Segundo
um estudo duma universidade portuguesa nas crianças, entre os três e os oito
anos, 18% têm um telemóvel para uso pessoal, 38% acedem à internet, 63% têm um
tablet pessoal… se tivermos em conta que metade dos telemóveis usados são
smartphones com acesso à rede, poderemos deduzir que estes nativos digitais
vivem no seu mundo num próprio e por eles dominado e talvez os adultos
(educadores, pais ou outros) não consigam detetar por onde andam a navegar os
filhos e os que lhes estão ao cuidado…
O
referido estudo intitula-se: ‘Crescendo entre ecrãs. Uso de meios eletrónicos
por crianças’ e envolveu vinte famílias com crianças naquela faixa etária.
Dos
dados recolhidos, os especialistas conseguiram perceber que televisores,
computadores, tablets e telemóveis ajudam os pais a entreter os filhos e podem
ainda ser considerados com instrumentos apaziguadores enquanto os adultos estão
ocupados com as suas tarefas… Outras formas de entretenimento –que já tiveram
grande sucesso em tempos mais ou menos recentes – como consolas de jogos, DVD’s
e computadores portáteis também fazem parte das rotinas das crianças…embora com
menos frequência.
Vejamos
ainda outros meios de comunicação que preenchem os lares portugueses: 99% têm,
pelo menos, um televisor; em 92% há um telemóvel; em 68% dos lares estão
presentes os tablets; os computadores portáteis têm espaço em 70% das casas;
94% das crianças veem televisão todos os dias, numa média de uma hora e
quarenta minutos diários.
= Tem
sido no âmbito dos meios de comunicação em dinâmica digital e quanto disso
decorre que mais temos crescido – dizer evoluído poderá ser um tanto excessivo
– nas últimas décadas. Se repararmos que o primeiro ‘computador pessoal (pc)’
surgiu, em 12 de agosto de 1981, poderemos todos ver isso na comparação com a
idade que temos… De facto, cada vez mais estamos em contínua desatualização não
só de instrumentos como até de ferramentas. Isso exige-nos uma grande humildade
numa aprendizagem sem recuo nem estagnação...
= Há, no
entanto, algo que podemos e devemos pontualizar: os meios técnicos não
substituem a inteligência nem esta pode subestimar aqueles, pois, durante algum
tempo, poder-se-á camuflar as capacidades reais, mas o valor da pessoa humana
nunca terá mais capacidade do que os instrumentos usados, pois quando estes forem
mais importantes estaremos (quase) a colapsar como humanos.
Não será
uma ‘exibição’ florescente de power-point’ que fará o trabalho do estudo
aturado e assimilado com horas de reflexão… Não serão pequenos truques de
eletrónica que farão perceber quem domina a matéria ou se foi colocada em
‘copy-paste’ sem absorção dos conteúdos… Não será um bem-falante com artifícios
de ocasião que irá suplantar uma comunicação com emoções e vida feita de
testemunho…
= Apesar
de tantos e tão auspiciosos recursos tecnológicos continuamos a precisar das
pessoas para fazermos com que a história humana evolua, pois esta, embora
contando com aqueles, é sempre feita por pessoas que podem ou devem, vivem ou
desistem de construir novos episódios onde a valor humano se afirma e cresce
numa maior humanização de todos e não só duma pseudoelite.
Se há
ainda qualidade da pessoa humana que costuma estar em alto grau de vivência é a
de adaptação a novas situações, muitas delas adversas e que nos fazem viver
numa correlação de forças onde a inteligência humana, normalmente, vence. De
outro modo correríamos sérios riscos de sermos ultrapassados pela fabricação de
novos instrumentos, que nos hão de auxiliar a fazermos deste mundo um espaço
mais humano e mais civilizado. Para que tal aconteça precisamos de viver numa
contínua educação, cuidando de que não sejamos meros figurantes numa paisagem
que precisa de ser amada e embelezada, admirada e contemplada, vista e sentida…
= Não
será que as nossas crianças nascidas e criadas, instruídas e civilizadas,
ocupadas e entretidas, vivem cada vez mais sós? Embora possam ter o mundo nas
suas mãos, parece que não têm mãos que as afaguem, que as beijem e que as
amparem com ternura e carinho… Comuniquemos mais uns com os outros, já!
António Sílvio Couto
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