Há, cá
pela nossa terrinha lusitana, quem se arvore em comediante e pareça ter direito
a desbocadamente dizer tudo o que lhe apetece – talvez seja o que lhe vem à
cabeça sem filtro – e com isso ridicularizar tudo e todos, envolvendo as
convicções dos outros e ofendendo os valores mais básicos da convivência
humana, social e cultural.
Numa
rádio (dita) pública surge diariamente (pelo menos duas vezes) um tal desses
comediantes, que se atirou, dias-a-fio, a tudo quanto se referia a Fátima,
ridicularizando a fé de milhões de portugueses/as e blasfemando para com Nossa
Senhora, Jesus Cristo, os santos e o que há de mais sagrado para quem tem fé e que
possa estar em comunhão como Igreja.
As
chungarias – termo que significa ‘coisa reles, de má qualidade’ – desse
programa – apelidado de ‘mata-bicho’– dão-nos suficientemente o timbre do
humor, feito de insolências umas atrás das outras, sem contraditório nem
objeções, simulando cultura com malcriadez, insinuações com direito de opinião,
vulgaridade com falta de oportunidade, qualidade com insolência…
Possivelmente
nunca o tal senhor ‘nogueira’ leia isto que aqui exprimo nem será visto o que
possa dizer com contraposição aos dislates ouvidos, mas não se pode querer ser
considerado ‘progressista’ quando se achincalha os valores mais essenciais dos
crentes. Com efeito, a veia da mediocridade costuma socorrer-se de clichés
religiosos, desde os mais básicos até aos mais exotéricos, para com isso ir
nivelando pelo ridículo o que ofende e ultraja os sentimentos e a formação dos
crentes…no caso cristãos/católicos e, sobretudo, portugueses.
– Bem
sabemos que a arte do humor tem de ser muito bem cuidada e nem sempre as
‘piadas’ são entendidas por todos de forma idêntica. O que a uns faz rir, a outros
pode causar nojo. O que a uns pode revelar sentido de inteligência, a outros
poderá parecer patético e aviltante. O que a uns serve de recurso à asneira, a
outros poderá parecer que ultrapassou a barreira do bom senso e da cultura…
– Agora
que dizem que vivemos em democracia e liberdade, e que podemos – senão mesmo
devemos – considerar-nos no direito e na obrigação de reagir àquilo que possa
ter ultrapassado a barreira do aceitável. De facto, não basta a esperteza duns
tantos para camuflar a falta de inteligência do resto dos cidadãos… Quando
vemos que nos querem impingir um estado de flutuação sobre as dificuldades do
dia-a-dia, podemos e devemos ser mais criteriosos na escolha do que nos faz rir
e aquilo que nos pretender vender como fazedores da boa disposição a todo o
custo!
– Deus
também é humor e coartar o sentido do riso e da alegria soará a falta vivência
daquilo que a vida nos proporciona de mais sério e sereno. Há quem considere o
ser cristão como uma espécie de agelasto militante. Ora, nada de mais enganado
e enganoso. Bastará socorrermos dos textos dos evangelhos para vermos que estes
só registaram duas vezes – uma perante a cidade de Jerusalém e outra por
ocasião da morte de Lázaro – em que Jesus chorou. Se só diz isto em duas
circunstâncias da vida de Jesus poderá significar exceções e não a regra, como
alguns diziam na sua conduta religiosa… Por isso, rir é muito mais do que um
comportamento para além do ser humano…Mas como a vida não é uma comédia, será
preciso criar condições para que a atitude de alegria seja mais um estado de
comportamento do que uma representação de gargalhada a pedido!
= Urge
fazermos da nossa conduta pessoal e social algo que valorize as coisas
positivas e menos as desgraças e as tristezas. Pelo pouco tempo que vivermos em
condição terrena assim saibamos viver de olhos postos no Céu e os pés bem
assentes na Terra. Tal como nos disse o Papa Bento XVI, quando nos visitou em
2010, há muita gente com as mãos limpas, mas de não fazer nada. Ora, há também muitos/as
que querem fazer rir os outros, mas deviam antes rirem-se de si mesmos…tal o
ridículo que nos proporcionam, já!
António
Sílvio Couto
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