A
confusão é muita. As razões podem ser diversas. As propostas não são tão
audazes quanto seria desejável. O povo dá-se por contente porque tem dinheiro
para gastar agora e pouco aferrolha em vista do futuro. Quem dirige vende mais
ilusões do que certezas. Quem ousar a utilização de palavras como ‘sacrifício’,
‘contenção’, ‘sobriedade’, ‘vigilância’…correrá o risco de ser apelidado de
todos os nomes que nem os muçulmanos chamariam ao toucinho…
Ora, ao
vermos um certo empolamento do nosso sucesso ‘coletivo’, fica-nos a sensação de
que alguém mente ou, então, encobre, subtilmente, algo que surgirá a médio
prazo…com consequências já vistas.
* Dizem
que o desemprego caiu, mas esquecem-se de dizer quantos emigraram, entretanto…
Em tempos relativamente recentes estes dois fatores eram tido em conta, como se
fossem dois pratos da mesma balança, pois, quando um subia, o outro descia e
vice-versa…agora parece que fazem parte de contextos diferentes para analisarem
a mesma questão… 22% da população portuguesa vive no estrangeiro, isto é, 2,3
milhões… são dados revelados no final do ano de 2017.
* Outro
aspeto a ter em conta para avaliação das discrepâncias entre os números que nos
apresentam e a realidade, tem a ver com o diagnóstico da população, atendendo
aos nascimentos, à segurança (social e de movimentação), ao envelhecimento e à
(dita) qualidade de vida…sem perdermos de vista o grande tema da família, que
une e que configura estas questões enunciadas. Com efeito, há cada vez menos
crianças. Segundo dados oficiais, em 2017, nasceram menos sete crianças por dia
no nosso país…num total que não atingiu noventa mil/ano. Por seu turno, o
envelhecimento é cada vez mais acentuado: em 2016 havia, em Portugal, 600 mil
pessoas com idade superior a oitenta anos, numa percentagem de quase 6% da
população total…A chamada ‘4.ª idade’ está a crescer mais do que seria
previsível, mesmo no contexto europeu, onde os países do sul estão cada vez
mais envelhecidos e pouco rejuvenescidos com crianças…
* Quando
tanto se ouviu falar dum ‘orçamento favorável para as famílias’, o que vemos
são iniciativas avulsas onde, antes de mais, se tem de definir a que família se
referem e quem pode ser abrangido por tais medidas sem fazer perigar o seu
conceito social e ético de família. Dá a impressão que ‘família’ pode ser tudo
e o resto daquilo que se quiser fazer constar e não bastará criar mais escalões
de IRS em que não se pague mais. Ser pela família tem tanto de confuso, quanto
de oportunista, sobretudo para certas fações anti-família com raiz
judaico-cristã.
=
Perante estas questões de âmbito social, como poderemos viver o tempo da
Quaresma, de preparação para a Páscoa? Onde e de que modo estas questões não
ajudarão a sair do pântano social e cultural em que vivemos? Que linhas
poderemos escolher de caminhada?
Vejamos um excerto da mensagem do Papa Francisco para a quaresma deste ano: «uns assemelham-se a «encantadores de serpentes», ou seja, aproveitam-se das emoções humanas para escravizar as pessoas e levá-las para onde eles querem. (...) Quantos homens e mulheres vivem fascinados pela ilusão do dinheiro, quando este, na realidade, os torna escravos do lucro ou de interesses mesquinhos! Outros falsos profetas são aqueles «charlatães» que oferecem soluções simples e imediatas para todas as aflições, mas são remédios que se mostram completamente ineficazes: a quantos jovens se oferece o falso remédio da droga, de relações passageiras, de lucros fáceis mas desonestos»!
Para
sairmos do pântano da nossa rotina teremos, antes de mais, de detetar o caminho
por onde ir, para que não andemos a esbracejar e nos afundemos ainda mais.
Precisamos de usar os meios mais adequados para que não nos fique apegado ao
corpo o lodo do pântano, com as consequências de prolongarmos, infetando
outros, os vícios e uma certa moral de escravizados.
Na
vivência da via-sacra, como devoção de quaresma, quisemos, este ano propor um
esquema onde os vários graus de parentesco rezam e são rezados, em cada uma das
‘estações’ ou etapas da via-sacra. Sugerimos, tendo em conta as catorze
‘estações’, o seguinte itinerário: pai, mãe, marido, esposa, avós, netos,
irmãos, sogros, genro/nora, cunhados, primos, tios/padrinhos, sobrinhos,
enteados (padrasto/madrasta).
A família
precisa de sair desse pântano para onde a empurraram. Assim a quaresma possa
ser ajuda na saída!
António Sílvio Couto
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