É bom
que as pessoas saibam as dificuldades em garantir a segurança antes, durante e
depois dum espetáculo de futebol.
Estas
declarações foram proferidas em avaliação aos conflitos/confrontos,
recentemente verificados, entre adeptos de dois emblemas rivais…tendo em conta
a localização de proximidade territorial e as velhas histórias de antagonismo
nos mais diferentes campos de atividade humana…onde o ‘desporto’ não passa de mais
um dos palcos de controvérsia.
= Antes
de mais é questionador considerar o futebol como espetáculo, pois, na maior
parte dos casos, é visto mais como um jogo, onde só a vitória conta, o empate
atrasa e a derrota afunda. Com efeito, para ser considerado espetáculo o
futebol deveria apresentar mais envolvência cultural, desde o nível de
instrução até à capacidade de assimilação dos conteúdos de aprendizagem,
passando pelo desenvolvimento da massa crítica sobre a vida e a sua
envolvência. Será que é isto que os jogadores – seriam, então, atores –
apresentam ao exibirem os seus malabarismos com a bola, sem esquecer as
inquebrantáveis cabeçadas?
= Ora,
sabendo como o fascínio do dinheiro cativou tantos dos atores/jogadores, será
de questionar o nível de instrução da maioria. Nem mesmo, quando alguns clubes
se diziam protetores dos estudantes, uma boa parte quedou-se pelo nível com que
chutam a bola… Por isso, não deixa de ser confrangedor ouvir alguns, quando
solicitados, a dizerem alguma coisa: refugiam-se em clichés do futebolês,
enquanto não conseguem falar mais do que frases idiomáticas e quase em circuito
fechado…É pena que jovens tão ‘promissores’ sejam quase tratados como
debilitados de mente e de raciocínio!
= O pior
de tudo isso é o cenário – e não são os estádios…na sua maioria vazios – em que
o tal ‘espetáculo’ do futebol se desenvolve: muitos dos dirigentes parecem mais
caudilhos do terceiro mundo do que responsáveis de coletividades do mundo
ocidental. A avaliar pela linguagem e pelos trocadilhos usados quase temos de
engendrar um dicionário para descodificarmos o que nos querem comunicar… Até
alguns, que tinham algum nível acima da vulgaridade, desciam e descem ao nível
do relvado onde se disputam as partidas…No entanto, é clamorosa a importância
que adquirem – ou pensam – quando colocados à frente das maiores agremiações
nacionais e internacionais.
Mal vai
um país, quando os dirigentes das coletividades desportivas, são mais
importantes do que os dirigentes dos partidos, que decidem das condições de
vida das pessoas. Pior ainda é, quando os chefes partidários, autarcas em
particular, se servem do fervor clubístico para se promoverem ou tentarem
veicular as suas ideias… reduzindo-as ao rolar da bola e dependendo dos
resultados que esta consegue!
= A
grande questão coloca-se nos associados, adeptos e simpatizantes dos clubes
desportivos. Muitos fazem de filhos e netos sócios ainda antes de eles terem os
primeiros dentes. Em certas ocasiões fico estarrecido com a convicção de certos
pais e avós: não admitem forçar o batismo das crianças, porque elas terão o seu
tempo para decidirem o que querem e, só, quando forem grandes. Mas, quando se
trata de fazer associado dum clube da sua afeição/simpatia ninguém pergunta e
talvez nem se respeite a opção da criança: ainda na maternidade já está
registada como sócio do clube que lhe impingem…
Talvez
seja aqui que esta religião do futebol tem mais fervorosos seguidores, que, na
maior parte dos casos, se tornam fanáticos e acríticos seguidistas daquilo que
o chefe faz ou manda…
O
caciquismo do futebol é, hoje, um dos maiores ingredientes de crispação na
sociedade portuguesa, criando e alimentando guerras, conflitos e provocações
das mais incríveis. Dá a impressão que o subdesenvolvimento humano tem nesta
área um dos campos mais simbólicos e significativos. É com estupor que tenho
visto pessoas com instrução altamente qualificada – médicos e cirurgiões,
literatos e pessoas da palavra universitária – que se transfiguram nos
arruaceiros mais intratáveis, quando falam de futebol e discutem sobre o seu
clube… É verdade: o espetáculo é inqualificável pela asneira e pela falta de
senso. Até quando?
António Sílvio Couto
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