Tem sido
recorrente vermos e lermos a referência a uma nova palavra: pós-verdade. Foi
até a escolhida como a ‘palavra do ano’ de 2016 (post-truth) para o dicionário
Oxford.
Em que
consiste este novo vocábulo? Qual o conteúdo (ou a falta dele) para que
possamos falar de algo com consistência? Será que este termo define alguma
coisa sobre o nosso tempo/era? Numa linguagem morfológica, é um adjetivo ou um
substantivo?
Com
efeito, precisamos de explicar esta ‘pós-verdade’ para tentarmos encontrar a
sua abrangência mais relevante, tendo ainda na devida conta uma outra palavra
em que se quer dizer o que não se desejava exprimir: não-verdade, isto é, não
se refere ‘mentira’ nem tão pouco se classifica alguém como ‘mentiroso’, mas
antes se diz que usou de inverdade…
Pós-verdade
há quem a descreva (mais do que defina) como um adjetivo ‘relacionado ou
denotando circunstâncias em que factos objetivos são menos influentes na
formação da opinião pública do que apelos à emoção e crença pessoal’.
Entendidos
na matéria – desde a comunicação social até à dimensão política, passando pela
sua expressão em conteúdos das redes sociais – consideram que a pós-verdade
traz consigo o definhamento da relevância da verdade e da objetividade na vida
privada e pública… exaltando a importância das emoções, tanto na vida privada
como na sua expressão pública.
Atendendo
ao poder que se vem conferindo às redes sociais, sobretudo onde há menor
intervenção de instrumentos de controlo, podem por ali difundirem-se informações
e declarações mais ou menos disparatadas… Podem circular imensas inverdades,
exageros e todo o tipo de invenções não contraditadas…
Também
na era da pós-verdade, cada grupo tem ou pode criar o seu conjunto de crenças,
deixando de dar qualquer importâncias aos outros…mesmo que relevantes. Como que
se vai valorizando mais a fragmentação do que a dimensão total, gerando-se
ainda pessoas fechadas em pequenos grupos de círculos de interesses
ideológicos, sociais e económicos… mais apáticos do que participativos…nos mais
básicos atos cívicos!
= Perante
tal civilização da pós-verdade, teremos de construir uma nova resposta: a busca
da pós-mentira. Aí haveremos de passar da superficialidade e do engano de
tantas intervenções nas redes sociais para a responsabilização em difundir
sempre e só o que é digno de crédito e não uma certa bisbilhotice barata –
antes exercida à mesa de café ou no soalheiro, mas agora cúmplice do espreitar
por novos buracos da fechaduras, que têm vindo a ser, tantos post’s entre
(pretensos) amigos sem amizade…
Como não
podemos continuar a deixar-nos ir no engodo de que a pós-verdade ainda possa
ter algo a insinuar-se para com a verdade, cada vez melhor teremos de atender
àqueles/as com que nos relacionamos – mesmo em matéria de virtualidade –
sabendo gerir, nesta economia do digital, quem nos possa ajudar a crescer na
responsabilização do uso das tecnologias, cultivando os valores mais essenciais
e não à mera visualização factual e difusa, mas sem real consistência…
= É
preciso perder o medo de chamar à inverdade, mentira; de classificar a
pós-verdade, de manipulação; para que possamos incluir no nosso léxico –
pessoal e coletivo, social e político – que a pós-mentira, é tão simplesmente,
uma escolha da verdade, como conceito ético/moral e, sobretudo, como vivência
de programação cristã, que se vai aferindo a Verdade por excelência que é uma Pessoa
e uma clara mensagem, Jesus Cristo.
Quando
tantos pensam ainda que a paz – social e política, cultural e económica – dos
últimos setenta anos na Europa parece garantida, precisamos de advertir: pelos
indícios de pós-verdade, muito breve, poderemos entrar em colapso e só uma
assunção da pós-mentira poderá fazer-nos acreditar que os problemas que nos vão
noticiando poderão servir para continuarem a enganar-nos com futilidades…Vejam-se
as manigâncias atribuídas ao futuro presidente dos EUA, as manobras
desconformes aos que não fazem parte da proteção da geringonça, as subtilezas
dos protegidos pelos vencimentos aumentados, os silêncios amordaçados de quem
pensa de modo diferente…embora livremente. Servidores da pós-mentira,
precisam-se!
António Sílvio Couto
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