A partir
de hoje não comprem jornais, não vejam televisão portuguesa e os comentadores
devem sair dos programas onde participam….Foi desta forma rápida e incisiva que
um dirigente desportivo se consagrou após mais uma vitória entre os seus
apoiantes…Claro que isto teve efeitos imediatos quando os apaixonados
seguidores se confrontaram com os fazedores da comunicação social
anatematizada…gerando-se atitudes agressivas e dignas dum país de
terceiro-mundo.
Este
episódio pode enquadrar-se numa leitura mais alargada do modo como muitos
responsáveis – desde políticos até sindicalistas, de mentores religiosos até
programadores televisivos, de dirigentes clubísticos até vendedores de
produtos… não se julgue que as parelhas são desconexas ou despretensiosas –
tratam aqueles que conduzem, mentalizam ou manipulam…Assim aquilo que deveria
ser liderança torna-se alvo de outros interesses, onde nem sempre a
racionalidade está atuante, mas antes se quedam – os condutores e os guiados – pela
emotividade…
=
Entrados na segunda década do século XXI julgava que já não seria possível ver
cenas daquele jaez. Doutros tempos vimos registos de ditadores a usarem
argumentos muito idênticos…coartando às pessoas acesso aos meios de informação,
que os pudessem intoxicar. Noutras situações os resultados foram muito
parecidos, dado que as massas reagem de forma apaixonada…e os primeiros a serem
atingidos são os que foram tornados alvo das críticas e das censuras.
Parece
que falta a muita gente conhecimento histórico para não cometerem os mesmos
erros que desencadearam processos de intenção, guerras de opinião ou mesmo
batalhas sem vencedores.
Na
maioria destes combates encontramos – ora de imediato, ora posteriormente – um
razoável culto da personalidade, que julgando-se melhor do que os outros tenta
impor-se enquanto não lhe descobrem as fragilidades, pois mais tarde ou mais
cedo, essas lacunas surgirão e os apaniguados perceberão como foram usados e
manipulados, voltando-se a obra contra o obreiro!
Porque
não aprendem com as lições do passado e daquilo que outros viverão? Porque não
se dá um tempo de pausa para ver a figura (ridícula) que, por vezes, se faz?
Talvez
não se queira usar a faculdade humana que nos leva a pensar, a inteligência. É
que, enquanto dura a ilusão, o reinante sente-se senhor e os outros como que
lacaios dos seus veneráveis objetivos. Não faltará a muitos
responsáveis/dirigentes o tino suficiente para preverem a queda e o estrondo
que ela provocará? Não faltará, a muitos que se deixam ir na onda duma certa
vitória, o mínimo de racionalidade para perceberem a figura que fazem ao
embarcarem em tudo quanto quem dirige quer ou pretende fazer?
= Numa
época hiper-noticiosa, esta censura daquele dirigente desportivo é como um
cavar a própria sepultura desde dentro da cova, pois não terá capacidade de
fazer ouvir o que pretende, se não for escutado ou lido por aqueles a quem
deseja comunicar – no caso em apreço – e comunicar-se. E não será num canalzito
feito por entre soluços e rebuscos de autossuficiência que se criará ambiente
vencedor e catalisador dos grandes interesses económicos, que movem e se
promovem no desporto atualmente.
Este
episódio, que temos estado a analisar é bem revelador dum certo mundo por onde
vão sendo cultivadas figuras a prazo, que tanto andam na crista da onda, como
se afundarão quando a prancha não for capaz de suster o peso da
irresponsabilidade em estar exposto em excesso. Outro fator de desgaste é o de
não ser fácil ser o ‘palhaço de serviço’ por tempo indeterminado. Com efeito, o
prazo de validade de alguns assuntos tem a duração de outros acontecimentos
igualmente funestos, mas que se podem sobrepor no tempo e no espaço. A arte de
gerir tais situações nem sempre está na mão de quem pretende fazer-se durar,
mas antes se perpassa pela voragem de novos acontecimentos e outras
figuras…Tudo ficará ainda mais agravado se estiver à margem do consumo
noticioso… Neste caso parece que faltou tato e saber na forma e no conteúdo!
= Num país
de apaixonados pelo futebol, teremos de saber desconfiar de posições
irracionais, colocando uma pitada de bom senso em cabeças que nem sempre pensam
as consequências de seus atos!
António Sílvio Couto
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