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segunda-feira, 1 de maio de 2017

Não somos todos trabalhadores?


Em certas datas e efemérides podemos perceber um tanto melhor como há termos e conceitos que podem estar (mais ou menos) distorcidos, senão mesmo manipulados, por preconceitos e formas enviesadas de ler, de dizer e mesmo de compreender.

Ora, ‘trabalhador’ é uma dessas palavras e conceitos – mesmo que ‘trabalho’ possa ser menos discordante segundo as ideologias e as mentalidades – que cada qual usa segundo lhe possa convir e servir como que de arma-de-arremesso contra outros que pensem de forma diferente… 

= Se recorrermos a uma definição (descritiva) da wikipédia lemos: ‘trabalhador é um termo amplo que inclui todo aquele que vive do seu trabalho – isto inclui o escravo, o servo, o artesão e o proletário. Na atualidade, o trabalhador é considerado legalmente (formalmente) como todo aquele que realiza tarefas baseadas em contratos, com salário acordado e direitos previstos em lei. No caso de voluntariado, trabalha-se em instituições sem fins lucrativos, não sendo, portanto, assalariados’.

Se tivermos ainda em conta os qualificativos que podemos acrescentar a trabalhador, encontramos: por conta de outrem, independente, liberal…tendo em atenção a profissão desempenhada… atendendo ao local onde trabalha…em conformidade com a tarefa assumida…numa visão mais pessoal ou mais comunitária…numa leitura materialista ou com incidência espiritual… Ora, podemos e devemos considerar-nos todos – duma forma ou doutra – trabalhadores, isto é, construtores dum mundo mais humanizado e onde cada um de nós colabora como coo-criador com Deus criador. 

= Diante desta visão mais abrangente do que é costume de trabalhador, a quem interessa afunilar a aplicação do termo só a quem faz algo pago e/ou em função duma (quase pretensa) exploração? Não teremos sido excessivamente instruídos numa perspetiva dialética de trabalho? Trabalho não deverá ser entendido muito para além das mais-valias que gera quem paga? Não há tanto trabalho que não tem paga e nem por isso deixa de ser uma atividade humana digna e dignificante de quem a executa? 

= Não podemos continuar a permitir que haja uns tantos, habilidosos na arte de manipular, que queiram assenhorear-se de conceitos e de termos que são património da toda a humanidade. Ora, o trabalho é um desses termos que faz de cada um de nós participante na obra da criação de Deus, completando no hoje de cada momento da história o que nos está confiado por missão divina e tarefa humana.

Também, por isso, é grave a preguiça, a exploração duns pelos outros, o trabalho não-devidamente pago, a falta de segurança no trabalho, a discriminação entre trabalho executado por homens e por mulheres, o menosprezo por certas profissões, pretensamente secundárias, a apropriação indevida do trabalho infantil, o prolongamento da dependência dos outros (subsídios, abonos ou benesses) para além do tempo necessário…

Embora tenham (já) exercido uma benéfica função, os sindicatos que hoje temos estão ultrapassados na forma e no conteúdo, pois continuam a ser, muitas vezes, correias de transmissão de partidos políticos e, nalguns casos, comportam-se mais como caixas-de-ressonância de interesses ideológicos mais subtis… E o pior é que só funciona num sentido! 

= Agora que não é preciso tanto tempo de trabalho para produzir, torna-se urgente refletir sobre a valorização da pessoa humana para além do tempo estrito de trabalho – dizemo-lo no dito remunerado. Não são precisas tantas horas de trabalho para conseguir idênticos resultados aos alcançados há décadas. Não poderemos, no entanto, concordar com a pretensão de menos horas de trabalho com mesmos rendimentos, pois correr-se-ia o risco de acumular horas de trabalho em vários empregos. Culturalmente temos muito a ganhar e a fazer melhor! Os sindicatos, as autarquias, as associações e coletividades, as igrejas e outras agremiações de âmbito sócio-cultural têm uma palavra a dizer antes que seja tarde.

Porque somos, de facto, todos trabalhadores precisamos de nos unirmos mais do que para reivindicar para construirmos uma sociedade mais justa, mais fraterna e mais solidária…dando cada qual o seu contributo!         

 

António Sílvio Couto




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