Dá a
impressão que a proliferação de notícias sobre os mais recentes atentados –
terroristas ou de atos de doentes psíquicos, sobretudo na França e na Alemanha
– têm de ter uma outra forma de serem encarados, pois apresentá-los quase em
direto permanente já deu para perceber que não é a melhor forma de precaver
outros… casos e situações.
Num dos
episódios – o de Munique, na Alemanha – houve mesmo uma filtragem das
informações e alguma contensão nas imagens, sendo quase tudo controlado pelas
forças policiais. Noutros casos foi aconselhado a que houvesse o mínimo de
imagens… de tão agressivas que eram.
Poder-se-á
dizer que está instalado o medo – essa arma tão feroz e contundente com que é
fácil vencer os mais afoitos e/ou temerosos – entre as populações e nem a
(pretensa) distância dos acontecimentos nos deixa alguma serenidade ou
consolação.
Não
podemos continuar a viver nesta intoxicação de alguns órgãos de comunicação ou
atos individuais de ‘cidadãos mais atrevidos’ em que por tudo e por nada se
está a difundir o que há de mais macabro ou funesto. Não podemos permitir que
nos queiram vender uma certa exploração dos sentimentos mais suscetíveis da
nossa contingência humana e social. Não podemos querer saber tudo como se
vivêssemos num varandim – de casa ou do écran (televisivo, do computador ou do
tlm) – por onde desfilam as misérias dos outros e nós as vemos como meros
espetadores da sua desgraça!
= As
armas de fogo têm vindo a ser substituídas pelo fogo da perceção de que ninguém
está, à partida, imune a que possa ser notícia – seja qual for a razão ou o
local – pelas mais abjetas razões. Com efeito, a invasão da privacidade deixou
de estar reduzida à periferia da vizinhança para se estender aonde alguém possa
ter acesso à informação, particularmente àquela que possa melindrar ou até
ofender os outros.
Cada vez
mais são precisos critérios éticos para que nos possamos conduzir neste tempo
do ‘vale tudo’. Se à comunicação social se pode e deve exigir que cumpra o
código deontológico, aos muitos particulares que se armam em noticiadores não
parece que se possa ter idêntica capacidade de conduta… senão a de haver
regras, punições e valores, tanto dos intervenientes como das autoridades, se é
que as há, de verdade.
= No quadro
da União Europeia temos urgência em que se criem e ponham a funcionar apertados
critérios de difusão de notícias e imagens que possam não dar de vencida armas
para aqueles que têm vindo a semear o medo, usando as mais díspares armas: de
guerra, de atemorização, de condicionamento… feitas por grupos organizados ou
por atos individuais… com motivações assumidas ou por gestos esporádicos…
atingindo setores da sociedade, organizações públicas ou pessoas indefesas e
sem relação com os objetivos presumidos… sejam quais forem as fronteiras ou até
mesmo as culturas.
Estamos,
hoje, mais do que no passado, todos indistintamente sob a mira de tantas forças
que nos podem condicionar a vida e a sua expressão normal. Será, por isso,
importante saber equilibrar a liberdade com a segurança, deixando que uma e
outra não se excluam, mas antes se equilibrem para o bem-estar de todos.
= Há uma
censura que todos podemos exercer: a de não visionamento ou a de não-tomada de
conhecimento das notícias que nos fazem estar em maior insegurança… interior e
exterior. Isto não significa abstrair-se das coisas, mas antes tentar ainda
viver nalgum equilíbrio para que não sejamos todos engolidos pela ferocidade do
medo e da desconfiança uns nos outros e, possivelmente, de nós mesmos.
Parece
ter chegado a hora de abandonarmos a acusação de que muitos destes
acontecimentos de morte e de terror são só marca da religião, pois em muitos
deles a religião é meramente um fait-divers e não uma razão essencial. Aos que
ainda estão nessa leitura ideológica talvez devam refletir sobre as suas razões
de vida e não tentem encontrar fantasmas do passado para exorcizarem seus
paradigmas já ultrapassados na História e na Cultura.
Cuidemos
do nosso futuro com atitudes de verdade no presente!
António
Sílvio Couto
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