Foi
notícia por estes dias que uma fuinha morreu eletrocutada no maior acelerador
de partículas do mundo – designado: large hadron collider (LHC), do conselho
europeu para a pesquisa nuclear, na sigla francesa CERN – nos arredores de
Genebra, Suíça.
O
‘acidente’ ocorreu quando o infausto animal mordeu os cabos ligados a um
transformador de mais de 60 mil volts, causando um curto-circuito no sistema…
Os danos causados pela intrusa levarão, pelo menos uma semana, a serem
reparados, causando grandes prejuízos ao projeto científico em desenvolvimento
e que envolve custos superiores a 7 mil milhões de euros…
Faça-se
o que se desejar para descobrir ‘a partícula de Deus’ – outros dizem de ‘bosão
de Higgs’ – como uma espécie de princípio essencial de tudo quanto conhecemos
até agora… poderemos ir esbarrando com obstáculos nem sempre previsíveis ou
presumíveis…
Então,
como é que uma simples e (quase) inofensiva fuinha pode transtornar o maior e
mais caro projeto científico em curso? Que significado terá mais este percalço
nas investigações? Até onde poderá ir a leitura deste episódio em matéria
científica? Não será que, muitas vezes, pretendemos andar depressa e, por
momentos, temos saber aceitar os insucessos não-previstos?
= Mais
ou menos a nossa sabedoria popular vai gerando a necessidade de sabermos
interpretar os erros, os percalços e os insucessos como modos de sermos (mais
ou menos) corrigidos. Quem não terá já tentado compreender o significado
daquilo que nos faz arrepiar caminho no itinerário que tínhamos traçado? Quem
não teve de recuar – de forma estratégica ou mesmo ocasional – em ordem a
conseguir os seus objetivos honestos e racionais? Quantas vezes uma derrota
hoje nos faz aprender a saber lidar com os erros e as más decisões de ontem e
para uma nova e melhor aprendizagem amanhã?
Digamos
que há (ou pode haver) muitas ‘fuinhas’ – mais psicológicas do que físicas – na
nossa engrenagem de vida, não como dificuldades intransponíveis mas como
degraus a serem percorridos com mais segurança e acerto… depois das barreiras
colocadas.
= Na
convivência social há quem possa considerar que tem de ‘engolir sapos’ – isto é,
comer aquilo de que se não aprecia – quando a contragosto tem de se enfrentar
com algo que, anteriormente, contestou. Há quem faça disso uma espécie de
derrota do seu ego e se sinta incomodado por ter de não conseguir levar a sua
pretensão ao termo que pretendia. Isso como que carateriza uma espécie de
orgulho um tanto disfarçado de humildade, senão mesmo de humilhação. Não é fácil
para quem tenha um culto da ‘sua’ personalidade mais ou menos exaltada, pois
ser-lhe-á um tanto difícil ter de ceder, quando isso pode ser a melhor forma de
‘conquistar’ a consideração dos outros. Os egocêntricos não conseguem lidar bem
com tais derrotas, embora elas sejam o melhor para si mesmo e, sobretudo, para
os outros… pois terão de aprender a saber perder a bem ou pelo menos não tão bem!
= Na
vida político-social mais recente – que alguns até apelidam de estar em ‘paz
social – temos podido ver certos indícios de que bastará a intromissão dalguma
fuinha no sistema para bem depressa algo começar a correr menos bem… A luta
sindical, as reivindicações laborais, as propostas de novos salários, certos
temas fraturantes (éticos ou não), poderão vir a ser as tais fuinhas que podem
fazer colapsar o que tem vindo a construir na descrispação, num certo azedume
ideológico ou noutros assuntos mais profundos, que por agora não interessa
trazer à ribalta…
Em
determinados momentos fica-nos a sensação de algo anda a flutuar e não
conseguimos entender com nitidez o que se pretende que aconteça. Dá a impressão
que certas forças sociais, económicas e político-partidárias escondem qualquer
coisa que lhe poderá ser mais útil em momentos posteriores de crise… Será este discurso
assim encriptado que interessa ao país… cá dentro ou lá fora? Será que uns
certos arranjos de circunstância são favoráveis ou nocivos para a nosso futuro?
Quem fala verdade: as promessas ou os factos?
Precisamos
de estar atentos e vigilantes, pois com facilidade tudo se pode agravar…
rapidamente!
António Sílvio Couto
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