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quinta-feira, 18 de agosto de 2016

Quando agradecer é diferente de ser grato


Em muitas circunstâncias vemos a ser feito um role de agradecimentos – muitos deles quase que fazendo pairar mais a adulação – as pessoas e entidades que participaram nalguma iniciativa mais ou menos pública ou publicitada…

Quantas vezes por entre os vários citados em agradecimento há pessoas que só fizeram o que deviam fazer, isto é, por obrigação das funções ou dos espaços – públicos ou do setor privado – que ocupam. Neste aspeto agradecer poderá não ser mais do que uma mera redundância quase retórica, pois se se faz o que se deve que merecimento se pode exigir…

Noutras situações como que vemos ainda serem dadas como atitudes de agradecimento aquilo que deveria ser cultivado como bom, necessário e suficiente exercício do dever cumprido. Há momentos em que, quem não criar dificuldades, já estará a ser uma boa ajuda. Será que se lhe deve agradecer, se mais não fez do que situar-se na normalidade do que deve ser uma boa articulação com o que pode e deve ser feito…em benefício do bem comum!

Há, no entanto, ocasiões em que nem sempre o estar a agradecer significa ser grato, pois poderá envolver uma pretensão de querer fazer esquecer os antecessores e como que colhendo louros daquilo para o qual pouco ou nada se teve de intervenção, mas que fazendo agradecimentos de lisonja como que se pretende fazer obnubilar o que antes se fez talvez até melhor…

- Quantas vezes vemos, sobretudo, nas mudanças em paróquias, que, quem chega, como que pretender fazer esquecer – pelo esquecimento ou até pelo melindre – quem antes tentou construir – sabe-se lá com que dificuldade e sofrimento – o que é passado em testemunho… Na simbiose de fé nada é começado do zero e todos temos uma história que deve ser respeitada… humilde e sinceramente. Não podemos ficar presos à nossa impressão, mas temos de saber continuar a tecer os elos dessa grande cadeia de comunhão e de vida! Aqui como noutros aspetos o vedetismo costuma deixar rastilho de má fogueira… em extinção.

- Quantas vezes encontramos uns certos ‘salvadores’ inchados de messianismo barato que tentam fazer crer que só quem com eles é que caminha e se está certo do rumo traçado. Se ainda vamos nesta onda bem depressa ficaremos nas bordas da derrota e muitos vencidos iremos conquistar para uma batalha onde todos saímos a perder. Se não conseguimos perceber a força da convicção na verdade, iremos deixar os locais por onde passamos mais e mais tristes e sem esperança.

- Quantas vezes nos falta a admiração e estupor pelo que Deus faz através dos outros, pois, quase nada está, de verdade, completo, embora ainda muito pouco possa haver a inovar. Se todos fossemos mais aprendizes do recomeçar a caminhada e menos ensinadores do pouco que sabemos, teríamos sempre uma maior capacidade de estarmos atentos àquilo que os outros nos fazem conhecer pela partilha e a sinceridade. Ora, muito para além do princípio de ‘deixarmos o mundo um pouco melhor do que o encontramos’, precisamos de ir aprendendo a crescer pelas mãos uns dos outros, seja qual for a sua cultura ou a idade…

= Ser grato é ter memória para com quem nos antecedeu, sabendo olhar com simplicidade quem Deus põe no nosso caminho e estando sempre atento aos mais diversos sinais com que Deus nos fala agora e no futuro.

A gratidão não se forja nem inventa, mas antes se exercita em cada dia, dizendo continuamente: ‘obrigado’, desde os gestos mais simples até aos mais complexos e difíceis. Assim iremos aprendendo a saber discernir se aquilo que nos agradecem é verdadeiro ou se soa a oco e disfarçado.

Os mais significativos momentos de gratidão acrisolam-se nos meandros da nossa convivência em normalidade de vida, tendo a família como o principal laboratório dessa vivência honesta, desprendida e altruísta. 

Hoje quero ser grato para todos quantos me ajudaram a crescer ao longo da vida, lamentando quem possa ter desejado que lhe agradecesse como pretendia, mas que não teve essa dita… Grato sim; engraxador, não!  

 

António Sílvio Couto 

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