Sem
querermos concorrer com o programa televisivo com título idêntico – esse
faz-de-conta que é humorístico e vai dando umas alfinetadas à discrição –
poderemos incluir sob este epíteto alguns dos episódios da nossa vida coletiva…
social, política, desportiva, económica e até religiosa…recente.
= Que
dizer da forma algo sobranceira com que certas figuras vieram clamar vitória
pela não-sanção da União Europeia ao nosso país. Uns reclamavam que era sobre o
desempenho do anterior executivo, que se estava a julgar, logo o que está em
funções ficava com campo de regozijo pelas sanções não-desejadas, mas
expetáveis. Se tivesse havido sanções o atual chefe do governo poderia
continuar a dizer que os anteriores eram, afinal, incompetentes. Se não houve
sanções ele perdeu um bom campo de batalha e vai ter de começar a governar,
pois as recomendações dos comissários europeus querem ver mais serviço e menos
desculpas.
Se
passaram uma espécie de esponja sobre o sofrível trabalho feito pelos anteriores
responsáveis da política económica, quem são os comentadores que acham que o
vencedor é quem ocupa atualmente a cadeira do poder? Nem tudo vale quando se
pretende colher frutos das dissensões partidárias interesseiras e flutuar ao
sabor das invetivas do inquilino de Belém! Quando ele começar a ser verdadeiro ‘Presidente
para todos’, as coisas vão mudar de figura. Basta de protagonismo em excesso!
Vimos
certas figuras até do parlamento europeu a gritarem – de forma um tanto
histérica – contra a capacidade dos que se ocuparam das lides políticas em
terem poder de influência sobre os parceiros ideológicos na Europa. Ora,
sabe-se agora que foram os simpatizantes políticos (isto é, da mesma área do
anterior governo e não da do atual) na Comissão europeia quem tiveram poder e
força para não deixarem que os outros comissários nos castigassem… Diga-se, em
abono a verdade, que há pessoas que nos representam (ou deviam!) lá fora que
preferem a derrota do país à vitória da sua ideologia… hoje como ontem!
Se a vitória
das não-sanções foi tão favorável ao governo da geringonça porque é que o chefe
do governo entregou as lides de se vangloriar a figuras de plano secundário e com
ar ressabiado doutras atribuições governativas… recentemente malfazejas?
Estes
ditos são mesmo ‘donos disto tudo’ e já levam no cortejo uns tantos…
oportunistas e bem posicionados para tarefas de visibilidade, em breve.
= Que
dizer também do desempenho da economia. Tudo parece em paz e sossego. Nota-se
que as contestações laborais estão paradas. Os sindicatos e afins são mesmo os
‘donos disto tudo’, pois conseguem azedar as relações entre as pessoas, desde
que não sejam da sua simpatia… À exceção, por estes dias, da área da saúde tudo
parece ter sido resolvido com algumas indicações dos diretórios mais ou menos
fiéis aos partidos que agora se sentem a governar.
Transportes
terrestes e marítimos, trabalhadores portuários e de navegação aérea,
construção civil e autarquias – entre muitos da lista – estão sem fazerem
ondas.
Não
sabemos se o silêncio foi comprado com melhores salários ou se os aumentos
revertidos conseguem tais milagres… duma paz há muito não vista.
Se
dúvidas houvesse, podemos (quase) concluir que há uns tantos ‘donos disto tudo’
que conseguem calar a razão e nem o menos bom desempenho das exportações cria
qualquer engulho em tanta serenidade. Desde que – à boa maneira romana – o povo
tenha pão e jogos, muito do que era, há bem pouco tempo, essencial foi passado
para outra prioridade.
= Breves
questões para outros ‘donos disto tudo’:
- O
futebol clubístico vai reacender a conflitualidade? Os atritos sociais tornarão
a ser desculpa para que uns se julguem melhores do que os outros? Teremos por
mais tempo algo mais que nos una do que nos divida?
- Até
onde irá a nossa pasmaceira sobre os atentados por essa Europa fora? Temos
valores que possam vencer tais conflitos? Estaremos por quanto tempo
resguardados de tudo isso?
- Com
certos tiques de religiosidade poderemos construir um país mais humano,
fraterno e solidário?
António Sílvio Couto
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