Depois
de um debate sobre a (apelidada) despenalização da eutanásia, o mesmo canal
televisivo emitiu um programa sobre Estaline/Hitler, onde foram comparados e
por onde passou a longa carnificina de ambos, tanto nas trincheiras do
comunismo como do nazismo… atendendo às personalidades respetivas e aos métodos
usados para vencerem inimigos e correligionários.
Mais do
que um mero documentário histórico, o segundo programa como que nos fez
refletir – pelo menos a mim – sobre os pretensos ideais ‘humanistas’ dos
proponentes da tão ‘heroica’ eutanásia… defensora da autonomia de cada pessoa…
até para poder escolher a hora e o modo de morte.
– Quando
certas forças trazem para a discussão pública – política, social, ética, médica
e civilizacional – algumas questões de fronteira duma forma tão simplista e
acintosa como que sentimos que algo está podre nesta sociedade ocidental, pois
a falta de rigor nos valores éticos põe a manifesto que andamos entretidos com
minudências e que questionamos o que é essencial, sabe-se lá com que propósito.
– Quando
vemos surgirem na defesa e promoção de tais temas (ditos) fraturantes figuras
que se reclamam – e assim têm intervindo publicamente – da área dos valores
cristãos, cremos que aquilo que temos reproduzido não passam de oportunistas
malformados e um tanto paladinos da mentira, que, para além dalguma
incongruência entre a (possível) fé e a (devida) práxis, mais se assemelham a
lacraus que mordem quem os ajuda e promove…
–
Naquele programa televisivo sobre Estaline/Hitler foram apresentados números
que valerá a pena recordar: Estaline no tempo do seu governo (trinta anos) terá
causado a morte até 60 milhões de pessoas, enquanto Hitler e seus sequazes,
sobretudo no contexto da segunda guerra mundial, terão provocado cerca de 70
milhões de mortos. Este foi o ambiente que se viveu há cerca de seis décadas na
Europa e que o tal programa televisivo nos apresentou por entre conjeturas e
suposições, perpassando momentos históricos do passado, apresentando números de
façanhas atrozes de governantes que ainda suscitam – pelo menos na área
marxista – algum saudosismo ou talvez revanchismo…
– Agora
que a Europa tem vivido tanto tempo de paz como nunca antes acontecera, vemos que
há forças que pretendem ocupam o seu esforço político e moral com projetos de ‘audaz
pertinência’, colocando os valores em causa, relevando a desvalorização da vida
para planos inclinados e até querendo fazer acreditar que muitos pensam dessa
forma, mas não permitem que o assunto possa ser referendado…
–
Recordo algo que já referi numa outra ocasião: uma das figuras mais defensoras
desta despenalização da eutanásia morreu há uns meses. Disse-se, em desabafos
nas redes sociais, que acompanharam a sua morte que o seu maior medo era o de
poder morrer sozinha… Ao tempo teve cerimónias religiosas, mas não sabemos se
aquilo que defendia para os outros o queria (ou quis) para si mesma… Talvez os
agora paladinos da despenalização da eutanásia possam sofrer da mesma doença,
isto é, a incoerência; mas, por favor, não façam (ou exijam) para os outros
aquilo que não pretendem para si mesmos!
–
Termino com uma breve estória. Um professor chegou a uma aula e apresentou aos
alunos uma prova relâmpago. Não podiam ter nada sobre a mesa, senão algo com
que escrever. Distribuiu, então, uma folha, onde numa das faces estava somente
um ponto negro no meio…Perante a surpresa, o professor disse aos alunos que
tinham de escrever sobre aquilo que estavam a ver…Decorrido o tempo dado,
recolheu as folhas e começou a ler o que tinham escrito…Todos discorreram sobre
o ponto negro…ao que o professor respondeu que todos tinham falado do ponto
negro e ninguém se deteve a falar da folha em branco… concluindo que todos nós (mais
ou menos) fazemos o mesmo: temos uma folha em branco, que é a nossa vida, mas,
na maior parte dos casos, fixamo-nos nos pontos negros… temos tantas coisas
positivas, mas temos a tendência para realçar mais os pontos negros na saúde,
nas dificuldades, nos problemas familiares e de emprego… Sim, há pontos negros,
mas não podemos exaltá-los mais do aquilo que há de positivo cada dia…
– Agora
que se vai falar mais a sério do tema da eutanásia, que ele não seja o nosso
ponto negro coletivo, distraindo-nos do que é mesmo essencial: a vida e as suas
mais variadas manifestações, mesmo que por entre dores e sofrimentos. Os
profetas da desgraça não podem ganhar ou, então, estaremos a criar condições
para novos hitler’s e estaline’s encapotados…que andam por aí!
António Sílvio Couto
Sem comentários:
Enviar um comentário