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quarta-feira, 25 de maio de 2016

A vaca que ri, já voa?


Teve tanto de inesperado quanto de caricato o final da apresentação dum programa do atual governo, onde o chefe deste deu à responsável do projeto um artefacto a querer fazer lembrar uma vaca com asas…de borboleta.

Depois do queijo da ‘vaca que ri’ e de tantas outras alusões à vaca, este trouxe à liça uma comunicação a roçar quase o ridículo… agora que precisamos de tratar as coisas sérias a sério.

- Sabemos que nalgumas culturas e religiões há as ‘vacas são sagradas’, isto é, intocáveis e grandemente veneradas…passeando-se incólumes nas ruas. Aquele sinal queria dizer que, no atual contexto político, temos de ter cuidado com as vacas sagradas: intocáveis, veneráveis e incontestadas? Querem-nos fazer mudar de cultura, tendo de aceitar o que eles fazem de forma imutável? Sentir-se-ão eles mesmos tais ‘vacas sagradas’?

- Veja-se as reações com que certos sindicatos – e sindicalistas ‘sagrados’ – se acham na condução dos assuntos de ensino, de transportes, de outros setores da vida produtiva nacional… Se alguém ousa caricaturar seja o que for, logo fazem reverter as suas ações em queixa em tribunal ou com mais contestação… Até quando teremos de ser massacrados com atitudes de gente democrata só para si mesma?

- Repare-se nas palavras dogmáticas de certas figuras da comunicação social – como por exemplo uma tal de constância, cujo nome desmente as suas posições ou dessoutro jornalista que escreve livros porque não lê o que gostava – quase conjugando a expressão ‘nem que a vaca tussa’, terão, em seu entendimento, sempre razão seja qual for a mudança do mundo em que vivem…em desfasamento com aquilo que fazem… Talvez, um dia, ‘o boi espirre’ e, nessa ocasião, hão de perceber os seus tiques de arrogância e malcriadez. 

= Dizem que o símbolo da vaca com asas de borboleta queria significar que não há impossíveis para quem usou aquele adereço de brincar. Com efeito, temos vindo a certificar-nos que, neste país, onde tudo pode ser o seu contrário em breve, bastando que mude quem o pretenda executar, vai-se afundando em muitas ideias e poucas obras dignas de tal epítetos.

Dir-se-á que se pretende governar e falar para entreter quem não entenda o que querem vender-nos como sonho e alguma irrealidade. Isto se pode verificar nas intervenções – diárias, constantes e insistentes – com que o atual inquilino do palácio de Belém anda na roda-viva do seu (nosso) dia-a-dia. Até já consegue estipular para quando vai intervir: só depois das autárquicas, no terceiro trimestre do próximo ano… E, se até lá, algo acontecer que o obrigue a tomar posição? Entraremos no pântano que fez outros demitirem-se? E se as contas do país não corresponderem ao desejado por quem nos observa e controla, iremos andar a patinar na incongruência de quem não consegue dar conta do recado?

Conta-se que São Tomás de Aquino foi sobressaltado por um confrade que lhe foi dizer: irmão Tomás, vem depressa, olha um boi a voar… Ao que o bom do estudioso respondeu: é mais fácil ver um boi a voar do que um frade a mentir!

Também agora e aqui parece ser (mais) possível colocar vacas a voar com asas de borboleta do que serem resolvidos os problemas do país com intenções e jogos de poder, sob um certo controlo ideológico… mais ou menos subtil e suficientemente enganador. 

= No contexto europeu tem vindo a crescer uma nova vaga de contestação – para já nalguns países, mas em breve poderá ser mais abrangente – com especial destaque para a breve decisão britânica de continuar ou sair da UE. Uns preocupam-se com a (dita) extrema-direita, outros lançam suspeita sobre o futuro, uns tantos (eurodeputados e afins) querem os benefícios da integração e não tanto as exigências da participação, mas poucos atendem às movimentações de certas esquerdas mais ou menos sub-reptícias e internacionalistas… Temos de ter em conta que já há mais de seis décadas a Europa tem vivido mais ou menos em paz… à exceção do conflito regional dos Balcãs. Ora isso tem custos e precisa de ser alimentado. Mereceremos esta paz? Até quando?    

 

António Sílvio Couto 




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