Partilha de perspectivas... tanto quanto atualizadas.



segunda-feira, 15 de maio de 2017

Santinha com favores a baixo preço?


Na alocução que fez antes da procissão das velas e depois da oração do Rosário, na capelinha das aparições, em Fátima, o Papa Francisco questionou quem era a Maria que nos leva a ir àquele local e qual a devoção que Lhe prestamos.

Partindo do lema da sua própria peregrinação – ‘com Maria, peregrino na esperança e na paz’ – o Papa Francisco perguntou: «Peregrinos com Maria… Qual Maria? Uma «Mestra de vida espiritual», a primeira que seguiu Cristo pelo caminho «estreito» da cruz dando-nos o exemplo, ou então uma Senhora «inatingível» e, consequentemente, inimitável? A «Bendita por ter acreditado» (cf. Lc 1, 42.45) sempre e em todas as circunstâncias nas palavras divinas, ou então uma «Santinha» a quem se recorre para obter favores a baixo preço? A Virgem Maria do Evangelho venerada pela Igreja orante, ou uma esboçada por sensibilidades subjetivas que A veem segurando o braço justiceiro de Deus pronto a castigar: uma Maria melhor do que Cristo, visto como Juiz impiedoso; mais misericordiosa que o Cordeiro imolado por nós?».

Estas questões podem e devem ser respondidas por cada um e por todos quantos quiseram estar com o Papa ou que o seguiram pela comunicação social.

– Mais do que uma vivência subjetiva de Maria, no caso a Senhora de Fátima, temos de encontrar – pelo esclarecimento, pela oração, pela reflexão (teológica ou cultural) ou mesmo pela devoção – um verdadeiro rosto da presença da Mãe de Deus na nossa vida de cristãos/católicos, que é algo muito mais profundo do que um querer que Ela seja o que nós desejamos.

– Os gestos e sinais proféticos do Papa entre nós – como a canonização de dois dos pastorinhos, as advertências para a construção dum mundo mais justo e fraterno e mesmo a proximidade às pessoas, sobretudo às crianças e aos doentes – fazem desta presença de Francisco em Fátima um chamamento às origens da mensagem: Maria é caminho para Deus, rico de misericórdia e de paz.

– A multidão dos que foram a Fátima e os outros milhões que seguiram, sobretudo, as celebrações pelos meios de comunicação social fizeram deste momento celebrativo do ‘centenário das aparições’ um foco de espiritualidade onde os mais novos – e foram aos milhares – se sobrepuseram aos mais velhos. Talvez se tenha podido ver uma Igreja mais nova, não se sabendo se se reveem em Fátima, se na fé normal das paróquias e das dioceses… E nem as centenas de milhares de peregrinos a pé – talvez cerca de 50 mil – podem servir de novo atenuar dalguma descrença ou ceticismo de certas fações de índole cultural do nosso país…progressista!   

= Agora que passou a vaga deste tempo de peregrinação que poderemos encontrar como lições da presença do Papa, do possível fervor religioso, da vivência do país (político ou social), das questões de fé e de conduta moral/ética, das implicações mais íntimas de cada um e da sua expressão na família, no trabalho, nos ambientes, etc.

– No passado dia ’13 de maio’ revivemos, rapidamente, no país dos três efês – Fátima, futebol e festival (antes era só fado) – não se sabendo quem venceu na concorrência das visibilidades. Num ápice podemos sentir que mexeram nas nossas raízes mais profundas… Qual delas continuará a manifestar mais corretamente este povo que somos ou julgamos ser?

– À luz daquilo que nos disse o Papa Francisco não será preciso refletir sobre muitas das manifestações de Fátima à ‘santinha’ para que sejamos, de verdade e seriamente, cristãos e católicos esclarecidos?

– Não teria sido necessário dar ‘tolerância de ponto’ no dia 12, pois não está correto dar benefício a quem não professa a mesma fé e nem usa o ‘direito’ para a finalidade invocada… Não foi (mais) um ato de populismo sem sentido nem nexo com o laicismo estatal?  
Entrados na segunda centúria das manifestações de Nossa Senhora em Fátima novos desafios se nos apresentam. Assim sejamos dignos – como portugueses/as – da escolha que o Céu nos fez para recebermos a mensagem… Ontem como hoje, conversão-penitência-oração continuam atuais e necessários…


 António Sílvio Couto










Sem comentários:

Enviar um comentário