ações de obras da Igreja – católica ou não – são muito mais objetivas
na solidariedade que praticam, até porque decorrem da caridade posta em ato e
não como uma espécie de ‘moda’ de fazer por solidariedade o que deve ser feito
por justiça.
Quantas
vezes as conferências vicentinas cuidam de centenas de famílias e não fazem
alarido…nem nas paróquias. Quantas vezes os serviços socio-caritativos paroquiais
pagam rendas, água, eletricidade, gás, medicamentos e fazem avios para quem não
está fixado – isto é, que tenha fixa nos serviços oficiais e da segurança
social – mas que precisa agora e logo já poderá ser tarde. Quantas vezes se
atende aos pedidos para baixar as mensalidades de jardins-de-infância, centros
de atividades de tempos livres ou de lares, porque algum dos membros da família
ficou desempregado! Quantas vezes o horário não termina às dezassete horas, mas
se prolonga com as lágrimas sorvidas por entre soluços de vergonha!
=
Enquanto a solidariedade for uma mera palavra para enganar com subsídios e
prolongar a preguiça com estímulos ao não-emprego, a ‘chama da solidariedade’
ir-se-á apagar mais depressa do que as palmas de cerimónia e/ou as críticas de
mau funcionamento dos serviços de assistência social das autarquias e de tantos
outros meandros do atendimento.
A ‘chama
da solidariedade’ poderá ser alimentada com fé e com fervor cristão, mas
estiolará com aproveitamentos habilidosos de políticos, de autarcas ou de
funcionários de balcão, mas desconhecedores do terreno e do compromisso. Sujem
as mãos e não se limitem a colher os frutos daquilo que não semearam!
António Sílvio Couto
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