Acabaram
os jogos olímpicos – na dose de atletas ditos ‘normais’ – do Rio de Janeiro:
muitas e diversas modalidades preencheram cerca de três semanas de competições,
houve momentos de alegria e situações de tristeza, sonhos que foram
concretizados e aspirações que se goraram… nalguns casos mais uma vez ou por
pequenas diferenças…
A
delegação portuguesas com mais de uma centena de atletas, treinadores e pessoal
de apoio, quedou-se com uma simples medalha de bronze e diversos diplomas – um
reconhecimento de quem ficou qualificado do quarto ao décimo lugar nas
respetivas provas – num custo que se estima em dezassete milhões de euros… o
que fez alguns considerarem que a dita medalha conseguida no judo terá tido
aquele valor tão exorbitante…
Mais uma
vez – em Londres há quatro anos aconteceu um espectro idêntico – os resultados
ficaram aquém das nossas aspirações, tanto em relação aos atletas como nos
augúrios dos portugueses em geral. Com efeito, a partida da primeira leva de
competidores aconteceu no rescaldo da vitória do europeu de futebol em França.
Por isso, eram expetáveis alguns resultados mais benéficos.
Claro,
que muitos dos que assim desejavam associar-se às vitórias fazem parte da
imensa maioria silenciosa para quem o desporto de alta competição só me mede
pelas vitórias, esquecendo-se das muitas e incontáveis horas de luta e de
sofrimento com que os nossos atletas viveram os últimos quatro anos. Não vimos
os responsáveis cimeiros da governação a virem a terreiro reconhecerem que nem
tudo vai bem quando se perde e se regressa ao país pela porta pequena… Seria
como que desonesto intelectual e politicamente aproveitar-se dos sucessos
alheios para quererem colher dividendos partidários… Será algo que nos deve
envergonhar, quando vemos atrelarem-se às vitórias aqueles que não dão – não
deram e nem darão – condições para que os nossos atletas sejam mais do que
alfinetes de lapela na hora da verdade e dos (pretensos) louros.
= Das
análises já feitas realçam-se os atletas que se consagram de alma-e-coração ao
seu desporto favorito e com isso cativam os mais novos para desenvolverem as
suas faculdades muito para além do futebol ou do atletismo… que já nos deram
reconhecimento internacional. Que dizer da canoagem ou do judo, do ténis de
mesa ou da natação, que na maior parte das vezes – sobretudo nestas modalidades
– é desenvolvida por clubes e associações de âmbito privado, que investem
muitos dos seus recursos ‘fazendo’ estes atletas a quem o Estado devia dar mais
do que esmolas ou prebendas se forem da cor partidária reinante…
= Tal
como noutras áreas – os fogos florestais, as cheias ou os acidentes – não basta
fazer promessas a quente, se depois não se conseguem criar condições mínimas,
exequíveis e amadurecidas, que nos façam programar a médio e longo prazo…
colhendo os frutos com serenidade e correção. Qualquer bom atleta leva bem mais
duma década a cumprir um programa sequente e de (possível) bom sucesso…
incluindo o despertar, o desenvolver e colher frutos… Repare-se na situação de
um jovem nadador que, há oito anos, tirou uma fotografia com o seu ‘ídolo’ ao
tempo e agora, nestes jogos olímpicos, conquistou contra esse mesmo ídolo a
medalha de ouro na competição!
=
Olimpicamente falando Portugal continua a querer colher o que não se semeou e,
se o fez, quer tão rápidos resultados que não podem ser nem sérios nem capazes
de trazer novos praticantes às modalidades vencedoras. É urgente mudar de
mentalidade e refletir sobre que pessoas queremos no futuro próximo.
Agora
que o show se desfez por momentos, esperemos pelos resultados dos jogos
para-olímpicos, pois aí costumamos ganhar mais medalhas e reconhecimento
público… mundial. Também neste setor o investimento estatal é tão ridículo que
não deixará de trazer à liça a fundamental aposta que os privados fazem nesta
matéria.
Agora
que vivemos uma etapa de neo-estatização de tudo e de mais alguma coisa,
queremos deixar aqui um conselho aos governantes: já que fizeram tão pouco, não
se aproveitem das mazelas dos outros, pois eles são para todos nós uma lição de
dedicação, de empenho e de superação… Assim todos o sejamos capazes de
reconhecer!
António Sílvio Couto
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