Nos
tempos mais recentes, numa espécie de onda crescente, temos vindo a tomar
conhecimento de factos e de figuras, de situações e de intervenientes, de
narrativas e de suposições…onde quem, ontem, estava num lugar ou num posto,
hoje, desempenha tarefas – algumas concorrentes – que podem questionar a
legitimidade e/ou a seriedade de tudo e de bastantes…
Reduzimos
o âmbito de referência ao mundo do desporto – e do futebol em particular – e da
ação política, com especial incidência na versão mais autárquica… até pela
proximidade às movimentações do xadrez partidário, ‘independente’ e afins.
= Com
alguma facilidade temos visto que um jogador pode representar um clube (ou
emblema) numa semana ou mês, e dias depois, estar a jogar por aqueles que antes
defrontou. Vimos, recentemente, que uma determinada cor desportiva retirou –
acintosamente – jogadores, que tinha até aí emprestado, a um outro projeto
desportivo mais pequeno, que o venceu e fez sair da competição em que ambos
estavam interessados… Temos visto serem condicionados os praticantes se não
forem atendidos os anseios dos mais fortes… Nota-se uma certa conivência e
beneplácito dos mais poderosos para com os menos fortes, tornando tudo ‘normal’
e sob a complacência de quem manda, sabe-se lá a troco do quê!
Já não
bastava falar da compra-e-venda de jogadores – como se fossem peças dum puzzle
mais ou menos articulado – para ainda termos de tolerar esta cultura de
mercenário, onde a pessoa se pode reduzir aos meros intentos de quem manda ou
que ostenta mais poder…económico e social, pois de desportivo tem muito pouco
ou mesmo nada…
= Outros
sim poderemos considerar a prática de mercenarismo – uma espécie de ideologia
que percorre o espetro político sem cor clara nem quadro de referência assumido
– nas propostas com que certas figuras deambulam nos lugares de poder: umas
vezes surgem (quase) no topo da lista candidata; outras vezes escondem-se nos
lugares mais subtis, mas prontos a subir à ribalta; nuns casos percebe-se com
facilidade quem são e o que pretendem; noutras situações esperam pela hora mais
conveniente para aparecerem como substitutos (já) pensados; nalgumas vezes
surgem de surpresa, enquanto noutros parecem (quase) morcegos em noite de lua
cheia…
= ‘Roma
não paga a traidores’. Eis uma frase eloquente que poderia ilustrar a forma de
entendermos alguns posicionamentos de certas figuras (ou figurões) do nosso
quotidiano. Com efeito, aquela frase citada ilustra como as forças romanas
responderam ao modo com que alguns ‘soldados’ lusitanos mataram, à traição,
Viriato, em 139 a.C., derrotando este inimigo de Roma…no espaço daquilo que
viria a ser este país que agora somos. De facto, perante a bravura e a intrépida
coragem daquele chefe luso, foi preciso aliciar uns certos militares da sua
tribo para porem termo à sua vida…em resposta os beneficiados com a perda, os
romanos, executaram os facínoras, declarando que não pagavam a quem atraiçoara…
= No
contexto da sociedade em que se vive, mais para o culto da aparência do que para
a autenticidade, tanto das palavras, como dos atos, poderemos considerar que
aquilo que ontem era mentira, hoje pode ser considerado verdade – este
pensamento foi expresso por um homem do futebolês, já retirado de circulação –
bem como aquilo que hoje se afirma perentoriamente pode amanhã não passar duma
mentira refinada e antítese duma nova conjetura dialética… Deste modo ser
mercenário pode parece um bom ofício em que se ganha enquanto se reina e até
que seja descoberta a falsidade de comportamento e de vida…encoberta.
Não são
estes os critérios e valores que perfilhamos. As pessoas não podem ser usadas
em nosso proveito nem enquanto nos convém. A lealdade e a palavra de honra são
mais importantes do que os míseros proventos – mesmo que possam ser de milhões
– ganhos com enganos e truques de má-fé.
As
opções devem merecer a convicção duma vida, independentemente dos resultados,
mas nunca à custa de ser mercenário, adulador ou intriguista… Nada paga uma
consciência serena, séria e sensata!
António Sílvio Couto
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