Na
alocução que fez antes da procissão das velas e depois da oração do Rosário, na
capelinha das aparições, em Fátima, o Papa Francisco questionou quem era a
Maria que nos leva a ir àquele local e qual a devoção que Lhe prestamos.
Partindo
do lema da sua própria peregrinação – ‘com Maria, peregrino na esperança e na
paz’ – o Papa Francisco perguntou: «Peregrinos
com Maria… Qual Maria? Uma «Mestra de vida espiritual», a primeira que seguiu
Cristo pelo caminho «estreito» da cruz dando-nos o exemplo, ou então uma
Senhora «inatingível» e, consequentemente, inimitável? A «Bendita por ter
acreditado» (cf. Lc 1, 42.45) sempre e em todas as circunstâncias nas palavras
divinas, ou então uma «Santinha» a quem se recorre para obter favores a baixo
preço? A Virgem Maria do Evangelho venerada pela Igreja orante, ou uma esboçada
por sensibilidades subjetivas que A veem segurando o braço justiceiro de Deus
pronto a castigar: uma Maria melhor do que Cristo, visto como Juiz impiedoso;
mais misericordiosa que o Cordeiro imolado por nós?».
Estas
questões podem e devem ser respondidas por cada um e por todos quantos quiseram
estar com o Papa ou que o seguiram pela comunicação social.
– Mais
do que uma vivência subjetiva de Maria, no caso a Senhora de Fátima, temos de
encontrar – pelo esclarecimento, pela oração, pela reflexão (teológica ou
cultural) ou mesmo pela devoção – um verdadeiro rosto da presença da Mãe de
Deus na nossa vida de cristãos/católicos, que é algo muito mais profundo do que
um querer que Ela seja o que nós desejamos.
– Os
gestos e sinais proféticos do Papa entre nós – como a canonização de dois dos
pastorinhos, as advertências para a construção dum mundo mais justo e fraterno
e mesmo a proximidade às pessoas, sobretudo às crianças e aos doentes – fazem
desta presença de Francisco em Fátima um chamamento às origens da mensagem:
Maria é caminho para Deus, rico de misericórdia e de paz.
– A
multidão dos que foram a Fátima e os outros milhões que seguiram, sobretudo, as
celebrações pelos meios de comunicação social fizeram deste momento celebrativo
do ‘centenário das aparições’ um foco de espiritualidade onde os mais novos – e
foram aos milhares – se sobrepuseram aos mais velhos. Talvez se tenha podido
ver uma Igreja mais nova, não se sabendo se se reveem em Fátima, se na fé
normal das paróquias e das dioceses… E nem as centenas de milhares de
peregrinos a pé – talvez cerca de 50 mil – podem servir de novo atenuar dalguma
descrença ou ceticismo de certas fações de índole cultural do nosso país…progressista!
= Agora
que passou a vaga deste tempo de peregrinação que poderemos encontrar como
lições da presença do Papa, do possível fervor religioso, da vivência do país
(político ou social), das questões de fé e de conduta moral/ética, das
implicações mais íntimas de cada um e da sua expressão na família, no trabalho,
nos ambientes, etc.
– No
passado dia ’13 de maio’ revivemos, rapidamente, no país dos três efês –
Fátima, futebol e festival (antes era só fado) – não se sabendo quem venceu na
concorrência das visibilidades. Num ápice podemos sentir que mexeram nas nossas
raízes mais profundas… Qual delas continuará a manifestar mais corretamente este
povo que somos ou julgamos ser?
– À luz
daquilo que nos disse o Papa Francisco não será preciso refletir sobre muitas
das manifestações de Fátima à ‘santinha’ para que sejamos, de verdade e
seriamente, cristãos e católicos esclarecidos?
– Não
teria sido necessário dar ‘tolerância de ponto’ no dia 12, pois não está
correto dar benefício a quem não professa a mesma fé e nem usa o ‘direito’ para
a finalidade invocada… Não foi (mais) um ato de populismo sem sentido nem nexo
com o laicismo estatal?
Entrados
na segunda centúria das manifestações de Nossa Senhora em Fátima novos desafios
se nos apresentam. Assim sejamos dignos – como portugueses/as – da escolha que
o Céu nos fez para recebermos a mensagem… Ontem como hoje,
conversão-penitência-oração continuam atuais e necessários…
António Sílvio Couto
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