Na
complexidade de leituras que o Papa Francisco nos traz – tal como outros
pontífices – uns tantos ‘iluminados’ ditos sem fé, agnósticos, descrentes ou
ateus confessos – com voz até nos canais católicos como corifeus da tolerância
e da boa compreensão – vemos que só conseguem entender do Papa aquilo que se
refere à linha em que lhes encaixa nos preconceitos e nas formatações
ideológicas…sobretudo na dimensão (dita) social, nos casos de intervenção horizontalista
e nas situações mais ou menos de sabor solidário que não tão ético/moral…
(Um
pequeno aparte: como é difícil fazer diálogo com quem exige que os entendamos,
mas que não fazem algum outro esforço – intelectual minimamente razoável – de
entrarem na linguagem daqueles com quem – assim parece – pretendem impor ideias
e noções até já ultrapassadas no tempo e pela evolução histórica).
* Mal
vai uma séria proposta de leitura das atitudes do Papa Francisco se dele
quisermos explorar a vertente social – pretensamente de esquerda – ou ecológica
– com o rótulo de progressista – à mistura com a defesa dos pobres e
marginalizados… como se os Papas anteriores fossem (mais) defensores dos
capitalistas ou difusores da economia de mercado – que uns tantos abjuram, mas
da qual vivem e medram com bons proveitos – sem entenderem que a Igreja não tem
ideologia de propaganda nem sequer se ajeita para colher frutos dos
beneficiados ou dos menosprezados…
* Não
tenho a menor das dificuldades em compreender as objeções de quem não é capaz de
decifrar as linguagens da fé, senão se estiver na onda das coisas mais
materiais. De facto, há pessoas que, colocando os óculos da dialética marxista,
são especialistas em verem as intenções e as ações dos outros pela perspetiva
do social, gerando em si e à sua volta um clima de luta, senão for de classes,
sê-lo-á de interesses…declarados ou subterrâneos. Só que não se podem ler as
palavras e os gestos do Papa por tais preconceitos nem muito menos se terá de
distorcer a mensagem pelo que nos possa interessar que seja dito ou feito. Este
pragmatismo apresenta riscos e perigos… mesmo no seio da Igreja católica.
* Não se
pode tentar desvirtuar a mensagem do cristianismo pelo menos bom ou até mau
desempenho de muitos dos cristãos. Ora, se há caraterística que fez afirmar os
seguidores de Cristo na história, foi a da dimensão comunitária, desde as
coisas mais simples até às mais complexas, isto é, esse colocar em comum os
bens espirituais e materiais, sem que não houvesse desfavorecidos nem
necessitados. Vemo-lo nas narrativas do livro dos Atos dos Apóstolos e nos
escritos dos padres da Igreja. A vivência comunitária desse testemunho
interpelou muitos dos opositores aos cristãos, que, apesar de perseguidos,
ainda se alimentavam mais e melhor da fonte dessa razão: a adesão a Cristo e
aos seus princípios de fraternidade, de pobreza, de serviço e de humildade.
Ninguém chamava seu ao que lhe pertencia, tinham tudo em comum!
Este
ideal de vida foi e é mais do que uma utopia – seria bom ler ou reler o livro
com este título de Tomás Moro (1516) – pois se fundamenta na unidade/comunhão
nascida desde o mais íntimo de cada discípulo de Cristo e que se faz presença
em caridade e solidariedade.
* Bem
diferente e talvez visceralmente oposta é a noção de coletivo, sobretudo se
entendido como pretensão política e social. Esse dito coletivo – com a
coletivização dos bens de produção, da força de trabalho e mesmo da mentalidade
de governo/submissão – era (foi ou é) imposto à força, fazendo com que cada
qual se faça servidor duma entidade – mais ou menos abstrata – ‘estado’, que a
todos subjuga e faz participante mesmo que dele discorde ou possa estar contra.
Com efeito, o coletivismo fez vítimas, particularmente entre aqueles que se
opunham à sua concretização. Os regimes coletivistas tentaram criar pela força
algo que, em vez de seguidores, foi gerindo beneficiados, sobretudo se eram (são)
mentores da mesma ideologia, numa espécie de combate sem tréguas à dimensão
religiosa e cristã em particular… Pela compreensão que tenho da pessoa humana,
dispenso que me imponham esta forma de conduta! Nunca, jamais!
António Sílvio Couto
Sem comentários:
Enviar um comentário