Segundo
os dados do último ano, os números da sinistralidade rodoviária, em Portugal,
estão ao nível fatídico de há três anos atrás, verificando-se um retrocesso
nesta ‘guerra civil’ que temos vindo a travar com maior ou menor sucesso nas
nossas estradas e ruas.
Em 2017
houve 130.157 acidentes, com 509 mortos, 2.181 feridos graves e 41.591 feridos
ligeiros…num agravamento de 14% (no que se refere às vítimas mortais), em relação
ao ano anterior. Por distritos, o de Lisboa foi aquele onde houve mais
acidentes (26.698), mas o do Porto foi onde se verificaram mais mortos, 68.
Acima de dez mil ocorrências encontramos também os distritos do Porto, Braga, Faro,
Aveiro e Setúbal.
Com
melhores estradas (autoestradas, vias rápidas e mesmo ruas) quais são, então,
as causas que dão tais consequências? Segundo a entidade responsável pela
prevenção rodoviária, os motociclos são os culpados duma grande parte do
aumento dos números de sinistralidade rodoviária, incluindo ainda nos fatores
de pior desempenho o álcool e os atropelamentos…Só, no ano passado, deram-se
quatro centenas de atropelamentos, seguidos de fuga, no nosso país. Muitas das
ocorrências deram-se nos espaços das localidades.
O setor
jovem da população (dos 18 aos 24 anos) também aparece como elemento agravante
para a sinistralidade, dada a possível pouca experiência na condução e outros
fatores de risco associados à velocidade e uso de elementos exteriores à
condução, onde se podem incluir as drogas e o álcool…
= Quando
já se tinha atingido um número de menor dramaticidade, eis que este flagelo dos
acidentes rodoviários volta a deixar vítimas, tanto diretas como indiretas. O
que é que fez com que este fenómeno se tenha revertido com consequências tão
tristes e trágicas? Há quem aponte um certo alívio económico para que os
acidentes possam também ter disparado, pois as pessoas passaram a andar mais de
carro e talvez a terem menos cuidado na condução. Outros referem que os preços
mais baixos dos combustíveis se tornaram também promotores de haver mais carros
na estrada e, com mais tráfego, a suscetibilidade de haver mais acidentes
acrescentou-se.
Apesar
de podermos encontrar estas ‘novas’ causas, há questões antigas que ainda não
foram totalmente resolvidas. O excesso de velocidade – nalguns casos também a
velocidade muito baixa – é um fator potenciador de acidente, pois a máquina
domina o condutor e este não consegue impor-se ao veículo… Outros elementos
perturbadores na estrada pode ser a desatenção aos perigos com mecanismos
introduzidos no processo de condução, tais como o uso do telemóvel, o hábito de
fumar ou até mesmo a distração ao volante…O clássico contributo de elementos
perturbadores de quem conduz, como a introdução do álcool ou das drogas… Não
podemos deixar de ter em conta – possivelmente bem mais do que aquilo a que se
atende – a educação ao volante, pois o veículo não poderá tornar-se uma espécie
de meio da afirmação pela negativa com gestos, comportamentos e atitudes menos
respeitadoras dos demais…introduzindo a (dita) condução defensiva e irradiando
a condução agressiva e/ou ofensiva!
= Talvez
se deva investir – dizemo-lo do contexto de formação moral cristã – mais na
educação positiva em ordem a respeitarmos e sermos respeitados nas regras de
trânsito, fazendo-nos ainda respeitadores dos valores da vida em contexto
rodoviário. Em 2003, numa nota da Conferência episcopal portuguesa foram-nos
apresentados os ‘pecados sociais’, entre os quais eram incluída ‘a
irresponsabilidade na estrada, com as consequências dramáticas de mortes e de
feridos, que são atentados ao direito à vida, à integridade física e
psicológica, ao bem-estar dos cidadãos e à solidariedade’. De então para cá, já
nos acusamos de não sermos devidamente respeitadores dos outros na estrada, quando
fazemos manobras perigosas ou não cumprimos corretamente o código da estrada?
Já entrou nos nossos hábitos de condução a capacidade de sermos bons cristãos
pela defesa pessoal e dos outros? Já cumprimos as regras, mesmo sem a pressão
dos fiscalizadores, tanto pessoais como das máquinas?
Não
podemos nunca esquecer que, em cada veículo que circula na estrada, pode estar
um potencial infrator ou até praticante duma infração mais ou menos grave ou
até mortífera… e não são os outros, é cada um de nós. Temos de mudar de
comportamento…enquanto vamos a tempo de salvar vidas!
António Sílvio Couto
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