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sexta-feira, 27 de janeiro de 2017

Opções, resultados & mercenários


Nos tempos mais recentes, numa espécie de onda crescente, temos vindo a tomar conhecimento de factos e de figuras, de situações e de intervenientes, de narrativas e de suposições…onde quem, ontem, estava num lugar ou num posto, hoje, desempenha tarefas – algumas concorrentes – que podem questionar a legitimidade e/ou a seriedade de tudo e de bastantes…

Reduzimos o âmbito de referência ao mundo do desporto – e do futebol em particular – e da ação política, com especial incidência na versão mais autárquica… até pela proximidade às movimentações do xadrez partidário, ‘independente’ e afins. 

= Com alguma facilidade temos visto que um jogador pode representar um clube (ou emblema) numa semana ou mês, e dias depois, estar a jogar por aqueles que antes defrontou. Vimos, recentemente, que uma determinada cor desportiva retirou – acintosamente – jogadores, que tinha até aí emprestado, a um outro projeto desportivo mais pequeno, que o venceu e fez sair da competição em que ambos estavam interessados… Temos visto serem condicionados os praticantes se não forem atendidos os anseios dos mais fortes… Nota-se uma certa conivência e beneplácito dos mais poderosos para com os menos fortes, tornando tudo ‘normal’ e sob a complacência de quem manda, sabe-se lá a troco do quê!

Já não bastava falar da compra-e-venda de jogadores – como se fossem peças dum puzzle mais ou menos articulado – para ainda termos de tolerar esta cultura de mercenário, onde a pessoa se pode reduzir aos meros intentos de quem manda ou que ostenta mais poder…económico e social, pois de desportivo tem muito pouco ou mesmo nada… 

= Outros sim poderemos considerar a prática de mercenarismo – uma espécie de ideologia que percorre o espetro político sem cor clara nem quadro de referência assumido – nas propostas com que certas figuras deambulam nos lugares de poder: umas vezes surgem (quase) no topo da lista candidata; outras vezes escondem-se nos lugares mais subtis, mas prontos a subir à ribalta; nuns casos percebe-se com facilidade quem são e o que pretendem; noutras situações esperam pela hora mais conveniente para aparecerem como substitutos (já) pensados; nalgumas vezes surgem de surpresa, enquanto noutros parecem (quase) morcegos em noite de lua cheia… 

= ‘Roma não paga a traidores’. Eis uma frase eloquente que poderia ilustrar a forma de entendermos alguns posicionamentos de certas figuras (ou figurões) do nosso quotidiano. Com efeito, aquela frase citada ilustra como as forças romanas responderam ao modo com que alguns ‘soldados’ lusitanos mataram, à traição, Viriato, em 139 a.C., derrotando este inimigo de Roma…no espaço daquilo que viria a ser este país que agora somos. De facto, perante a bravura e a intrépida coragem daquele chefe luso, foi preciso aliciar uns certos militares da sua tribo para porem termo à sua vida…em resposta os beneficiados com a perda, os romanos, executaram os facínoras, declarando que não pagavam a quem atraiçoara… 

= No contexto da sociedade em que se vive, mais para o culto da aparência do que para a autenticidade, tanto das palavras, como dos atos, poderemos considerar que aquilo que ontem era mentira, hoje pode ser considerado verdade – este pensamento foi expresso por um homem do futebolês, já retirado de circulação – bem como aquilo que hoje se afirma perentoriamente pode amanhã não passar duma mentira refinada e antítese duma nova conjetura dialética… Deste modo ser mercenário pode parece um bom ofício em que se ganha enquanto se reina e até que seja descoberta a falsidade de comportamento e de vida…encoberta.

Não são estes os critérios e valores que perfilhamos. As pessoas não podem ser usadas em nosso proveito nem enquanto nos convém. A lealdade e a palavra de honra são mais importantes do que os míseros proventos – mesmo que possam ser de milhões – ganhos com enganos e truques de má-fé.

As opções devem merecer a convicção duma vida, independentemente dos resultados, mas nunca à custa de ser mercenário, adulador ou intriguista… Nada paga uma consciência serena, séria e sensata! 

 

António Sílvio Couto




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