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domingo, 18 de fevereiro de 2018

Irracionalidades


A partir de hoje não comprem jornais, não vejam televisão portuguesa e os comentadores devem sair dos programas onde participam….Foi desta forma rápida e incisiva que um dirigente desportivo se consagrou após mais uma vitória entre os seus apoiantes…Claro que isto teve efeitos imediatos quando os apaixonados seguidores se confrontaram com os fazedores da comunicação social anatematizada…gerando-se atitudes agressivas e dignas dum país de terceiro-mundo.

Este episódio pode enquadrar-se numa leitura mais alargada do modo como muitos responsáveis – desde políticos até sindicalistas, de mentores religiosos até programadores televisivos, de dirigentes clubísticos até vendedores de produtos… não se julgue que as parelhas são desconexas ou despretensiosas – tratam aqueles que conduzem, mentalizam ou manipulam…Assim aquilo que deveria ser liderança torna-se alvo de outros interesses, onde nem sempre a racionalidade está atuante, mas antes se quedam – os condutores e os guiados – pela emotividade… 

= Entrados na segunda década do século XXI julgava que já não seria possível ver cenas daquele jaez. Doutros tempos vimos registos de ditadores a usarem argumentos muito idênticos…coartando às pessoas acesso aos meios de informação, que os pudessem intoxicar. Noutras situações os resultados foram muito parecidos, dado que as massas reagem de forma apaixonada…e os primeiros a serem atingidos são os que foram tornados alvo das críticas e das censuras.

Parece que falta a muita gente conhecimento histórico para não cometerem os mesmos erros que desencadearam processos de intenção, guerras de opinião ou mesmo batalhas sem vencedores.

Na maioria destes combates encontramos – ora de imediato, ora posteriormente – um razoável culto da personalidade, que julgando-se melhor do que os outros tenta impor-se enquanto não lhe descobrem as fragilidades, pois mais tarde ou mais cedo, essas lacunas surgirão e os apaniguados perceberão como foram usados e manipulados, voltando-se a obra contra o obreiro!

Porque não aprendem com as lições do passado e daquilo que outros viverão? Porque não se dá um tempo de pausa para ver a figura (ridícula) que, por vezes, se faz?

Talvez não se queira usar a faculdade humana que nos leva a pensar, a inteligência. É que, enquanto dura a ilusão, o reinante sente-se senhor e os outros como que lacaios dos seus veneráveis objetivos. Não faltará a muitos responsáveis/dirigentes o tino suficiente para preverem a queda e o estrondo que ela provocará? Não faltará, a muitos que se deixam ir na onda duma certa vitória, o mínimo de racionalidade para perceberem a figura que fazem ao embarcarem em tudo quanto quem dirige quer ou pretende fazer? 

= Numa época hiper-noticiosa, esta censura daquele dirigente desportivo é como um cavar a própria sepultura desde dentro da cova, pois não terá capacidade de fazer ouvir o que pretende, se não for escutado ou lido por aqueles a quem deseja comunicar – no caso em apreço – e comunicar-se. E não será num canalzito feito por entre soluços e rebuscos de autossuficiência que se criará ambiente vencedor e catalisador dos grandes interesses económicos, que movem e se promovem no desporto atualmente.

Este episódio, que temos estado a analisar é bem revelador dum certo mundo por onde vão sendo cultivadas figuras a prazo, que tanto andam na crista da onda, como se afundarão quando a prancha não for capaz de suster o peso da irresponsabilidade em estar exposto em excesso. Outro fator de desgaste é o de não ser fácil ser o ‘palhaço de serviço’ por tempo indeterminado. Com efeito, o prazo de validade de alguns assuntos tem a duração de outros acontecimentos igualmente funestos, mas que se podem sobrepor no tempo e no espaço. A arte de gerir tais situações nem sempre está na mão de quem pretende fazer-se durar, mas antes se perpassa pela voragem de novos acontecimentos e outras figuras…Tudo ficará ainda mais agravado se estiver à margem do consumo noticioso… Neste caso parece que faltou tato e saber na forma e no conteúdo! 

= Num país de apaixonados pelo futebol, teremos de saber desconfiar de posições irracionais, colocando uma pitada de bom senso em cabeças que nem sempre pensam as consequências de seus atos!

 

António Sílvio Couto



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