As
crianças dos nossos dias são cada vez menos auto-suficientes, tal é o
protecionismo com que as vimos defendendo ou até colocando-as dentro duma bolha
(quase) artificial. Parece aos pretensos riscos deste tempo, que vamos
aparvalhando tanto as crianças que nem as deixamos errar, coartamos a
capacidade de brincar e como que afunilamos as aprendizagens sem as falhas, as
tropelias e as asneiras próprias da sua idade… Com tantas defesas e pretensos cuidados,
as crianças deixam-no de ser antes do tempo!
Quem
deixa ainda que os filhos brinquem na rua? Quem aceita que os filhos/netos vão
sós (e a pé) para escola? Quem ousará deixar, nem que seja por breve momentos,
de controlar por onde andam os filhos/netos, se estão, momentaneamente, na rua?
Ora, por ocasião do ‘dia mundial da criança’, parece que podemos/devemos colocar algumas questões e lançar desafios a este setor da vida humana que tem vindo – dá a impressão – a ser algo menosprezado naquilo que poderão ser os resultados no futuro (mais ou menos) próximo.
Ora, por ocasião do ‘dia mundial da criança’, parece que podemos/devemos colocar algumas questões e lançar desafios a este setor da vida humana que tem vindo – dá a impressão – a ser algo menosprezado naquilo que poderão ser os resultados no futuro (mais ou menos) próximo.
= Embora
saibam mais coisas mais cedo do que noutros tempos, a maioria das crianças vai
sendo infantilizada sem disso nos darmos conta. Com alguma facilidade as
crianças parece que perderam a capacidade de brincar, inventando as suas
brincadeiras e os seus próprios brinquedos: quase tudo lhes é fornecido e nem
sempre da forma mais pedagógica e respeitadora das potencialidades dos mais
novos. Numa formatação de interesses vemos que as crianças podem deixar de viver
no seu mundo, antes reproduzindo outros cenários que não são os seus nem
sabendo adaptar-se às novas dificuldades e necessidades. Esta espécie de
democratização educativa pode nivelar pelos pés aquilo que deveria ser uma
possibilidade de potenciar a capacidade de sonho e de criação das crianças e
dos seus espaços.
A
diversidade de brinquedos – bastará observar uma campanha de recolha – tem
vindo a tornar as crianças cada vez mais dependentes das criações alheias,
menorizando-as e descartando-lhes pequenos sonhos, onde a abundância de
proposta como que revela a volatilidade dos mais velhos e pode ainda tentar
disfarçar com coisas aquilo que seria bem mais benéfico ser preenchido com
tempo de qualidade dedicado às crianças…
= Se a
isto acrescentarmos sinais inquietantes do egoísmo crescente das crianças –
muitas delas como filhos únicos – poderemos perceber que a capacidade de
partilha – desde os brinquedos até às roupas, passando pelas exigências feitas para
com os mais velhos (pais, educadores, avós, etc.) – tem vindo a diminuir e, daí
virem a ser gerados conflitos, é um simples passo ou questão de tempo. Vivemos
– dá a impressão – na época da criança-objeto que serve mais para contentar os
adultos do que fazendo com que a criança valha por si mesma…
Sem exagero
podemos considerar que, hoje, as crianças passam dois terços do seu dia fora ou
longe do ambiente familiar. Em muitos casos os filhos vão sobrevivendo quase
sem a presença e o carinho dos pais… e não fossem os avós, as coisas seriam
ainda mais graves e aflitivas. Por isso, não admira que, muitas das vezes, as
crianças sejam nacionalizadas por quem pretensamente governa…mesmo que não se
verifiquem problemas.
= Antes
de tudo e acima de tudo, cremos sinceramente que o cuidado das crianças é
tarefa e missão dos pais, tornando-os os primeiros e principais educadores,
seja em que idade for. Não podemos continuar a entregar ao estado – bem
diferente é a atitude de delegar por substituição na instrução – a capacidade
de educar, onde os valores sejam muito mais do que menores denominadores comuns
numa influência ética amorfa e anódina… que, por vezes, é mais do que laica ou
republicana.
Porque a
família é a escola (no sentido amplo do termo e não como correia de
conhecimentos) de transmissão de valores e de princípios, será urgente criar
condições para que as crianças deixem de ser tratadas de forma tão aparvalhada
como têm sido, onde se lhes dê muito mais do que aquilo que já se viu ter sido
ultrapassado noutras culturas e sistemas educativos. Quem dera que fossemos
capazes de educar cada criança como única, no projeto de Deus e de cada
família. Por onde temos andado até agora, não, obrigado!
António Sílvio Couto
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