A
recente inauguração e, posterior colocação em funcionamento, do túnel do Marão
trouxe à luz das notícias muitas e diversas observações: extensão – 5,6 Km; faz
a ligação entre Amarante e Vila Real, na A4; quase oito anos de obras (com
algumas interrupções de permeio); portagem – entre 1,95 euros (classe 1) e 4,90
(classe 4); custos globais da obra – 398 milhões de euros… numa comparticipação
de 90 milhões de euros por fundos comunitários; abreviando em trinta e cinco
minutos a viagem entre Porto e Bragança… com um tempo de travessia do túnel em
vinte minutos…
Ao ato
de inauguração estiveram os governantes que lançaram o projeto e o atual chefe
do governo…por sinal do mesmo partido político…tendo-se recusado a estar outro (de
partido diferente) que preencheu o espaço entre ambos…
Só nas
primeiras vinte e quatro horas de abertura à circulação passaram – na maioria
dos casos, disseram alguns dos escutados, por curiosidade – mais de dezoito mil
veículos, pagando as respetivas portagens…
Houve
quem considerasse esta obra pública como a mais importante dos últimos
cinquenta anos em Portugal… só comparável com a travessia do Tejo entre Lisboa
e Almada. Por entre avanços e recuos – no conjunto o tempo de paragem na
construção perfaz quase metade (quatro anos) da execução – se tentou desfazer o
adágio transmontano: para lá do Marão mandam os que lá estão! Tal como noutras
ocasiões houve chavões que pretendiam qualificar esta obra… mas o grande
beneficiado é o público utilizador, que deverá pagar pela sua utilização!
= Esta
obra, para além de significativa pelo investimento e pela nova etapa de
desenvolvimento que traz à região, pode tornar-se algo de simbólico, pois o
maior túnel rodoviário da Península Ibérica como que representa uma opção dos gastos
públicos em Portugal: inserido nas parcerias público-privadas foi engordando
com o passar do tempo e com repercussões nas contas públicas, que tantos custos
têm dado aos contribuintes. De facto, à política do betão-armado tem-se seguido
o prolongamento de projetos que se arrastam no tempo e fazem malbaratar os
impostos de todos… uns pagam e outros usufruem, desejando não pagar o uso dos
benefícios!
É contra
este estado de coisas que sentimos que o túnel do Marão não pode ser engalanado
com discursos de circunstância nem com desfiles de ‘lixos tóxicos’ – um dos
participantes na festa foi assim considerado por outro agora no poder – que
fazem com que possam parecer benfeitores dos negócios alheios. Temos de fazer
um maior escrutínio das decisões dos governantes, fazendo-os assumir as
consequências das suas decisões e não permitindo que sejam ilibados de culpas
quando nos fazem pagar por cada quilómetro do túnel mais de setenta milhões de
euros…
= Esta
obra (quase) faraónica não pode continuar a ser considerada uma pérola do
investimento público, quando outros setores da nossa vida social precisam de
ser atendidos e não relegados para as periferias das decisões governativas.
Incluímos nesta leitura as áreas da educação (ensino e emprego), da saúde (cuidados
e hospitais) e da própria segurança social. E nem a tentativa de fazer
coincidir com os feriados de final de abril ou do princípio de maio, podem
encobrir as más decisões – há quem lhes chame ‘interesseiras’ ou até
ideologizadas – nestes setores com as vistosas festas de autarcas beneficiários
ou as regalias dos que mais contestam ou exigem.
A luz
que já brilhou ao fundo do túnel do Marão não poderá encandear os mais
incautos, que podem ser tentados a ficarem-se nas danças do presidente em
viagem de Estado ou nas declarações ‘ofendidas’ daqueles que não gostam quem
lhes apontem os erros e facilmente se lamuriam por não serem compreendidos nos
pretensos bons propósitos de serviço público… até ver!
O túnel
do Marão continuará a ser uma boa fonte de inspiração para aqueles que querem
ultrapassar as dificuldades, unindo esforços e capacitando todos quantos estão
ao serviço dos outros…agora e no futuro!
António
Sílvio Couto
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