Em
certas datas e efemérides podemos perceber um tanto melhor como há termos e
conceitos que podem estar (mais ou menos) distorcidos, senão mesmo manipulados,
por preconceitos e formas enviesadas de ler, de dizer e mesmo de compreender.
Ora,
‘trabalhador’ é uma dessas palavras e conceitos – mesmo que ‘trabalho’ possa
ser menos discordante segundo as ideologias e as mentalidades – que cada qual
usa segundo lhe possa convir e servir como que de arma-de-arremesso contra
outros que pensem de forma diferente…
= Se recorrermos
a uma definição (descritiva) da wikipédia lemos: ‘trabalhador é um termo amplo
que inclui todo aquele que vive do seu trabalho – isto inclui o escravo, o
servo, o artesão e o proletário. Na atualidade, o trabalhador é considerado
legalmente (formalmente) como todo aquele que realiza tarefas baseadas em
contratos, com salário acordado e direitos previstos em lei. No caso de
voluntariado, trabalha-se em instituições sem fins lucrativos, não sendo,
portanto, assalariados’.
Se
tivermos ainda em conta os qualificativos que podemos acrescentar a trabalhador,
encontramos: por conta de outrem, independente, liberal…tendo em atenção a
profissão desempenhada… atendendo ao local onde trabalha…em conformidade com a
tarefa assumida…numa visão mais pessoal ou mais comunitária…numa leitura
materialista ou com incidência espiritual… Ora, podemos e devemos
considerar-nos todos – duma forma ou doutra – trabalhadores, isto é,
construtores dum mundo mais humanizado e onde cada um de nós colabora como coo-criador
com Deus criador.
= Diante
desta visão mais abrangente do que é costume de trabalhador, a quem interessa
afunilar a aplicação do termo só a quem faz algo pago e/ou em função duma
(quase pretensa) exploração? Não teremos sido excessivamente instruídos numa
perspetiva dialética de trabalho? Trabalho não deverá ser entendido muito para
além das mais-valias que gera quem paga? Não há tanto trabalho que não tem paga
e nem por isso deixa de ser uma atividade humana digna e dignificante de quem a
executa?
= Não
podemos continuar a permitir que haja uns tantos, habilidosos na arte de
manipular, que queiram assenhorear-se de conceitos e de termos que são
património da toda a humanidade. Ora, o trabalho é um desses termos que faz de cada
um de nós participante na obra da criação de Deus, completando no hoje de cada
momento da história o que nos está confiado por missão divina e tarefa humana.
Também,
por isso, é grave a preguiça, a exploração duns pelos outros, o trabalho
não-devidamente pago, a falta de segurança no trabalho, a discriminação entre
trabalho executado por homens e por mulheres, o menosprezo por certas
profissões, pretensamente secundárias, a apropriação indevida do trabalho
infantil, o prolongamento da dependência dos outros (subsídios, abonos ou
benesses) para além do tempo necessário…
Embora
tenham (já) exercido uma benéfica função, os sindicatos que hoje temos estão
ultrapassados na forma e no conteúdo, pois continuam a ser, muitas vezes,
correias de transmissão de partidos políticos e, nalguns casos, comportam-se
mais como caixas-de-ressonância de interesses ideológicos mais subtis… E o pior
é que só funciona num sentido!
= Agora
que não é preciso tanto tempo de trabalho para produzir, torna-se urgente
refletir sobre a valorização da pessoa humana para além do tempo estrito de
trabalho – dizemo-lo no dito remunerado. Não são precisas tantas horas de
trabalho para conseguir idênticos resultados aos alcançados há décadas. Não
poderemos, no entanto, concordar com a pretensão de menos horas de trabalho com
mesmos rendimentos, pois correr-se-ia o risco de acumular horas de trabalho em
vários empregos. Culturalmente temos muito a ganhar e a fazer melhor! Os
sindicatos, as autarquias, as associações e coletividades, as igrejas e outras
agremiações de âmbito sócio-cultural têm uma palavra a dizer antes que seja
tarde.
Porque
somos, de facto, todos trabalhadores precisamos de nos unirmos mais do que para
reivindicar para construirmos uma sociedade mais justa, mais fraterna e mais
solidária…dando cada qual o seu contributo!
António Sílvio Couto
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