Um
programa televisivo trouxe para a ribalta um tema nem sempre bem tratado e
cuidado pelos órgãos de comunicação social e até as (ditas) redes sociais: a
educação das crianças…em família.
Vou
reportar-me ao programa que vi na emissão em direto: uma psicóloga
‘intromete-se’ numa família para observar mais de perto as anomalias da mesma,
sobretudo naquilo que à educação dos filhos diz respeito… Vai anotando e
apontando sugestões, onde as regras de pais e filhos, de marido/pai e de
esposa/mãe são questionadas e, por vezes, corrigidas, consertando novas regras
e propondo-se desenvolver outras tarefas entre todos para que se vá mudando e
se crie melhor ambiente familiar do que aquele com que se iniciou o programa…E
os resultados – depois certamente de semanas a testar – vão surgindo para
contentamento de todos, desde os programadores, os ‘atores’ e a família.
Surgiu,
entretanto, uma razoável contestação por parte de certos gurus da pedagogia,
dos defensores estatais das criancinhas e de tantos outros que, bem depressa,
saíram a dizerem querer resguardar os mais novos. Talvez seja pena que não
façam o mesmo para com programas de outros canais – de circuito aberto ou em
cabo – quando também expõem crianças a concursos de culinária ou musicais,
criando competição, derrota, traumas e sucessos à custa dos mais novos… Há
situações em que, à mesma hora, são exibidos programas com crianças…para com
uns há exigência e rigor, para com outros fica-se pelo encolher de ombros, só
porque deixa no ar a sensação de fama à custa da exploração de crianças e de
adolescentes!
= Num
tempo de antena para discutir a questão do programa que pretende educar,
estiveram pessoas que já andam nestas questões de infância – talvez se devesse
falar de ‘infantis’ – há anos de mais para que os resultados sejam os que se
verificam no nosso país. As intervenções dessas figuras não têm trazido nada de
bom à educação das crianças, pelo contrário, parece que as têm infantilizado
ainda mais, mesmo que pareçam defendê-las… Há argumentos que ouvimos há mais de
duas décadas e a pedagogia tem mudado, bem como as crianças estão noutro
estádio social, familiar e cultural.
Também a
tutelagem estatal deixa muito a desejar, pois, na maior parte dos casos,
limita-se a retirar as crianças – ditas em risco – às famílias para as entregar
a instituições onde cada criança custa ao estado cerca de mil euros, quando
este dá de abono da família – dependendo do escalão – pouco mais de cem euros
nos valores mais comparticipados…
= O dito
programa que ajuda as famílias a acertar critérios de educação, de família e de
orientação na vida surgiu na cultura anglo-saxónica com expressão na
Grã-Bretanha, há década e meia, adaptado e difundido nos EUA e no Brasil. Mas,
mais do que olhar para o formato ou até o conteúdo, não podemos deixar de
enfrentar o problema essencial: os pais são/serão educadores? Foram preparados
para isso ou, pelo contrário, deixam correr as coisas sem terem critérios nem
ferramentas para educarem os filhos? Até onde irá a hipocrisia de defender as
crianças, mas não lhes darmos instrumentos de futuro, como a educação, as boas
maneiras, o civismo, a civilidade, etc.?
A nós,
cristãos, deve-nos preocupar se estamos a semear nas crianças os valores do
Evangelho. Sobretudo se temos ao nosso cuidado crianças – nos centros
paroquiais, nas catequeses, nos agrupamentos de escuteiros ou, simplesmente,
nas celebrações da fé – devemos perguntar-nos se essas crianças encontram Jesus
em nós e através de nós. Se as palavras que dizemos condizem com os valores que
perfilhamos. Se ajudamos a criar nos mais novos uma proposta de civilização
onde as questões da vida, da família, da paz, da verdade, da compaixão e do
amor são comunicados mais por osmose do que por verbalização.
Há
coisas de fé que se bebem com o leite materno e isso nem sempre é percetível
nas nossas crianças. Ou, então, o que vemos são gestos e atitudes de rebeldia,
palavras e comportamentos de irreverência e, nalguns casos, de malcriadez…
Talvez
este programa não faça quase nada neste sentido de educar a vontade nas nossas
crianças, mas temos todos a obrigação de complementar o ensino das escolas, que
parece quedar-se pela instrução e não veicula valores… A família tem de o fazer
com sabedoria, humildade e comunhão entre todos…
António Sílvio Couto
Sem comentários:
Enviar um comentário