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segunda-feira, 9 de janeiro de 2017

Fim duma certa oligarquia?


Com o falecimento consumado dum tal venerável ‘patriarca’ da democracia portuguesa como que se pode aperceber um tanto melhor o terminus do reinado duma certa oligarquia – ‘republicana, laica e um tanto socialista’, mas com tiques de monarquia… senão na forma (fórmula), ao menos num tácito conteúdo – que tem vindo a saltitar pelo poder – pretensamente – democrático nos últimos quarenta anos em Portugal…

Repare-se na veneração (quase) idolátrica com que foi noticiado o passamento e os remoques com que uns tantos ao serviço foram aparecendo e dando as suas doutas opiniões…  

= Agora que se fechou em definitivo o ciclo de vida – suficientemente longa – de tão vetusta personagem, ainda vamos sentindo as réplicas do realizado… umas vezes bem, outras sem brilho e pouca glória; tantas de combate e muitas de contestação; umas com direito à indignação, outras a roçar a indignidade (processo de descolonização); muitas vividas com vitórias e quantas outras sorvidas com tragos de derrota; bastantes com popularidade e não menos no equilibrismo em serem consideradas dalgum populismo…à luz dos factos hodiernos; visto como herói em momentos de crise, embora podendo ser interpretado como renegado por outros mais fundamentalistas; pretenso conciliador, embora com posições de inveterado inconformista… 

= Quando esboçamos estas apreciações – que não são, de forma alguma, juízos nem nada que possa ser julgado como tal, pois só Deus (creia-se ou não n´Ele) nos pode avaliar… – ainda decorrem os preparativos para o designado ‘funeral com honras de estado’ – algo único em mais de 40 anos de democracia – e que, na intenção dos promotores, poderá ser uma manifestação popular – ou será antes, mais uma vez, populista? – de reconhecimento nas ruas dos feitos do ‘rei da república’ e família! 

= Tenho mais de cinquenta anos e recordo-me desta figura pública nas lides da política…pura e dura. Não sou, por isso, dos que não viveram – com que aflição apreensiva – tantos dos atos e factos dos tempos mais recuados ou nas posições mais recentes e de razoáveis agruras… Não sinto, no entanto, que tudo foi louvável e que nada (ou muito pouco) deixou de ter marcas na nossa identidade coletiva – sem ser coletivista – desde a dimensão económico-financeira até às consequências de decisões ideológicas…mais ou menos visíveis e/ou toleradas…na Europa e para com o resto do mundo!  

= Não sou daqueles – mesmo que de forma indireta – são ingratos. Muito daquilo que hoje podemos ser – com liberdade, tanto social, como cultural e até religiosa – está enraizado na longa e fundamental história de quem soube defender a diferença, mesmo com prejuízo mais ou menos tolerado do seu sucesso... Talvez a influência de quem acompanhou o agora aureolado de ‘heroicidade’ tenha tido importância, mesmo que não o possa ter sido assumido tão claramente, como seria desejável. Umas tantas raízes de teor espiritualizante foram fazendo caminho, atendendo aos ancestrais e com ramificações que devem ser pontualizadas muito para além dos mentores do triângulo…supremo.    

= E o futuro, o que é que nos trará sobre a (dita) defunta oligarquia? Quais serão os efeitos do final do reinado sobre as mentes e no trato com os ‘súbditos’ um tanto confusos e em recuo de visibilidade?

Agora que estamos numa espécie de novo paradigma ainda poderemos esperar que algo vai ressurgir na mentalidade dos vindouros? Será que estamos a viver o estertor de algo que está caduco e ultrapassado? Como poderemos aferir com confiança que os novos tempos serão mais norteados pelo direito do que pelo protesto à indignação?

Embora respeitando as opções religioso-culturais, ousamos dizer: RIP (descansa em paz)!

 

António Sílvio Couto 




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