É
atribuída ao Papa Francisco a seguinte frase: ‘os padres são como os aviões, só
se fala deles quando caem’!
Certamente
que o Papa Bergoglio sabe o que diz, tanto pela experiência humana de longos
anos de padre e de bispo, mas também agora como romano pontífice…
Se
quisermos perceber o que certas pessoas pensam dos padres – no geral e no
particular sobre algum em concreto – será preciso que eles caiam, isto é, que
destoem da normalidade, seja ela rotineira, seja de indiferença. O mesmo
acontece com os aviões: quase nem damos conta deles – e são às centenas os que
cruzam o nosso céu cada dia – e só se fala deles quando se dá um acidente. Aí
reparamos que os aviões fazem parte da nossa convivência…até que precisemos de
usá-los.
= Neste
mundo feito de sensacionalismo e do valor efémero das notícias torna-se uma
espécie de ‘momento de glória’ conseguir colocar uma situação dum padre em
desfavor. Que os digam certos órgãos de comunicação social para quem notícias
(negativas) de padres têm quase precedência sobre outros assuntos mais
significativos até da vida social pública. Arranjem um problema, por mais
vulgar que seja noutros casos e em setores da vida coletiva, que com um padre
logo vemos os abutres que se deliciam com a refeição da suspeita, da
maledicência e mesmo da má-criação…
Que se
pode, então, fazer com casos que envolvam padres? Ignorá-los e fazer de conta
que não existem? Branquear nem que seja o erro só porque foi praticado por um
padre? Como tratar com rigor o que disso necessita e secundarizar o que não é
essencial? Como deve reagir na comunicação social um padre, quando alvo dalguma
notícia: em silêncio (possivelmente cúmplice) ou dando, ao menos, a sua versão
dos factos ou boatos? Será que todos sabem atuar, falar ou calar no tempo
adequado?
= Nesta
santa Igreja dos pecadores podemos e devemos citar alguma frase que disso nos
ajude a assumir o que somos e a corrigir o que é necessário.
«Todos os membros da Igreja, inclusive os seus ministros,
devem reconhecer-se pecadores. Em todos eles, o joio do pecado encontra-se
ainda misturado com a boa semente do Evangelho até ao fim dos tempos. A Igreja
reúne, pois, em si, pecadores abrangidos pela salvação de Cristo, mas ainda a
caminho da santificação» (Catecismo da
Igreja Católica, 827).
– Podemos
inferir deste texto do magistério da Igreja que, antes de tudo, os padres são
cristãos pecadores, chamados, por Deus e em Igreja, a exercerem um ministério
de presença divina num mundo também ele pecador e necessitado de mudança e de conversão.
– Podemos
aclarar que ninguém é santo sem passar pelo crivo do pecado assumido,
arrependido e perdoado, onde os padres são, antes de mais, penitentes e só
depois ministros.
–
Podemos considerar que será pela humildade que todos – incluindo os padres –
haveremos de aprender com os nossos erros, sem os negligenciarmos, antes
servindo-nos deles como degraus na aprendizagem e amadurecimento na fé, pela
esperança e para a caridade.
= Nesta
época de ‘cultura líquida’, onde as ‘certezas’ de antanho quase se tornaram
obsoletas e até mesmo os critérios e valores rapidamente mudam em conformidade
com os intervenientes e as causas que servem, esta temática do questionamento
dos padres ganha outro alcance no derrubar de conceitos e de estereótipos onde,
mesmo em forma de classe, era dada alguma segurança e estabilidade. Agora quase
tudo se escoa como água por entre os dedos da complexidade do egocentrismo de
ideias e de comportamentos. Com facilidade se vai desconstruindo o que antes
era – com verdade ou em suposição – fator de estabilidade.
Neste
mesmo afã de desmontagem vemos as variadas acusações sobre atos de indignidade
de padres para com menores e outros subalternos. Se formos apurar o que um
razoável número de órgãos de comunicação social falou da visita do Papa, por
estes dias ao Chile, pouco mais ouviremos ou veremos do que as acusações sobre
erros de clérigos naquele país…já há anos decorridos. Seria isso o mais
importante da ação da Igreja católica naquelas paragens da América Latina? Novamente
o avião foi atingido e os resultados emergirão!
António Sílvio Couto
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