Com o
falecimento consumado dum tal venerável ‘patriarca’ da democracia portuguesa
como que se pode aperceber um tanto melhor o terminus do reinado duma certa
oligarquia – ‘republicana, laica e um tanto socialista’, mas com tiques de
monarquia… senão na forma (fórmula), ao menos num tácito conteúdo – que tem
vindo a saltitar pelo poder – pretensamente – democrático nos últimos quarenta
anos em Portugal…
Repare-se
na veneração (quase) idolátrica com que foi noticiado o passamento e os
remoques com que uns tantos ao serviço foram aparecendo e dando as suas doutas
opiniões…
= Agora
que se fechou em definitivo o ciclo de vida – suficientemente longa – de tão
vetusta personagem, ainda vamos sentindo as réplicas do realizado… umas vezes
bem, outras sem brilho e pouca glória; tantas de combate e muitas de
contestação; umas com direito à indignação, outras a roçar a indignidade
(processo de descolonização); muitas vividas com vitórias e quantas outras
sorvidas com tragos de derrota; bastantes com popularidade e não menos no
equilibrismo em serem consideradas dalgum populismo…à luz dos factos hodiernos;
visto como herói em momentos de crise, embora podendo ser interpretado como
renegado por outros mais fundamentalistas; pretenso conciliador, embora com
posições de inveterado inconformista…
= Quando
esboçamos estas apreciações – que não são, de forma alguma, juízos nem nada que
possa ser julgado como tal, pois só Deus (creia-se ou não n´Ele) nos pode
avaliar… – ainda decorrem os preparativos para o designado ‘funeral com honras
de estado’ – algo único em mais de 40 anos de democracia – e que, na intenção
dos promotores, poderá ser uma manifestação popular – ou será antes, mais uma
vez, populista? – de reconhecimento nas ruas dos feitos do ‘rei da república’ e
família!
= Tenho
mais de cinquenta anos e recordo-me desta figura pública nas lides da
política…pura e dura. Não sou, por isso, dos que não viveram – com que aflição
apreensiva – tantos dos atos e factos dos tempos mais recuados ou nas posições
mais recentes e de razoáveis agruras… Não sinto, no entanto, que tudo foi
louvável e que nada (ou muito pouco) deixou de ter marcas na nossa identidade
coletiva – sem ser coletivista – desde a dimensão económico-financeira até às
consequências de decisões ideológicas…mais ou menos visíveis e/ou toleradas…na
Europa e para com o resto do mundo!
= Não
sou daqueles – mesmo que de forma indireta – são ingratos. Muito daquilo que
hoje podemos ser – com liberdade, tanto social, como cultural e até religiosa –
está enraizado na longa e fundamental história de quem soube defender a
diferença, mesmo com prejuízo mais ou menos tolerado do seu sucesso... Talvez a
influência de quem acompanhou o agora aureolado de ‘heroicidade’ tenha tido
importância, mesmo que não o possa ter sido assumido tão claramente, como seria
desejável. Umas tantas raízes de teor espiritualizante foram fazendo caminho,
atendendo aos ancestrais e com ramificações que devem ser pontualizadas muito
para além dos mentores do triângulo…supremo.
= E o
futuro, o que é que nos trará sobre a (dita) defunta oligarquia? Quais serão os
efeitos do final do reinado sobre as mentes e no trato com os ‘súbditos’ um
tanto confusos e em recuo de visibilidade?
Agora
que estamos numa espécie de novo paradigma ainda poderemos esperar que algo vai
ressurgir na mentalidade dos vindouros? Será que estamos a viver o estertor de
algo que está caduco e ultrapassado? Como poderemos aferir com confiança que os
novos tempos serão mais norteados pelo direito do que pelo protesto à
indignação?
Embora
respeitando as opções religioso-culturais, ousamos dizer: RIP (descansa em
paz)!
António Sílvio Couto
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