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quarta-feira, 17 de maio de 2017

Chungarias dum tal ‘nogueira’!


Há, cá pela nossa terrinha lusitana, quem se arvore em comediante e pareça ter direito a desbocadamente dizer tudo o que lhe apetece – talvez seja o que lhe vem à cabeça sem filtro – e com isso ridicularizar tudo e todos, envolvendo as convicções dos outros e ofendendo os valores mais básicos da convivência humana, social e cultural.

Numa rádio (dita) pública surge diariamente (pelo menos duas vezes) um tal desses comediantes, que se atirou, dias-a-fio, a tudo quanto se referia a Fátima, ridicularizando a fé de milhões de portugueses/as e blasfemando para com Nossa Senhora, Jesus Cristo, os santos e o que há de mais sagrado para quem tem fé e que possa estar em comunhão como Igreja.

As chungarias – termo que significa ‘coisa reles, de má qualidade’ – desse programa – apelidado de ‘mata-bicho’– dão-nos suficientemente o timbre do humor, feito de insolências umas atrás das outras, sem contraditório nem objeções, simulando cultura com malcriadez, insinuações com direito de opinião, vulgaridade com falta de oportunidade, qualidade com insolência…

Possivelmente nunca o tal senhor ‘nogueira’ leia isto que aqui exprimo nem será visto o que possa dizer com contraposição aos dislates ouvidos, mas não se pode querer ser considerado ‘progressista’ quando se achincalha os valores mais essenciais dos crentes. Com efeito, a veia da mediocridade costuma socorrer-se de clichés religiosos, desde os mais básicos até aos mais exotéricos, para com isso ir nivelando pelo ridículo o que ofende e ultraja os sentimentos e a formação dos crentes…no caso cristãos/católicos e, sobretudo, portugueses. 

– Bem sabemos que a arte do humor tem de ser muito bem cuidada e nem sempre as ‘piadas’ são entendidas por todos de forma idêntica. O que a uns faz rir, a outros pode causar nojo. O que a uns pode revelar sentido de inteligência, a outros poderá parecer patético e aviltante. O que a uns serve de recurso à asneira, a outros poderá parecer que ultrapassou a barreira do bom senso e da cultura… 

– Agora que dizem que vivemos em democracia e liberdade, e que podemos – senão mesmo devemos – considerar-nos no direito e na obrigação de reagir àquilo que possa ter ultrapassado a barreira do aceitável. De facto, não basta a esperteza duns tantos para camuflar a falta de inteligência do resto dos cidadãos… Quando vemos que nos querem impingir um estado de flutuação sobre as dificuldades do dia-a-dia, podemos e devemos ser mais criteriosos na escolha do que nos faz rir e aquilo que nos pretender vender como fazedores da boa disposição a todo o custo!  

– Deus também é humor e coartar o sentido do riso e da alegria soará a falta vivência daquilo que a vida nos proporciona de mais sério e sereno. Há quem considere o ser cristão como uma espécie de agelasto militante. Ora, nada de mais enganado e enganoso. Bastará socorrermos dos textos dos evangelhos para vermos que estes só registaram duas vezes – uma perante a cidade de Jerusalém e outra por ocasião da morte de Lázaro – em que Jesus chorou. Se só diz isto em duas circunstâncias da vida de Jesus poderá significar exceções e não a regra, como alguns diziam na sua conduta religiosa… Por isso, rir é muito mais do que um comportamento para além do ser humano…Mas como a vida não é uma comédia, será preciso criar condições para que a atitude de alegria seja mais um estado de comportamento do que uma representação de gargalhada a pedido!  

= Urge fazermos da nossa conduta pessoal e social algo que valorize as coisas positivas e menos as desgraças e as tristezas. Pelo pouco tempo que vivermos em condição terrena assim saibamos viver de olhos postos no Céu e os pés bem assentes na Terra. Tal como nos disse o Papa Bento XVI, quando nos visitou em 2010, há muita gente com as mãos limpas, mas de não fazer nada. Ora, há também muitos/as que querem fazer rir os outros, mas deviam antes rirem-se de si mesmos…tal o ridículo que nos proporcionam, já!

 

António Sílvio Couto



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