Segundo
dados, recentemente divulgados, ficamos a saber que, quatro em cada dez
portugueses, entre os 60 e os 84 anos de idade, já sofreram violência
financeira por parte de familiares ou outros, que os forçaram a abdicarem do
seu património ou do seu dinheiro.
Estes
dados resultaram dum estudo do Instituto de saúde pública da Universidade do
Porto em articulação com um outro instituto sueco, e que envolveu mais seis
outros países europeus, como: Alemanha, Grécia, Itália, Lituânia, Espanha e
Suécia.
Se,
nestes seis países, os maus tratos físicos a idosos se situaram na ordem de
11,5%, em Portugal os dados referem que 16% foram maltratados ao nível físico.
Na vertente de violência psicológica, o nosso país anda em 33,7%, enquanto nos
países consultados se situa nos 34,7%. Se tivermos em conta nos idosos das
consequências destas duas violências, poderemos considerar que a violência
psicológica origina perda de autonomia e retração em relação aos outros,
enquanto a violência física repercute-se na dificuldade posterior em criar
laços de confiança com os outros…
= Os
dados estão aí: desde 1970 até 2015 a população com mais de 80 anos cresceu
cinco vezes mais, em Portugal: eram 123.592, em 1970, e, em 2015, eram 605.012.
De referir ainda que na década de 70 do século passado havia duas crianças, com
menos de dez anos, por uma pessoa com mais de 65 anos… Agora são duas pessoas
com mais de 65 anos por uma criança até aos dez anos! Com a média de vida a
subir nos tempos mais recentes – as mulheres mais vinte anos e os homens mais
dezassete – vamos ter de reformular as nossas visões e condições decorridas da
longevidade, atendendo ainda ao decréscimo dos nascimentos, às migrações e mesmo
à desinstalação familiar duma grande parte dos idosos…
= Quem
tenha de cuidar dos meios para manter os espaços ligados – como centros
paroquiais ou outros – à infância saberá que as coisas estão presas por mui finos
fios de instabilidade, enquanto as respostas às solicitações para com os mais
velhos são escassas e estão, na maior parte dos casos, sobrelotadas e com
excesso de pedidos.
O grave
é saber que, em situações pontuais, mas facilmente identificáveis, há
familiares que retiram os mais velhos das condições de vivência razoáveis, em
lares e casas de repouso, para usufruírem das magras reformas, colocando-os em
risco de sobrevivência a curto prazo. Com efeito, não são os pouco mais de
trezentos e trinta euros por pessoa com que a segurança social comparticipa as
instituições, que têm acordos de cooperação, que irão dar dignidade a quem vai
envelhecendo… Algo mais tem de ser feito pelos mais velhos e as suas famílias,
que, afinal, somos todos nós, seja qual for a etapa etária em que nos possamos
encontrar.
= Mesmo
duma forma um tanto subtil – embora nunca capciosa – precisamos de ir
construindo com os mais velhos a dignificação da sua longevidade, criando
espaços e oportunidades para que não fiquemos só no cuidado do corpo (biológico
e material), mas que possamos proporcionar-lhes vivências psicológicas e
espirituais onde os mais velhos sejam capazes de interagir e de serem
valorizados nas suas experiências de vida…muitas vezes sofrida e nem sempre com
as condições de bom desempenho ao tempo.
Agora
que tantas pessoas se vão retirando do trabalho profissional em pleno uso das
suas faculdades mentais e emocionais, poder-se-á tornar mais fácil organizar,
ao nível das associações e coletividades ligada à Igreja católica, iniciativas
que permitam aos mais velhos menos evangelizados momentos de aprendizagem da fé
e da cultura religiosa. Poderemos passar das devoções ao estudo da Bíblia, das
rotinas tradicionais ao possibilitar vivências adequadas à idade e à instrução
de cada um… Não deixemos tudo entregue às autarquias nem confiemos nas boas
intenções das (ditas) universidades seniores… Temos de criar sinergias entre as
várias entidades ligadas às questões eclesiais para darmos aos mais velhos
aquilo que gostaríamos de vir a receber quando lá chegarmos…mais depressa do
que nos parece!
Semeemos
para vir a colher…
António Sílvio Couto
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