Teve tanto de inesperado quanto de caricato o final da apresentação dum
programa do atual governo, onde o chefe deste deu à responsável do projeto um
artefacto a querer fazer lembrar uma vaca com asas…de borboleta.
Depois do queijo da ‘vaca que ri’ e de tantas outras alusões à vaca, este
trouxe à liça uma comunicação a roçar quase o ridículo… agora que precisamos de
tratar as coisas sérias a sério.
- Sabemos que nalgumas culturas e religiões há as ‘vacas são sagradas’,
isto é, intocáveis e grandemente veneradas…passeando-se incólumes nas ruas.
Aquele sinal queria dizer que, no atual contexto político, temos de ter cuidado
com as vacas sagradas: intocáveis, veneráveis e incontestadas? Querem-nos fazer
mudar de cultura, tendo de aceitar o que eles fazem de forma imutável?
Sentir-se-ão eles mesmos tais ‘vacas sagradas’?
- Veja-se as reações com que certos sindicatos – e sindicalistas ‘sagrados’
– se acham na condução dos assuntos de ensino, de transportes, de outros setores
da vida produtiva nacional… Se alguém ousa caricaturar seja o que for, logo
fazem reverter as suas ações em queixa em tribunal ou com mais contestação… Até
quando teremos de ser massacrados com atitudes de gente democrata só para si
mesma?
- Repare-se nas palavras dogmáticas de certas figuras da comunicação social
– como por exemplo uma tal de constância, cujo nome desmente as suas posições
ou dessoutro jornalista que escreve livros porque não lê o que gostava – quase
conjugando a expressão ‘nem que a vaca tussa’, terão, em seu entendimento,
sempre razão seja qual for a mudança do mundo em que vivem…em desfasamento com
aquilo que fazem… Talvez, um dia, ‘o boi espirre’ e, nessa ocasião, hão de
perceber os seus tiques de arrogância e malcriadez.
= Dizem que o símbolo da vaca com asas de borboleta queria significar que
não há impossíveis para quem usou aquele adereço de brincar. Com efeito, temos
vindo a certificar-nos que, neste país, onde tudo pode ser o seu contrário em
breve, bastando que mude quem o pretenda executar, vai-se afundando em muitas ideias
e poucas obras dignas de tal epítetos.
Dir-se-á que se pretende governar e falar para entreter quem não entenda o
que querem vender-nos como sonho e alguma irrealidade. Isto se pode verificar
nas intervenções – diárias, constantes e insistentes – com que o atual
inquilino do palácio de Belém anda na roda-viva do seu (nosso) dia-a-dia. Até
já consegue estipular para quando vai intervir: só depois das autárquicas, no
terceiro trimestre do próximo ano… E, se até lá, algo acontecer que o obrigue a
tomar posição? Entraremos no pântano que fez outros demitirem-se? E se as
contas do país não corresponderem ao desejado por quem nos observa e controla,
iremos andar a patinar na incongruência de quem não consegue dar conta do
recado?
Conta-se que São Tomás de Aquino foi sobressaltado por um confrade que lhe
foi dizer: irmão Tomás, vem depressa, olha um boi a voar… Ao que o bom do
estudioso respondeu: é mais fácil ver um boi a voar do que um frade a mentir!
Também agora e aqui parece ser (mais) possível colocar vacas a voar com
asas de borboleta do que serem resolvidos os problemas do país com intenções e
jogos de poder, sob um certo controlo ideológico… mais ou menos subtil e suficientemente
enganador.
= No contexto europeu tem vindo a crescer uma nova vaga de contestação –
para já nalguns países, mas em breve poderá ser mais abrangente – com especial
destaque para a breve decisão britânica de continuar ou sair da UE. Uns
preocupam-se com a (dita) extrema-direita, outros lançam suspeita sobre o
futuro, uns tantos (eurodeputados e afins) querem os benefícios da integração e
não tanto as exigências da participação, mas poucos atendem às movimentações de
certas esquerdas mais ou menos sub-reptícias e internacionalistas… Temos de ter
em conta que já há mais de seis décadas a Europa tem vivido mais ou menos em
paz… à exceção do conflito regional dos Balcãs. Ora isso tem custos e precisa
de ser alimentado. Mereceremos esta paz? Até quando?
António
Sílvio Couto
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