Se
fizéssemos uma apreciação média global dos augúrios populares para este novo
ano, acabado de iniciar, teríamos quase unanimidade em ‘saúde’ e ‘paz’, tanto
em separado como no conjunto dos desejos.
Se
aquilo que se exprime dá significado ao que se diz, então como que poderemos
ser levados a crer que saúde e paz são realidades que já vivemos e que
desejamos que continuem ou que não as tendo já almejamo-las que aconteçam em
2018…
= Em
quase todas a as sedes de distrito – nalguns casos também de concelho – houve
festejos de novo ano, uns mais vistosos e noticiados, outros com maior
investimento musical, uns tantos com toneladas de fogo-de- artifício,
rivalizando num bairrismo quase doentio… A organização da capital parecia de
algo perigoso, se virmos certos tiques securitários, as medidas de prevenção
adstritas como que trataram os milhares de participantes como potenciais
criminosos e ninguém falou, contestando (ao menos que fosse visto, ouvido ou
mostrado)…tal era a nebulosa racional e o manto de inconsciência que cobria os
foliões!
Quando
tantos ecologistas andam – e bem! – preocupados com o aquecimento global do
Planeta, quando não deixam escapar uma incorreção, por mínima que seja, sobre a
matéria por parte do presidente americano, quando emergem como fundamentalistas
a propósito de algo que não condiga com o endeusamento da mãe-terra… fez-se um
longo e atroz silêncio sobre os festejos com o recurso aos disparos e à
poluição gerada pelos ‘celebrações’ da passagem d’ano. Não será preciso inventar
outra forma de fogo – ou de algo que ilumine em festa – que não deixe esse
rasto poluente, tanto sonoro como atmosférico? Os milhões de disparos ao nível
global não trazem algo de desacerto no alcance globalizado? Andarão todos
narcotizados ou a dormir pela simples razão de que alguns setores – comerciais,
económicos, autárquicos ou conjunturais – precisam destes momentos para
prestarem serviço ou justificarem a sua existência?
Onde
agora habito não houve qualquer estralejar de foguetes – nem um sequer! – por
iniciativa autárquica e tão pouco participei em qualquer local de réveillon,
mas só estive a ver o espetáculo daquilo que os vários canais noticiosos davam
em competição e nem sequer uma gota de festejo auferi, por opção! Com efeito,
há coisas que, se vistas com algum distanciamento, não parecem essenciais, mas antes
adventícias ou razoavelmente escusadas…
= Que
augúrios poderemos, então, desejar para este novo ano? Serão os dois supra
citados – saúde e paz – suficientes para resumir os bons desejos para todo este
ano civil de 2018? Se trouxermos à colação que ‘saúde’ pode resumir a vivência
do nosso estado físico e tudo quanto lhe está ligado e ‘paz’ aquilo que se pode
encontrar resumido da dimensão psicológico-espiritual, então estas duas
palavras aglutinam bem a conciliação entre aspetos fundamentais do nosso ser,
corpo, alma e espírito.
Embora
possa parecer um tanto simplista esta visão, nela podemos ainda encontrar que
não será por muito pretendermos que se cumpra aquilo que ansiamos, que tal se tornará
efetivo. Com efeito, há rituais de passagem d’ano que revelam um pouco (ou
bastante) de paganismo, senão mesmo de superstição. Ora esta é um campo
propício para ir crescendo a ignorância, em vez de a combater pela instrução e
a iluminação da luz divina.
Infelizmente
a presença dos conceitos e valores cristãos estão a ser relegados para fora dos
comportamentos pessoais, familiares e coletivos/sociais. Nota-se uma crescente
neo-paganização, senão no pensamento ao menos no comportamento e como muitas pessoas
vão passando a pensar como vivem, podendo perceber-se com relativa facilidade
que as pessoas justificam aquilo que fazem e não vivem já segundo o modo que
pensam (ou pensavam)… Com efeito, neste tempo ávido de novidades, o que vemos é
retoma dalguns critérios e condutas que têm mais a marca do anticristão do que
mesmo do sinal pagão nunca evangelizado. Isso mesmo aconteceria se
questionássemos muitas das pessoas que estiveram em festejos de passagem d’ano,
pois muito daquilo que é dito, feito ou desejado está fora duma tal fé que
dizem ter ou tacitamente praticar.
Como
exclamava Cícero: O tempora, o mores…Ó
tempos, ó costumes! Em que tempos e costumes vivemos!
António Sílvio Couto
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