Nos
tempos mais recentes temos sido confrontados com uma razoável inabilidade –
isto é, falta de capacidade, abrangendo a inteligência e/ou a esperteza – de
vários intervenientes, tanto na área política como na vertente social e económica,
incluindo ainda setores onde a decisão sobre as pessoas deixam muito a desejar…
sobretudo nos resultados finais.
Veja-se
o que tem sido feito na área das decisões políticas, onde os atores se têm
tornado numa espécie de ‘notas de rodapé’, quando se deveriam ter assumido como
título em matérias como a fiscalidade, as mudanças do IMI, as viagens pagas por
empresas a governantes para ir ver o futebol, as trocas e devoluções dos gastos
do Presidente da República…Os mais altos responsáveis na matéria estão ‘para
banhos’ e fazem de conta que não é nada com eles, colocando figuras de segunda
linha a ripostar às perguntas e às questões.
Não será
que esta razoável inabilidade em enfrentar os problemas – grandes ou pequenos,
mais visíveis ou escondidos, na capital ou no estrangeiro – reverterá contra os
seus fautores? Ou será que as indicações das (pretensas) sondagens já permitem
uma certa sobranceria de quem já ganhou sem jogar? Até onde irá, por outro
lado, a incapacidade dos opositores em se apresentarem para ser alternativa
credível? Bastará esperar que a geringonça encalhe – sabe-se lá quando ou qual
a possível razão! – para que possam retomar o caminho do poder?
= Os
tempos não estão para cantilenas – para usar um termo dum político autarca
retirado – e as coisas não se resolvem sem decisões. A economia está paralisada
e nem mesmo os dados – sabe-se lá com que credibilidade – do desemprego animam
as hostes. Apesar duma certa pacificação laboral, não podemos crer que tudo
está bem por decreto, pois noutros locais tudo parece pacificado mas o som é de
morte…
Podem
vangloriar-se de não termos sido claramente castigados pela União Europeia, mas
a fatura virá com um saldo bem mais amargo do que aquele que nos têm estado a
vender a retalho. Será de pouca inteligência acreditar que na Europa nos levam
a sério, pois o jeito para fazer contas certas não costuma ser apanágio
dalgumas forças partidárias. Será mera coincidência que os três anteriores pedidos
de ajuda – em 1977, em 1983 e em 2011 – às instâncias internacionais tenham
ocorrido depois dos mesmos terem ocupado o poder? De facto, parece que não
conseguimos aprender com as lições do passado…nem do mais recente, que tanto
nos custou a suportar… depois de – assim pareceu – termos atingido um certo
nível de vida à maneira europeia!
= Não
será preciso ser grande estratega nem tão pouco aprendiz de adivinho para
percebermos que já estamos num plano inclinado que nos irá levar a novo
resgate. De pouco adianta dizerem que não acontecerá, pois as promessas
irreversíveis não poderão continuar a iludir os mais distraídos. Pode o povo –
essa entidade tão celestial quão etérea – andar com mais dinheiro no bolso ou
com o cartão mais recheado, mas bem depressa compreenderá que lhe têm andado a
vender ilusões, muitas delas que serão pagas a peso de sacrifícios a curto e
médio prazos.
O pior
de tudo isto é que não se veem pessoas capazes e competentes para nos falarem
verdade e de nos envolverem na solução dos problemas, pois cada qual se acha
senhor da razão, mas sem categoria para ser credível na forma e no conteúdo.
Uma grande parte ancora as suas ideias (ou serão ideais?) na Constituição da
República, mas esquece-se que essa tal está cheia de tiques ideológicos dum
tempo já ultrapassado e vencido nas mudanças com a ‘queda do muro de Berlim’…
Agora vemos surgirem uns novos pregadores da bonomia do Estado – uns dizem-no
social, outros apelidam-no de protetor e outros ainda de protecionista – desde
que lhes cubra a carreira, os lucros e até o sucesso sem trabalho!
Para uns
tantos a iniciativa privada – essa que paga impostos e faz crescer a economia
real – surge-lhes como algo a abater, mas depois quem suportará tantos
desmandos da governação… Os milhões de trabalhadores não-estatais merecem mais
respeito e cuidado. Não pode uma pequena minoria – cerca de seiscentos e
cinquenta mil – tornar o país refém dum futuro mais sereno… só porque se acham
donos de direitos e desculpados de deveres! Basta de tanta inabilidade!
António
Sílvio Couto
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